O É isso mesmo?, mecanismo de checagem de GZH, atua mais uma vez na cobertura eleitoral. Nas eleições 2022, ganha o reforço dos repórteres do Grupo de Investigação da RBS (GDI), que conferem a veracidade e precisão de informações citadas pelos candidatos ao governo do Rio Grande do Sul, no debate realizado pela Rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira (14). Não são levadas em conta na checagem declarações de cunho opinativo. Você pode assistir à íntegra do debate no player de vídeo abaixo.
Participaram do debate os candidatos Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB), que disputam o segundo turno da eleição para governador do RS.
Confira, abaixo, declarações checadas pelos jornalistas Carlos Rollsing, Eduardo Matos, Isabella Sander, Jocimar Farina, Marcelo Gonzatto e Rafael Vigna, com apoio do editor Marcelo Miranda Becker. As frases estão separadas por cada um dos candidatos, apresentados em ordem alfabética.
Correções
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14/10/2022 - 17h14min
É incorreto afirmar que a prática de caixa 2 não é considerada um crime eleitoral, como informado nesta reportagem entre 11h28min e 14h11min de 14/10/2022. Durante o período mencionado, o texto atribuiu incorretamente a classificação "Não é bem assim" à seguinte frase do candidato Eduardo Leite: "Quem tem problemas com contas é o senhor (Onyx Lorenzoni), que fez um acordo com o Ministério Público Federal para poder se livrar de um processo por crime de caixa 2". Às 14h11min, o trecho foi retirado da reportagem para nova checagem, e novamente incluído às 17h14min, com as devidas correções, passando a exibir a classificação "É Verdade".
15/10/2022 - 16h54min
Entre 11h45min e 21h14min de 14/10/2022, esta reportagem apontou posições incorretas ocupadas pelo Rio Grande do Sul no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019 e de 2021, na checagem de uma das falas do candidato Eduardo Leite. O texto foi corrigido.
Assista à íntegra do debate
Eduardo Leite (PSDB)
Não há uma dívida maior de R$ 1 bilhão do IPE Saúde (valor citado por Onyx Lorenzoni). O IPE Saúde tem a pagar R$ 870 milhões. Desses 870, o contrato do IPE Saúde é para pagamentos até 60 dias. Acima de 60 dias de pagamentos, é de R$ 360 milhões. Ou seja, o que há fora do prazo contratual são R$ 360 milhões. Muito distante do mais de R$ 1 bilhão.
É verdade
O contrato assinado pelo IPE Saúde com os hospitais prestadores de serviço determina que, após a realização de um atendimento clínico ou hospitalar, o instituto tem prazo de 60 dias para fazer o pagamento. Despesas que estiverem dentro dessa janela temporal não são consideradas em atraso. Aquelas que ultrapassam os 60 dias começam a ser identificadas como passivo, ou seja, conta vencida. Dados do dia 7 de outubro de 2022 indicaram que o montante de gastos em aberto é de R$ 870 milhões, dos quais R$ 360 milhões estão vencidos por terem ultrapassado o prazo de quitação de 60 dias. A quantia de R$ 510 milhões refere-se a serviços já prestados, mas que ainda estão dentro do prazo de pagamento.
Muitas obras estão paralisadas aqui (no RS) por falta de recursos federais. Então, a gente coloca recursos do governo do Estado para complementar e garantir a conclusão de milhares de unidades habitacionais. São R$ 20 milhões que a gente aportou para conclusão de empreendimentos habitacionais.
É verdade
O candidato acerta quando cita os valores investidos recentemente. Segundo a Secretaria Estadual de Obras e Habitação, R$ 19,9 milhões foram repassados para o programa de habitação entre abril e junho de 2022. O recurso, que saiu do caixa do Estado, foi usado na conclusão de 3.951 unidades habitacionais, que beneficiaram mais de 15.800 pessoas em Campo Bom, Gravataí, Nova Santa Rita, Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande e Viamão. A promessa sobre esse investimento havia sido feita em 27 de janeiro deste ano, quando foi anunciada uma série de ações dentro do programa Avançar nas Obras e Habitação.
Os servidores ficaram 57 meses sem conseguir receber os seus salários em dia.
