Neste sábado (7), um grupo de militantes cercou e insultou o repórter Pedro Duran, da Rádio CBN, da Rede Globo, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra desde quinta-feira (5). Grades foram atiradas contra o jornalista, que teve que ser protegido pelo deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) e por seguranças. Duran foi colocado em um elevador para se refugiar. Um repórter do jornal O Estado de S.Paulo também foi agredido por um apoiador de Lula enquanto apurava informações.
Os líderes da CUT e do MTST, Vagner Freitas e Guilherme Boulos, tentaram acalmar os manifestantes, mas o clima é tenso no local.
O repórter chegou com identificação de imprensa da CBN pela porta do estacionamento. Estava rodeado de vários outros jornalistas sem identificação. A multidão começou a gritar palavras de ordem contra a Rede Globo e se deslocou atrás do repórter.
Zarattini conseguiu se colocar no meio antes que eles chegassem até o repórter. Houve empurra-empurra e ele foi levado até a parte de acesso restrito. Seguranças dizem que o removeram do prédio.
Na tarde deste sábado (7) a repórter da BandNews FM Gabriela Mayer foi agredida por uma militante na porta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. De acordo com a empresa, uma mulher deu um tapa na barriga dela e tentou tirar o celular das suas mãos.
Jornalistas da RedeTV também relataram agressões e hostilidades perto do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
As agressões a jornalistas têm sido recorrentes nas manifestações contra a prisão de Lula. Houve registros em São Bernardo e em Brasília. Um carro do Correio Braziliense foi apedrejado na capital federal e um fotógrafo do Estado foi atingido por ovos na cidade do ABC paulista.
Agressões na sexta-feira
Na sexta-feira, em um protesto em Brasília na frente da sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF) , os vidros do carro do Correio Braziliense foram quebrados e profissionais, xingados. Um fotógrafo da agência Reuters que registrava o protesto também foi hostilizado. Em São Paulo, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, localizado em São Bernardo do Campo, o alvo foi o fotógrafo Nilson Fukuda, da agência Estadão Conteúdo, atingido por ovos.
Duas repórteres, uma da Bandeirantes e outra do SBT, foram hostilizadas com gritos de "golpistas" enquanto passavam seus boletins no terceiro andar da sede do sindicato, onde a imprensa está posicionada desde a noite de quinta. Na noite de sexta-feira, a repórter da Band TV Sonia Blota afirmou que recebeu uma ovada de militantes do PT.
De acordo com o texto escrito em conjunto pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e Associação Nacional de Jornais (ANJ), os ataques são frutos da "incapacidade de compreender a atividade jornalística".
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) reitera as denúncias feitas em pronunciamento conjunto pelas outras entidades que condenaram a violência e os atos que violam a liberdade de imprensa e os direitos dos cidadãos brasileiros a receber informações. A SIP afirma estar alerta para esses incidentes de violência e os incluirá entre os temas que serão debatidos durante sua reunião na semana que vem em Medellín, na Colômbia, e na qual se discutirá a situação da liberdade de imprensa no continente
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também se posicionou contrária à violência cometida contra os profissionais de comunicação. "A violência contra profissionais da imprensa é inaceitável em qualquer contexto. Impedir jornalistas de exerceu seu ofício é atentar contra a democracia. Os autores devem ser identificados e punidos pelas autoridades", diz a nota da Abraji.
Leia, na íntegra, a nota emitida pela ABERT, ANER e ANJ:
"A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiam com veemência as agressões e hostilidades ocorridas desde a noite desta quinta-feira (5) contra jornalistas que trabalham na cobertura dos eventos relacionados à decretação da prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atividade jornalística, que é a de levar informação aos cidadãos. Além de atentar contra a integridade física dos jornalistas, os agressores atacam o direito da sociedade de ser livremente informada.
A ABERT, a ANER e a ANJ se solidarizam com os profissionais e as empresas vítimas das agressões e hostilidades e esperam e esperam que todos os fatos sejam apurados pelas autoridades responsáveis, com a punição dos agressores, nos termos da lei.
A liberdade de imprensa e o direito à informação são básicos nas sociedades democráticas, e estão sendo desrespeitados pelo autoritarismo dos agressores. Todos aqueles que prezam a democracia precisam se colocar contra esses lamentáveis episódios e se mobilizar para que não voltem a ocorrer. Sem jornalismo, não ha democracia".