A repercussão nas redes sociais da acusação de que teria pedido ao colega João Doria o adiamento da vacinação contra a covid-19 levou o governador Eduardo Leite a organizar uma entrevista coletiva para desmentir o que ele chama de fake news e factoide. Leite confirmou ter recebido um telefonema do general Eduardo Ramos no domingo em que a Anvisa aprovou o uso emergencial das primeiras vacinas, pedindo que tentasse demover Doria da ideia de vacinar a primeira pessoa naquele dia:
— Eu jamais pediria para adiar a vacinação. Naquele momento, nós tínhamos de um lado o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro e do uso político exagerado da vacina. Tentei evitar que tivéssemos um impasse capaz de comprometer a vacinação em todo o país. Minha preocupação era como politicamente poderia conciliar o governo de São Paulo, que tem todo o mérito do acordo do Butantan, com o governo federal que pagou as vacinas.
Na versão do governador gaúcho, depois de ouvir de Doria que não suspenderia o ato organizado para aquele dia, por ter sido quem lutou pela vacina, ao fazer o acordo com o Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, entendeu as razões do colega e deu o assunto por encerrado. Leite diz que atuou como conciliador, temendo “um estressamento das relações”, que poderia colocar a vacinação em risco.
Para provar que não pediu o adiamento e que sempre foi defensor da vacina, Leite começou a entrevista lendo um tuíte do dia 19 de janeiro deste ano em que escreveu: “De tão forte, é quase que tangível a mudança no ânimo das pessoas com o início da vacinação no Brasil. Escancara o imenso valor da ciência, da pesquisa e dos institutos como o @butantanoficial, bem como das parcerias internacionais como a feita pela obstinação do Gov @jdoriajr”.
Leite atribuiu a repercussão nas redes sociais à disputa eleitoral, tanto na prévia do PSDB quanto na eleição propriamente dita, já que está sendo atacado tanto por aliados de Doria como por petistas que, na sua avaliação, não querem que um candidato da terceira via se viabilize porque preferem um segundo turno entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro.
— O uso político e eleitoral da vacina é indevido, injusto, imoral, oportunista, antiético e mesquinho. Nitidamente está vinculado a uma perspectiva de vitória na prévia do PSDB e ao fato de eu ter a menor rejeição — disse Leite, lembrando que a consultoria Eurásia o aponta como favorito na disputa com Doria.
O governador lembrou que o Rio Grande do Sul sempre esteve entre os Estados mais adiantados na vacinação e foi reconhecido pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea) como o primeiro do país na incorporação de evidências científicas para o enfrentamento da pandemia. Disse também que conversou com diferentes laboratórios para tentar comprar a vacina, mas as farmacêuticas deram preferência à União.