É verdade
Em 2015, enquanto se agravava a crise financeira do Estado, os funcionários públicos receberam salários atrasados em julho e agosto. No restante do ano, os pagamentos foram feitos em dia. Os atrasos, contudo, voltaram no ano seguinte e tiveram prolongamento. Os contracheques deixaram de ser quitados em dia em fevereiro de 2016. Essa situação se estendeu até outubro de 2020. Foram 57 meses ininterruptos de salários atrasados para o funcionalismo do Rio Grande do Sul, quase cinco anos. Em novembro de 2020, com a crise das finanças públicas arrefecida, os contracheques voltaram a ser honrados em dia, situação que se mantém até os dias atuais.
Para poder fazer o acesso asfáltico de Palmitinho a Pinheirinho do Vale custa dinheiro. Para a gente poder fazer uma ligação regional, como estamos fazendo, para escoamento da safra de soja na região central do Estado, entre Tupanciretã e Santa Tecla, custa dinheiro. Para poder fazer acesso asfáltico aos municípios custa muito dinheiro. Então a gente está fazendo um investimento de R$ 2 bilhões no Estado, neste momento, graças ao equilíbrio das contas.
É verdade
O candidato fala a verdade quando analisa os investimentos feitos em estradas na sua gestão. De acordo com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), em 2019, no primeiro ano do governo Leite, o total de investimento em rodovias da autarquia foi de R$ 234 milhões; em 2020, foi de R$ 237 milhões. Entre 2021 e 2022, foi liberado mais R$ 1,6 bilhão. Somados, os investimentos chegam a R$ 2,07 bilhões.
Investimentos em estradas, segundo o Daer:
2019: R$ 234 milhões
2020: R$ 237 milhões
2021 e 2022: R$ 1,6 bilhão
Total: R$ 2,07 bilhões
O Rio Grande do Sul é o Estado que tem o menor indicador de excesso de óbitos, que é o que mede efetivamente quantas mortes aconteceram a mais do que era esperado em função da pandemia. É o menor do Brasil este indicador.
É verdade
O Rio Grande do Sul foi a unidade da federação que registrou o menor percentual de excesso de óbitos durante a pandemia. Proporcionalmente, o acumulado ficou 25,3% acima do que era esperado para o período entre 15 de março de 2020 e 21 de maio de 2022. O dado consta em estudo encomendado pelo governo do Estado que usou como fontes Ministério da Saúde, IBGE e Vital Strategies, que é uma organização global composta por especialistas e pesquisadores de vários campos do conhecimento que trabalham com governos e outras organizações. O Estado com o maior índice é o Amazonas, 60,2%. O pesquisador e coordenador da Rede Análise, Isaac Schrarstzhaupt, confirma que o Estado ocupa a melhor posição do ranking nacional e que essas são as fontes usadas para se chegar nesses índices.
Quem tem problemas com contas é o senhor (Onyx Lorenzoni), que fez um acordo com o Ministério Público Federal para poder se livrar de um processo por crime de caixa 2.
É verdade
O candidato Onyx Lorenzoni admitiu ter recebido doações não contabilizadas nas campanhas eleitorais de 2012 e 2014, o que seria passível de um processo por crime de falsidade ideológica eleitoral, pois a conduta é de omitir em documento público (prestação de contas) informação que deveria declarar (recebimento de recursos para a campanha), configurando caixa 2.
Onyx fechou acordo de não persecução penal com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para pagar R$ 189 mil como prestação pecuniária para encerrar a investigação sobre as doações não contabilizadas. O acordo foi homologado pelo então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, em despacho no dia 2 de março de 2021.
"Ante a juntada do comprovante de pagamento e a manifestação do Procurador-Geral da República, no que aponta o integral cumprimento, pelo compromissário, do acordo, cabe acolher o preconizado. Declaro, considerados os fatos objetos desta petição, extinta a punibilidade de Onyx Lorenzoni", decidiu Marco Aurélio.
Foi publicado recentemente o Ideb pelo Ministério da Educação e este Ideb indica o desenvolvimento da educação no Estado. Com um esforço muito grande dos nossos professores e professoras (...) nós conseguimos colocar o Rio Grande do Sul do 11º lugar para o 10º nos Anos Iniciais, da 16ª posição dos Anos Finais da Educação Fundamental para a 5ª posição entre os Estados brasileiros, e, no Ensino Médio, nós saímos da 9ª para a 7ª posição.
