Sábado, 19 de abril de 1980. Às 6h30min, policiais federais chegaram pela primeira vez à casa de Luiz Inácio Lula da Silva. Os agentes se aproximam do portão e bradam:
— Senhor Luiz Inácio! Senhor Luiz Inácio. Lei de Segurança Nacional!
À época, Lula presidia o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e foi preso por subversão ao liderar greves operárias que sacudiram o país.
Sábado, 7 de abril de 2018. Às 22h28min, o petista chega de helicóptero à Superintendência da Polícia Federal (PF) de Curitiba. Trinta e oito anos depois, ele volta ao cárcere, agora condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Lula desembarcou no terraço do prédio. Escoltado, desceu as escadas da área externa até o terceiro andar, onde começa a cumprir a pena de 12 anos e um mês de prisão.
Réu de maior expressão da Lava-Jato, ele ficará no mesmo prédio de outras figuras ilustres sentenciadas na operação, como os outrora aliados Antonio Palocci, ministro da Fazenda e Casa Civil nos governos petistas, e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Também cumpre pena na superintendência o ex-presidente da construtora OAS Leo Pinheiro, cujos depoimentos sobre os R$ 2,4 milhões em propina atribuídos a Lula na aquisição e reforma do triplex do Guarujá foram fundamentais para o veredito condenatório do juiz Sergio Moro.
Lula se entregou à PF no fim da tarde, após mais de 40 horas aquartelado no sindicato que lhe guindou à política. Enquanto negociava os termos de rendição, seus advogados esperavam pela derradeira tentativa de lhe assegurar a liberdade: um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal. O pedido foi negado pelo ministro Edson Fachin, deixando o ex-presidente numa encruzilhada: se entregar pacificamente ou resistir e aguardar uma operação de captura da PF.
Lula optou pela rendição. Após receber ordem de prisão na sede da PF em São Paulo, onde passou por exame de corpo de delito, foi levado em um turboélice modelo Cessna 208B Gran Caravan até o aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba, e fez o último percurso de helicóptero. O embarque do ex-presidente foi comemorado no entorno da Polícia Federal por manifestantes anti-PT.
A Polícia Militar isolou os grupos antagônicos que estavam ao redor do prédio. Enquanto os militantes petistas ocupavam a entrada da superintendência, os opositores de Lula ficaram mais próximo dos fundos, separados por viaturas e soldados. Um contingente de 300 homens foi empregado na operação. Outros 450 estavam de sobreaviso e poderiam ser acionados a qualquer momento.
Pela manhã, pelo menos dois ativistas anti-PT foram hostilizados enquanto gravavam vídeos em meio à militância de esquerda. O músico Éder Borges, filiado ao PSL, teve o celular quebrado e levou chutes nas pernas e tapas na cabeça antes de ser expulso do local. Um pouco mais tarde, outro manifestante com uma bandeira do Brasil sobre os ombros levou uma cusparada no rosto e foi retirado pelos PMs. Houve intimidações a jornalistas, que foram alvo de ovos e xingamentos.
Dentro do prédio, o efetivo da PF foi reforçado, inclusive com emprego de agentes do Grupo de Pronta Intervenção, destacamento treinado para situações de alto risco.
A partir de agora, o presidente que foi recepcionado com honrarias nos mais luxuosos palácios do mundo irá passar os dias em uma sala de três metros de largura por cinco metros de comprimento, com janelas gradeadas e guarda 24 horas na porta. Há uma cama de solteiro, uma mesa e banheiro com chuveiro elétrico. Não há TV, tampouco frigobar. Lula terá de comer as quentinhas servidas aos demais presos e só poderá receber frutas da família. Visitas, só às quartas-feiras e restritas aos filhos. Banhos de sol, limitados a duas horas por dia somente a partir de 17 de abril.
Na segunda-feira começa a contar prazo de 15 dias para a defesa ingressar com recurso especial no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e recurso extraordinário no STF. Em 1980 o crime de Lula era político, a acusação partia de um regime de exceção e por fim sua condenação a três anos e meio de prisão acabou anulada pelo Superior Tribunal Militar. Desta vez, Lula já teve a sentença confirmada em segunda instância e é réu em outras sete ações penais.
Serão dias difíceis para o líder sindical que, fundador do PT e eleito duas vezes presidente da República, deixou o Palácio do Planalto ostentando índices recordes de aprovação popular.
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