Em algum lugar, em alguma parte do dia, o celular merece ficar quieto.
Será na escola, a qual reassume a condição de santuário da atenção integral.
Acredito que a experiência radical recuperará desempenhos no Ideb e melhorará nossas notas de alfabetização.
Na segunda-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que restringe o uso de celular nas escolas públicas e privadas do país. A legislação passará a ser regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC).
De autoria do deputado federal gaúcho Alceu Moreira (MDB), o projeto foi aprovado pela Câmara e o Senado em dezembro. Transcorreu quase uma década para discussão e tramitação no Congresso.
O que muda na prática?
O porte do aparelho será vedado aos matriculados da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental (1º a 5º ano). Já os integrantes do ensino médio e anos finais do ensino fundamental (6º a 9º ano) poderão levar o celular para a escola, mas o dispositivo deverá permanecer guardado na mochila.
O celular não existirá mais nos recreios, sendo permitido apenas para garantir acessibilidade a estudantes com deficiência, ou como socorro em casos de violência.
As crianças e adolescentes voltarão a conversar no intervalo. Como em nossos tempos analógicos. O aumento drástico de disponibilidade propiciará o surgimento de amizades, assim como interações com a turma a partir dos esportes.
Caiu a torre de marfim que fazia com que o aluno se isolasse em seu mundo particular de jogos, trolagem e TikTok.
Também se neutralizará um dos instrumentos de maior bullying contra professores e colegas, já que não haverá mais gravação não autorizada e filmagens com o intuito de zombar de alguém.
Bem sabemos que a família não venceu a guerra para o celular. Os filhos só respondem aos pais olhando para a telinha. Almoços e jantares têm a sonoplastia de áudios e stories. Ninguém mais escuta a voz de quem está presente na sala, somente de seus contatos.
Bem sabemos que o casamento também foi vítima do monopólio digital, com o distanciamento emocional de casais sentados lado a lado, mais preocupados com as interações e likes em suas contas nas redes sociais do que com os rumos da relação.
A escola dispõe de uma solitária chance de redenção da comunicação afetiva.
Controlam-se assim a influência de IA nos trabalhos escolares e a consulta ostensiva do Google na solução de desafios.
Encetaremos uma lenta fisioterapia da audição: aprender a ouvir novamente, aprender a se concentrar novamente, aprender a manter o silêncio novamente.
O estudante precisará desenvolver o improviso, utilizar mais a memória como ferramenta de aprendizagem e, principalmente, começar a pensar com as suas próprias ideias. A juventude perdeu suas bengalas, sua velhice precoce, seu acervo na nuvem.
A caneta, o lápis e o papel ressuscitarão de importância. Em vez de digitar, ou abreviar a língua portuguesa em mensagens rápidas, o estudante terá que reaver a sua caligrafia.
O caminho agora será mais longo e pessoal para a formação, sem atalhos, sem fake news, sem alarmismo.
Que os livros deixem a poeira da biblioteca e retornem ao seu posto na classe de grandes conselheiros da vida.