Após cinco meses de campanha e em ambiente de tensão crescente no partido, o PSDB realiza neste domingo (21) sua primeira prévia para escolha do candidato à Presidência. Às vésperas da votação, a troca de farpas entre os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP) ameaça comprometer a coesão na eleição de 2022. O terceiro competidor, Arthur Virgílio, é mero coadjuvante e não tem chances de vitória.
Preocupada com a divisão interna e o súbito crescimento da candidatura do ex-juiz Sergio Moro no vácuo do mesmo campo político, a cúpula tucana espera que a disputa seja concluída no domingo, sem necessidade de segundo turno. Para tanto, organizou um grande evento em Brasília, onde são esperados 700 mandatários. O objetivo é fazer da prévia uma plataforma de visibilidade ao vencedor. Com índices inferiores a 5% na pesquisas eleitorais, Doria e Leite lutam para mostrar competividade e condições de atrair alianças robustas.
Todavia, até agora a competição entre ambos se resume à desconstrução do rival. Na quinta-feira, após onda de ataques nas redes sociais por supostamente ter pedido a Doria o adiamento da vacinação contra covid-19 para que a imunização fosse coordenada pelo governo federal, Leite convocou a imprensa para tentar estancar o desgaste. Enquanto seus aliados atribuíam a Doria a criação do boato, Leite acusou o adversário de usar a vacina como dividendo político.
— O uso político e eleitoral da vacina é indevido, injusto, imoral, oportunista, antiético e mesquinho. Nitidamente está vinculado a uma perspectiva de vitória na prévia do PSDB — atacou.
Doria evitou explorar o assunto em debate e entrevistas. No mesmo dia, porém, minimizou a propagada capacidade conciliatória de Leite.
— Prefiro acreditar que o Brasil desejará eleger um líder que seja transformador, não alguém conveniente. O Brasil não elegerá um fraco para a Presidência — disparou.
Com o acirramento dos ânimos, emissários de Leite e Doria passam horas ao telefone, buscando assegurar a lealdade de simpatizantes e tentando virar votos. Embora tenha 1,3 milhão de filiados no país, o partido terá apenas 44,7 mil eleitores nas prévias (3% do total). Esse foi o contingente que se cadastrou no aplicativo desenvolvido para a eleição e está apto a votar.
Para equilibrar a disputa diante da concentração massiva dos tucanos em São Paulo, reduto de Doria, a direção do PSDB dividiu os eleitores em quatro grupos (filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; governadores, vices, deputados federais, senadores e ex-presidentes nacionais). Cada grupo terá 25% do peso no cômputo geral dos votos (veja quadro).
Doria tem amplo favoritismo entre os filiados e, no esforço para cadastramento, conseguiu fazer São Paulo atingir a marca de 62% do total de eleitores. Leite dá como certa a derrota entre a militância, mas compensa a desvantagem angariando apoio na cúpula partidária. No chamado grupão, ele projeta maioria entre governadores, vices, congressistas e ex-presidentes nacionais da sigla. Estimativas apontam para um placar de 28 a 21 a favor do gaúcho no núcleo considerado o mais influente.
Na tentativa de reverter esse quadro, Doria tem se empenhado em virar votos, dando de 30 a 40 telefonemas diários. Persuasivo, atraiu o deputado federal Valdir Rossoni (PR) e o senador licenciado José Serra (SP). Já Leite conquistou o apoio de Eduardo Cury, única defecção na bancada federal por São Paulo, além da ala ligada ao ex-governador Geraldo Alckmin, prestes a sair do partido.
Com a votação indefinida, Leite e Doria agora miram nos grupos que podem ser decisivos: prefeitos, vices, vereadores e deputados estaduais. Doria alardeia vitória justificando que São Paulo concentra um terço das 600 prefeituras do PSDB no país. Já Leite rebate sustentando ter apoio formal de 10 diretórios estaduais. Esse nicho é o mais assediado nos últimos dias por aliados em ambos os lados, sobretudo por causa da preocupação com a formalização do voto.
Nos dois comitês há temor de que o sistema de segurança do aplicativo, que exige autenticação em duas etapas, inclusive com reconhecimento facial, afaste os eleitores. Outro receio é o de traições, facilitadas pelo sigilo do voto.
Foi para instigar esse sentimento que Doria circulou pelo Rio Grande do Sul na terça-feira (16), ciceroneado pela ex-governadora Yeda Crusius. Leite revidou promovendo o ato final da campanha no Maksoud Plaza, em São Paulo, na sexta-feira. Às 17h de domingo, horário previsto para a proclamação do resultado, eles estarão no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Seja qual for o vencedor, haverá pouco tempo para celebrar o triunfo. Com Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva polarizando a eleição e Moro assumindo o protagonismo da terceira via, o tucano que emergir da prévia precisará mostrar vigor eleitoral e conter uma debandada que ameaça tirar do PSDB 15 dos 34 deputados federais na próxima janela partidária.
Prévias do PSDB
O PSDB realiza domingo (21) sua primeira prévia nacional para escolha do candidato à Presidência da República. Os 44,7 mil filiados cadastrados deverão votar via aplicativo desenvolvido especialmente para a ocasião. Em Brasília, o partido irá reunir cerca de 700 mandatários (governadores, prefeitos, vices, senadores, deputados e ex-presidentes da executiva nacional). Esse grupo poderá votar no local, em urnas eletrônicas cedidas pela Justiça Eleitoral.
Os três pré-candidatos, Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria estarão no local, acompanhando o processo eleitoral. A votação terá início às 8h e se encerra às 15h. A expectativa do partido é divulgar o resultado por volta das 17h. Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta dos votos, um segundo turno está previsto para 28 de novembro.
Serviço
- Quando: domingo (21)
- Onde: Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília
- Votação: das 8h às 15h, via aplicativo
- Resultado: expectativa de anúncio a partir das 17h