Às vésperas das prévias presidenciais do PSDB, que ocorrem neste domingo (21), o nome do governador Eduardo Leite se viu em meio a uma polêmica que o deixou entre os temas mais comentados nas redes sociais nesta quarta-feira (17). Em entrevista concedida à Folha de S. Paulo, Leite revelou que, em 15 de janeiro, telefonou ao governador paulista, João Doria, a pedido do general Luiz Eduardo Ramos (chefe da Casa Civil à época). Na ligação, conforme o texto publicado pela Folha, Leite teria tentado convencer o governador paulista a adiar o início da vacinação contra a covid-19 em seu Estado, em nome de uma coordenação nacional encabeçada pelo governo federal.
— Houve uma conversa nessa direção, não foi um pedido de intervenção, mas um pedido de reflexão. Talvez tivesse sido positivo ao país que se fizesse um esforço de coordenação e engajamento, já que era uma questão nacional. Mas é um episódio superado — disse Leite à Folha.
A ligação foi confirmada também por Doria. Questionado pelo colunista de O Globo Lauro Jardim sobre qual teria sido sua resposta a Leite, o governador paulista afirmou que teria lamentado a postura do colega de partido:
— Lamento, Eduardo, que você tenha se prestado a atender um pedido dessa natureza do general Ramos. Diga a ele que vamos iniciar a vacinação tão logo a Anvisa autorize a utilização da CoronaVac. E que eu estou ao lado da vida e dos brasileiros — citou Doria.
Dois dias após a ligação, em 17 de janeiro, a Anvisa aprovou as vacinas CoronaVac e AstraZeneca, dando início à campanha nacional de imunização contra o coronavírus, em São Paulo, com Doria ao lado da primeira vacinada.
Diante da repercussão nas redes sociais, Leite negou que tenha solicitado o adiamento da vacinação, embora admita que foi contatado pelo general. O governador gaúcho caracterizou o fato como uma “tentativa de factoide” para politizar a vacinação dias antes das prévias do partido, disputadas por Leite, Doria e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
Confira a nota que a assessoria de Leite enviou a Lauro Jardim
"A conversa entre os dois deu-se num contexto que deve ser colocado em janeiro de 2021. O eixo da conversa era coordenação nacional de vacinação. Naquele dia, o general Ramos ligou para Eduardo e pediu que convencesse Doria a aderir ao projeto de coordenação nacional da vacina. Naquele momento, havia uma inflexão do governo federal quanto a aceitar a vacinação ampla. Leite ligou para Doria para debater como os dois conduziriam esta questão. Privilegiariam a coordenação nacional num momento em que o governo federal assumira o compromisso de vacinar, ou trabalhariam sem ela? Doria rechaçou a coordenação nacional e disse que iria conquistar, a qualquer custo, a aplicação da primeira vacina. Leite questionou se isso seria seguro para a população - valia a pena sacrificar a ideia da coordenação nacional? Doria respondeu: 'Eu vou aplicar a primeira vacina, custe o que custar.' Leite, então, desistiu de continuar a conversa".