Não é bem assim
Não ficou claro na afirmação do candidato se ele se referia a todas as escolas do Rio Grande do Sul ou apenas às escolas estaduais. No caso das estaduais, ele acerta quando diz que houve melhoria nas posições no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021, na comparação com 2019, em todas as etapas.
Leite também acerta nas posições que o Estado ocupa nos rankings dos Anos Iniciais - 11º em 2019 (empatado com Amazonas e Tocantins) e 10º em 2021(empatado com Tocantins) - e dos Anos Finais - 16º em 2019 (empatado com Tocantins, Alagoas e Rio de Janeiro) e 5º em 2021 (empatado com Minas Gerais). O candidato, porém, não foi preciso ao citar a posição que o Estado ocupava no ranking do Ensino Médio em 2019: era 8º, empatado com Rondônia, Minas Gerais e Distrito Federal, e não 9º. No ranking de 2021, novamente o candidato acertou: o RS passou a dividir a 7ª posição com Tocantins.
Onyx Lorenzoni (PL)
A Anvisa é um órgão que faz análise documental. Ela não tem análise científica (ao comentar aprovação de vacinas contra a covid-19).
Não procede
Especialista em Regulação e Vigilância Sanitária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ex-diretor geral da Associação dos Servidores da Anvisa (Univisa), Carlos Renato Ponte da Silva afirma que todo o processo de análise realizado pela instituição para autorizar a oferta de novos medicamentos, de vacinas ou outros produtos voltados à saúde no país é "rigorosamente científico".
Silva explica que a agência não tem laboratórios próprios nem produz tecnologia, tomando como base informações remetidas pelas empresas responsáveis por meio de documentos. Mas o servidor ressalta que isso não permite concluir que o órgão não faz análise lastreada na ciência:
— Análise documental não é fazer um check list. Isso é 1% do trabalho. O trabalho da Anvisa é rigorosamente científico, baseado em bioquímica, farmacologia, medicina clínica e em séculos de ciência. Em uma última etapa, os milhares de dados que recebemos são ainda submetidos a uma validação estatística para verificar se o estudo submetido foi manipulado ou não. É uma análise científica.
Silva lembra ainda que o processo de verificação feito pela agência, como no caso das vacinas, pode incluir inspeções realizadas in loco em laboratórios dentro e fora do Brasil para verificação de boas práticas. Em casos especialmente complexos, a instituição também pode ainda solicitar consultorias externas para aprimorar a análise.
— Todo esse processo pode resultar no deferimento do medicamento, se os dados forem coerentes. Se forem incoerentes, duvidosos ou houver alguma falha, são feitas exigências que, se forem cumpridas, há o deferimento. Caso contrário, o medicamento é indeferido, e o processo é arquivado.
Quem colocou o Geraldo Melo como presidente do Incra também fui eu, indicação minha, que já entregou 420 mil escrituras.
É verdade
Segundo informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), desde janeiro de 2019 até terça-feira (11), data mais recente com informações disponíveis, foram entregues 424.655 documentos de titulação de terra para famílias no campo em todo o país.
O dado oficial está dentro da margem de 10% de variação para mais ou para menos, em relação à cifra citada pelo candidato, utilizado como critério de checagem para considerar que um número está correto. A entrega de documentação envolve assentamentos da reforma agrária e a áreas públicas passíveis de regularização fundiária.
Apenas neste ano foram fornecidas 144,6 mil titulações, maior número desde 2019. Segundo o Incra, a expedição desse documento dá aos beneficiados segurança jurídica para explorar a área, acesso a modalidades de crédito rural para investimento em produção, infraestrutura ou assistência técnica. No Rio Grande do Sul, no mesmo período, foram repassadas 4.828 titulações, correspondentes a 1,1% do montante nacional.
Titulações ao ano no Brasil
2019 - 31.439
2020 - 109.213
2021 - 139.387
2022 - 144.616
Fonte: Incra
O Rio Grande do Sul não tem um plano logístico. Tem um número sobre infraestrutura que é assustador. Eu me reuni com o pessoal que cuida de hidrovias e eles me disseram que com algo em torno de R$ 250 milhões se coloca em funcionamento 90% das hidrovias gaúchas.
