Diante da polêmica em que se envolveu na quarta-feira (17), o governador do Estado Eduardo Leite negou, nesta quinta-feira (18), que tenha tentado convencer o governador paulista João Doria a adiar o início da vacinação contra a covid-19 em São Paulo. O telefonema para Doria foi feito em janeiro, e o pedido teria sido feito em nome de uma coordenação nacional encabeçada pelo governo federal, que previa que a imunização começasse de forma simultânea nos Estados.
O diálogo foi relevado por Leite em entrevista concedida à Folha de S. Paulo, e deixou o governador gaúcho entre os assuntos mais comentados nas redes sociais.
Para Leite, a repercussão do caso tenta politizar a vacinação contra o coronavírus dias antes das prévias do PSDB, em que o governador gaúcho compete no partido com Doria e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
— Nunca pedi nem pediria adiamento da vacinação, não faz nenhum sentido isso. É a clara exploração política em um momento decisivo das prévias (presidenciais do PSDB). O Rio Grande do Sul sempre foi um dos que mais vacinou. O estudo do Ipea comprova que somos um Estado que se destaca pelo uso das evidências, dos dados, pelo respeito à ciência. Nunca pedi o adiamento — disse Leite durante o evento de formatura de novos soldados da Brigada Militar, na manhã desta quinta, em Porto Alegre.
Conforme Leite, ele teria contatado Doria a pedido do general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil à época. Ramos ponderou que todos os Estados deveriam iniciar a vacinação de forma conjunta, segundo Leite.
— É bom lembrar o contexto em que a gente vivia naquele momento. O uso excessivo politicamente da vacina comprometia a coordenação nacional. Nós estávamos a cada momento com idas e vindas sobre a vacinação por conta desse desacerto entre o governo federal e o governo de São Paulo. Isso comprometia e colocava todos nós sob o risco, o medo de que a coordenação nacional fosse afetada, para que todos os Estados pudessem ter a vacinação.
Diante da negativa de Doria, Leite afirma aqui entendeu e "deu razão" ao governador paulista para que iniciasse a imunização. Dois dias após a ligação, em 17 de janeiro, a Anvisa aprovou as vacinas CoronaVac e AstraZeneca, dando início à campanha nacional de imunização contra o coronavírus, em São Paulo, com Doria ao lado da primeira vacinada.
— Liguei ao governador Doria, comentei com ele sobre a ligação que recebi (de Ramos) e inclusive dei razão que ele desse início a vacinação. Jamais pediria que se adiasse a vacinação em respeito à vida, a ciência, que sempre foi nossa prioridade no RS — finalizou.
A ligação entre os políticos foi confirmada também por Doria. Questionado pelo colunista de O Globo Lauro Jardim sobre qual teria sido sua resposta a Leite, o governador paulista afirmou que teria lamentado a postura do colega de partido.