A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) transformou o entorno da Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba em um palanque a céu aberto. Várias vezes ao dia, políticos, dirigentes sindicais, lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e militantes realizam atos junto à linha que delimita a proibição de acesso às proximidades da PF.
Nesta terça-feira está prevista a chegada de 10 governadores de partidos de esquerda, entre eles Fernando Pimentel (PT-MG), Flávio Dino (PC do B-MA) e Rui Costa (PT-BA). Eles pretendem se reunir com Lula na cadeia, mas as regras da carceragem não permitem visitas de políticos. O presidente do PDT, Carlos Lupi e o pré-candidato da sigla à Presidência, Ciro Gomes, também anunciaram intenção de estar com Lula em Curitiba. De acordo com um dos agentes envolvidos na custódia do petista, reuniões de caráter político-partidária somente serão liberadas com autorização do juiz Sergio Moro.
Antevendo longa permanência do ex-presidente em Curitiba, a direção nacional do PT decidiu transferir provisoriamente a sede do partido para a capital paranaense. Nesta segunda-feira, a cúpula da legenda realizou assembleia na cidade para reafirmar a candidatura de Lula ao Planalto.
Mais cedo, um tumulto envolvendo parlamentares e um simpatizante do deputado e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) elevou a tensão no entorno da PF. A deputada estadual Manuela D’Ávila (PC do B-RS) atendia a militantes quando um homem se aproximou e pediu para tirar uma fotografia.
Ele colocou o braço sobre o ombro da deputada e gritou: “Aqui é Bolsonaro. Chupa!”. Rindo e gravando com o celular, o provocador se afastou e foi retirado do local por policiais militares. Militantes petistas e do MST reagiram, mas foram contidos por membros do próprio acampamento Lula Livre.
Manuela exigiu a pronta identificação do rapaz e esclarecimentos sobre como ele conseguiu furar o bloqueio da PM nos quarteirões ao redor da PF. Apenas parlamentares, jornalistas em moradores têm acesso liberado à região.
Ao lado do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e do deputado Paulo Pimenta, Manuela foi até o prédio da PF, alegando que houve agressão e pedindo investigação. Eles foram orientados a formalizar a denúncia. Segundo a PM, o rapaz foi liberado porque não cometeu nenhum crime.
– É um absurdo. Ele não iria vir até onde eu estava e gritar por Bolsonaro se não tivesse certeza que poderia voltar (para a área guarnecida pela PM) – desabafou Manuela.
Além da presidenciável do PC do B, os atos políticos realizados no quarteirão da PF reuniram nesta segunda-feira o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, e parlamentares petistas. Eles pediram a liberdade do ex-presidente e disseram que o acampamento permanecerá montado do lado de fora da PF até a soltura do petista. No microfone, falavam diretamente a Lula, na esperança de que consiga ouvir as manifestações.
Moro teria dado ultimato sobre vazamento de imagens
Dentro do prédio, o petista segue tranquilo, segundo um dos agentes. Recebeu uma mala com roupas de um advogado e passa o tempo assistindo TV. Como leitura de cabeceira, o petista tem consigo A Elite do Atraso, do sociólogo Jessé Souza, que aponta as raízes da desigualdade brasileira como resultado da tradição escravocrata do país. Pela manhã, um entregador deixou na recepção do edifício uma caixa branca com rosas vermelhas enviada do Rio de Janeiro para o ex-presidente, mas não revelou o remetente.
A PF está preocupada em garantir os banhos de sol de Lula, mas estuda a melhor maneira de retirá-lo da sala onde está detido sem expô-lo às lentes dos cinegrafistas e fotógrafos que permanecem de plantão do lado de fora do prédio. Fontes da força federal afirmam que Moro teria dado ultimato:
– Se vazar uma imagem dele (Lula) na SR (Superintendência Regional), vou para cima de vocês.
A primeira visita dos familiares também terá de ser adiada para quinta ou sexta-feira, para não coincidir com o dia normal dedicado aos demais presos.
O PT organiza esta semana agenda internacional de eventos para denunciar a prisão de Lula. Manuela estará quarta e quinta-feira no Uruguai e na Argentina, a ex-presidente Dilma Rousseff está na Espanha e o pré-candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, tem viagem agendada para Portugal.