Não procede
Ao contrário do que disse o candidato, o Rio Grande do Sul possui um Plano Estadual de Logística de Transportes (Pelt-RS). Foi criado em 2014, durante a gestão de José Ivo Sartori (MDB) e traçou o diagnóstico das deficiências do sistema logístico estadual para definir cenários e estratégias de investimentos públicos e privados até 2039.
No setor hidroviário, o levantamento previa a implantação de 380 quilômetros de novos trechos e a manutenção de 776 quilômetros já existentes. Para tanto, o Pelt-RS aponta a necessidade de aportes na ordem de R$ 361,2 milhões nas hidrovias do Rio Grande do Sul até 2024. O valor supera em 48,8% os R$ 250 milhões referidos por Onyx.
Desse total, o mapeamento indica que R$ 119,9 milhões seriam recursos estaduais e R$ 85 milhões federais. Mesmo que se considere somente a parcela relativa ao governo gaúcho, a cifra seria 52,36% inferior ao que divulgado pelo candidato.
(O auxílio emergencial) chegou a 68 milhões de brasileiros e 3 milhões de gaúchos.
É verdade
Em relação aos números, os registros oficiais do Ministério da Cidadania indicam 68.280.863 beneficiários do Auxílio Emergencial em todo o país ao longo de 2020, quando a pandemia de coronavírus chegou ao Brasil. Esse patamar foi confirmado por uma fiscalização realizada posteriormente pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O montante de pessoas atendidas corresponde a 32% da população brasileira.
No caso do Rio Grande do Sul, o relatório do governo federal indica um número levemente inferior ao mencionado pelo candidato, com 2.848.520 beneficiários (24,8% dos gaúchos). Ainda assim, a cifra citada por Onyx (que ocupava a pasta da Cidadania à época) fica dentro da margem de 10% de variação para mais ou para menos considerada como acerto pelos critérios de checagem (veja mais detalhes sobre os critérios utilizados ao final desta reportagem).
De abril a dezembro de 2020, foram investidos R$ 295 bilhões em todo o país por meio do auxílio emergencial. A auditoria do TCU estimou que cerca de 7,3 milhões de pessoas se beneficiaram indevidamente da medida por não cumprirem todos os requisitos previstos de vulnerabilidade social.
O senhor (Eduardo Leite) vendeu (a CEEE) por R$ 2,2 bilhões e cinco meses depois a empresa entregou R$ 1,2 bilhão para quem a comprou.
Não procede
O candidato do PL erra ao referir o preço de venda e o lucro da CEEE. A companhia foi adquirida em leilão na bolsa de valores, realizado em março do ano passado e vencido pela empresa Equatorial Energia. O valor da proposta única foi simbólico, de apenas R$ 100 mil, em razão do alto grau de endividamento da até então estatal.
Mesmo ao considerar que Onyx tenha se equivocado e utilizado a cifra de R$ 2,2 bilhões para apontar a dívida, e não o preço efetivo, a diferença, nesse caso, ainda ficaria 218% abaixo do passivo total da CEEE por ocasião da privatização, avaliado em R$ 7 bilhões, entre débitos tributários, previdenciários, de empréstimos e demais pendências.
Equívoco semelhante acontece com a afirmação de que cinco meses depois, a empresa teria entregue R$ 1,2 bilhão para quem a comprou. O período citado coincide com o balanço do terceiro trimestre da CEEE, que apurou lucro líquido de R$ 502 milhões – menos da metade do que foi dito por Onyx. Além disso, seria preciso ponderar os prejuízos de R$ 160 milhões e R$ 172 milhões no primeiro e no segundo trimestre do ano passado, respectivamente, o que deixaria o lucro obtido nesse intervalo praticamente nulo.
Pra poder melhorar seus índices, há uma diretiva da Secretaria da Educação do Estado dizendo o seguinte, textualmente: ‘Se o aluno não for na escola, se o aluno não fizer o exame, aprova’. Então os índices são a média obtida no Saeb, que eu acho que ele nem conhece o nome da prova, multiplicada pelo número de aprovados. Foi feito um artifício, uma artimanha, uma fraude, para poder melhorar o número do Estado.
