Estive em São Paulo no início da semana para palestra.
Um crime chocou o estado e o país. Pela banalidade da crueldade. Pela completa falta de misericórdia. Por um roubo fútil de celular.
Um delegado da Polícia Civil foi morto a tiros na manhã de terça-feira (14), na Chácara Santo Antônio, zona sul de São Paulo. Câmera de segurança flagrou o momento em que ele foi atingido e caiu no chão.
Formado em Direito pela Unifacol, em Vitória de Santo Antão (PE), e especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública pela Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo (Acadepol), o pernambucano Josenildo Belarmino de Moura Júnior, 32 anos, atuava há menos de um ano como delegado no 11° Distrito em São Paulo e tinha sido aprovado para igual cargo em Pernambuco. Logo pediria exoneração para retornar à sua terra natal.
De berço humilde, passou a sua história lutando, estudando e se sacrificando. Quando finalmente vislumbrava a luz do sol, conhecia a estabilidade, viu-se ceifado.
Durante folga na capital paulista, andava pelo bairro de bermuda, camiseta e chinelo.
Ao atravessar rua interditada por uma construção, acabou sendo encurralado por um falso entregador de comida.
De capacete, o ladrão revistou o delegado, que se encontrava armado. Em seguida, atirou quatro vezes contra a vítima: dois tiros nas costas, um no braço e outro na garganta.
O delegado tombou ao lado de um carro, e o criminoso fugiu de moto. Mesmo não reagindo, mesmo oferecendo prontamente o celular e a arma, foi covardemente assassinado pelas costas.
O assaltante não se importou com a luz do dia. Ou com a presença de testemunhas. Agiu a sangue-frio, como quem apaga um arquivo indesejado.
A cena trágica aconteceu na frente de três pedreiros, que descarregavam material numa caçamba.
Eles registraram as últimas frases do delegado: “Sou muito jovem para morrer. Queria ver meus filhos”.
Seu derradeiro apelo não surtiu efeito.
O que mais dói é que ele não tinha filhos. Ele chora pelos filhos que nunca terá, pela paternidade que jamais poderá experimentar.
Lembra-se naquele instante de tudo o que não viveu.
Lamenta a vida interrompida, a vida pela metade, por ser impedido de dar colo ao seu futuro.
Os rostos de suas crianças serão para sempre desconhecidos.
Infelizmente, somente seu corpo volta à sua cidade natal, Chã Grande. Não como ele idealizava, como ele sonhava.
A violência abortou seu destino, provocando comoção no município de 20 mil habitantes.
O caixão desfilou num carro do Corpo de Bombeiros para a despedida de amigos e familiares no Ginásio de Esportes José Barbosa Filho, na Escola Municipal XV de Março.
Carros e motos acompanharam o cortejo, enquanto a população se alinhava nas calçadas, aplaudindo aquele que sempre se orgulhou da sua origem.
Moura Júnior se casaria no próximo mês de junho. Sua noiva, com quem estava junto há 10 anos, perdeu seu marido e o futuro pai de seus filhos.