A pessoa mais velha do mundo é uma gaúcha: a freira Inah Canabarro Lucas, 116 anos, natural de São Francisco de Assis.
Guinness World Records acabou de reportar o fato à família.
Com o falecimento da japonesa Tomiko Itooka, também de 116 anos, ela assumiu o posto de mulher mais longeva da humanidade.
Nascida em 27 de maio de 1908, destaca-se a proeza de quem testemunhou as duas guerras mundiais.
O curioso é que sua infância foi marcada pela fragilidade. Ninguém acreditava que ela iria durar muito. De uma família de sete irmãos, ela era muito magrinha, franzina, adoentada com frequência. Na época, o seu padrinho vaticinou ao seu pai: “compadre, não me leve a mal, mas essa guriazinha deve ser doente. E se prepare, pois infelizmente acho que não vai durar muito...”.
Mas Deus tem um gosto particular pela superação e gosta dos paradoxos e desafiar aparências, diagnósticos e condicionamentos. Recruta milagres vivos para liderar o seu exército e servir de exemplo.
A supercentenária mundial, validada pelo Gerontology Research Group, é sobrinha trineta do general David Canabarro, um dos líderes da Guerra dos Farrapos.
Atuou como professora durante três décadas. Um de seus alunos foi o ex-presidente João Figueiredo, “um guri levado” nas suas palavras.
Fez o noviciado em Montevidéu (Uruguai), na Companhia Santa Teresa de Jesus. Lecionou português, matemática, ciências, história, arte e religião, no Rio de Janeiro, Itaqui e Livramento. Seus estudantes viraram discípulos. Costumam prestar homenagens onde mora hoje, na casa da Congregação Irmãs Teresianas no Brasil, e lembram que ela conquistava a admiração da turma a partir de um modelo rígido e disciplinador, moldando os sonhos para a realidade.
Como Madre Superiora, comandou o Colégio Santa Teresa de Jesus em Santana do Livramento, onde criou a famosa banda marcial do colégio, com 115 musicistas, orgulho da cidade, reconhecida por suas apresentações no Brasil, Uruguai e Argentina.
Irmã Inah é também conhecida como torcedora-símbolo do Internacional. Seu sobrinho, Cleber Canabarro, 84 anos, destaca que ela não quer outro presente de aniversário que não seja a camiseta colorada da temporada. Devido à idade, talvez já possua o maior acervo de camisetas no Estado. Seu voto de pobreza não permite ostentar, portanto nunca saberemos.
Apesar de agora receber os holofotes do planeta pelo feito extraordinário, Inah não recebe mais visitas. Encontra-se resguardada. Não tem nenhum problema médico. Sua luta é contra a debilidade natural de um envelhecimento pioneiro.
Ela chegou onde ninguém esperava. Onde nenhum gaúcho chegou antes. Agora é um dia de cada vez. Um dia secular, histórico e antológico de cada vez.