Não procede
A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) informou que não há nenhuma orientação para que as escolas da rede estadual aprovem estudantes que não participaram das atividades pedagógicas e/ou não compareceram às escolas em 2021. Segundo a pasta, o que foram adotadas são recomendações do Conselho Nacional de Educação e do Conselho Estadual de Educação que preveem o continuum curricular para os anos de 2020/2021 e 2021/2022, que representa uma flexibilização do currículo para priorizar alguns componentes e fazer um desenvolvimento contínuo das aprendizagens do início de 2020 até o final de 2022. Por esse motivo, a maioria das redes de ensino brasileiras registrou altas taxas de aprovação nos últimos dois anos – no Ensino Fundamental, por exemplo, conforme dados do Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o RS ficou apenas na 11ª colocação entre os Estados com maior taxa de aprovação em 2021, apresentando um índice de 96,9% de aprovados nas escolas estaduais.
Quando um navio sai do porto de Rio Grande, lá na metade Sul, passa pelas cercanias de Pelotas, pela Lagoa dos Patos e, se chegar em Porto Alegre, por volta das 17h30min, terá de lançar âncoras para lá do Haras do Arado, porque faltam cinco boias de sinalização no canal de navegação. Cada boia custa R$ 80 mil, ou seja, apenas R$ 320 mil (depois de falar o valor e ser alertado pela mediadora, o candidato corrigiu para R$ 400 mil), e isso acontece há cinco anos.
Não procede
Em nota, a Portos RS – empresa pública responsável por organizar, gerenciar e fiscalizar o sistema hidroportuário no Rio Grande do Sul – pondera que a possibilidade de navegação noturna pela referida hidrovia vai muito além da simples modificação de boias ao longo do trajeto. Isso acontece porque, antes de validar o tráfego à noite, é preciso atender às normas da Marinha do Brasil (NORMAM 11/DPC), que exigem, entre outros requisitos, a batimetria (medição da profundidade de oceanos, lagos e rios) para verificar a exata necessidade de dragagem (alargamento e desobstrução necessários para tornar o trecho navegável).
Estudos projetam em sete milhões de metros cúbicos de sedimentos a serem retirados no percurso. O gerente de planejamento da Portos RS, Fernando Estima, complementa que, em média, para cada milhão de metros cúbicos dragados o custo é de R$ 20 milhões. Ele pontua que, para se pensar em navegação noturna, seriam demandados aportes na ordem de R$ 140 milhões para contemplar etapas que, necessariamente, antecedem à sinalização, e não de apenas R$ 320 mil em cinco boias.
De acordo com o executivo da empresa que administra os portos públicos de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, além de 17 terminais privados, para viabilizar a navegação noturna, nos moldes "simplificados" do que defendeu o candidato, não bastariam cinco boias, mas também a instalação de correntes e pôitas (peso que funciona como âncora em embarcações pequenas). O valor dos equipamentos, dotados de iluminação, pode variar em decorrência da tecnologia desejada, mas não costumam ser encontrados por menos de R$ 150 mil, portanto a um custo 87,5% superior aos R$ 80 mil precificados por Onyx.
Segundo explica o texto, após a dragagem, existem outros trâmites até que se obtenha a homologação do calado (distância entre a parte inferior e a linha de flutuação de uma embarcação) por parte da autoridade Portuária. Todo o processo acontece em conjunto com a Marinha e, só então, é possível elaborar o projeto detalhado de sinalização para navegação à noite, que poderá ser acatado ou rejeitado em razão do atendimento dos procedimentos formais. Até lá, é a própria Marinha que desaconselha a operação às cegas.
Além disso, depois de 12 anos sem obras dessa natureza – e não cinco como alegou Onyx –, em 2020, foi feita a dragagem emergencial do Canal da Feitoria. O trecho, ao sul da Lagoa dos Patos, é considerado um dos mais importantes da hidrovia que liga os portos de Porto Alegre e de Rio Grande. Na ocasião, um milhão de metros cúbicos de sedimentos foram retirados, com investimentos superiores a R$ 15 milhões, aportados pelo governo do Estado.
Nós temos hoje no Rio Grande do Sul 665 escolas estaduais com problemas elétricos, mais de 500 escolas não têm dependências acessíveis (…) nós temos no Rio Grande do Sul 50% das escolas sem quadras de esportes.
É verdade
O candidato acerta ao dizer que 665 escolas estaduais gaúchas apresentam problemas elétricos. O dado foi obtido com exclusividade por GZH em agosto, por meio da Lei de Acesso à Informação, e representa 28% do total da rede de ensino. A colocação sobre as quadras esportivas se aproxima bastante da realidade – 47,8% das escolas estaduais responderam não ter quadras no Censo Escolar de 2021, o que corresponde a 1.141 instituições de ensino. Este percentual está dentro da margem de tolerância para classificação como "É Verdade", segundo os critérios adotados pelo É Isso Mesmo? (veja mais detalhes sobre os critérios de checagem ao final desta reportagem).
Quanto à afirmação de que mais de 500 escolas não têm dependências acessíveis, o candidato também acerta, mas, na verdade, são muito mais – das 2.386 que responderam ao Censo Escolar de 2021, segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), 902 (37,8% do total) não contavam com infraestrutura que permitisse a acessibilidade de pessoas com deficiência. Em nota, a pasta informou que um repasse de R$ 228 milhões permitiu a realização de obras desse tipo em “diversas instituições de ensino”, mas o dado só será atualizado no Censo Escolar de 2022.
O senhor usou dinheiro público para lançar a sua candidatura (à Presidência) dentro do Galpão Crioulo do Palácio Piratini.
É verdade
O então governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite reuniu deputados e senadores do PSDB no Galpão Crioulo do Palácio Piratini no dia 11 de fevereiro de 2021. Na oportunidade, o tucano anunciou que disputaria as prévias do partido contra o então pré-candidato e governador de São Paulo, João Doria. Durante o encontro, Leite apresentou realizações do seu governo e disse que começaria a percorrer o país.
"Aceitei essa missão de levar essas experiências nas boas conversas que teremos Brasil afora", disse o então governador gaúcho.
Conforme apurou a jornalista Kelly Matos, em coluna publicada em 12 de fevereiro de 2021 em GZH, como o encontro ocorreu no galpão crioulo do Palácio Piratini, onde Leite residia e trabalhava, as despesas foram assumidas pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul. À época, Leite justificou a agenda como política e não partidária. "A pauta, antes de mais nada, era federativa. Naturalmente, se discute um interesse político. Não foi um comício", disse Leite na ocasião.
Agora, tem um fato muito grave. O senador Luis Carlos Heinze trouxe isso ao debate, que é a barragem do arroio de Taquarembó. O Rio Grande do Sul recebeu os recursos do governo federal. Foram feitas sucessivas prorrogações ao longo do último governo. E nós estamos em vias de ter que devolver ao governo federal, pela incompetência do Estado R$ 160 milhões.
Não é bem assim
De fato, o governo do Estado vem enfrentando dificuldades para conseguir concluir a construção. Algumas empresas contratadas tiveram problemas na execução dos trabalhos. Porém, a garantia da Secretaria Estadual de Obras e Habitação é de que o dinheiro não será devolvido. Em outubro houve uma ampliação dos prazos. O convênio com o governo federal foi prorrogado até março de 2023. Dessa forma, a secretaria tem até essa data para realizar a licitação para contratar a empresa que irá finalizar a construção. As obras da Barragem Taquarembó — localizada em Dom Pedrito, e que atenderá também os municípios de Lavras do Sul e Rosário do Sul — começaram em 2008.
Critérios de classificação
É verdade
A informação está correta e corresponde a dados e estatísticas oficiais.
Não é bem assim
Apenas parte da sentença está correta.
Não procede
O interlocutor está equivocado na informação que afirma.
Regras de checagem
1) São checadas as informações que têm verificação possível em fontes oficiais. Não são levadas em conta declarações de cunho opinativo.
2) Os temas escolhidos levam em conta a relevância.
3) Os candidatos não são procurados pela reportagem.
4) Em caso de números arredondados pelos candidatos, os critérios utilizados pela equipe são:
- se a variação for de até 10%, para mais ou para menos, a informação é classificada como "É Verdade";
- se a variação for acima de 10% e até 30%, para mais ou para menos, a informação é classificada como "Não é bem assim";
- se a variação superar 30%, para mais ou para menos, a informação é classificada como "Não procede".
5) A equipe está aberta a contestações por parte dos candidatos, que posteriormente serão avaliadas pelos checadores.