O clima de tensão permanente marcou o debate entre Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB) realizado nesta sexta-feira (14) pela Rádio Gaúcha. Em paralelo à apresentação de propostas, houve acusações mútuas de mentiras, vitimização, desconhecimento de assuntos e até de prática de crime por parte do adversário.
O confronto aberto foi propiciado pelo formato do debate que, após cada pergunta e resposta, permitiu uma discussão livre de quatro minutos entre os concorrentes sobre cada um dos assuntos, autorizando interrupções. Enquanto Onyx se dirigia a Leite como o governador "que renunciou aos gaúchos", o tucano o chamava recorrentemente de "candidato fake news".
Mediado pela jornalista Andressa Xavier, o programa começou às 8h12min. Leite entrou no estúdio às 8h08min e Onyx, às 8h10min. Não houve saudação entre eles. Depois do debate, instados pela mediadora a se cumprimentar, Leite estendeu a mão a Onyx, que apenas sorriu, tocou no ombro do adversário e não devolveu o gesto.
Em quase todo o programa, o tucano adotou um tom assertivo na apresentação de argumentos e interrompeu o adversário em mais oportunidades. Mais contido, Onyx demonstrou certa tranquilidade e, muitas vezes, reagia rindo às provocações do oponente. Nos intervalos, enquanto imperava o silêncio no estúdio, Leite era aconselhado pelo marqueteiro Fábio Bernardi, e Onyx pela esposa, Denise Lorenzoni.
O embate foi hostil desde a primeira pergunta. Sorteado para começar, Leite questionou o adversário a respeito do trecho da propaganda de rádio em que Onyx afirma que o Estado terá "um governador e uma primeira-dama de verdade" caso seja eleito.
— O senhor quis dizer que as outras primeiras-damas que o Estado teve eram de mentira ou foi efetivamente uma insinuação homofóbica velada? — perguntou.
Na resposta, Onyx disse que o tucano usou o caso para se vitimizar, abriu a manga direita da camisa e mostrou uma tatuagem da bandeira do Rio Grande do Sul no braço.
— Está escrito aqui: liberdade. Porque liberdade para mim é um valor. Sou cristão e respeito o livre arbítrio. Não há, ao longo de minha vida pública, um ataque contra qualquer pessoa.
Onyx prosseguiu, descrevendo a assunto como uma "falsa polêmica" e dizendo que respeita as escolhas de Leite. Por fim, citou o trecho bíblico que recomenda "amar ao próximo como a si mesmo".
Ao retomar a palavra, Leite lembrou que, em debate anterior, o oponente disse ser um "homem de verdade" e citou o caso de um apoiador de Onyx que foi demandado pela Justiça Eleitoral a excluir um vídeo, publicado nas redes sociais, no qual acusava o tucano de "implementar a ideologia de gênero nas escolas". Onyx afirmou que desconhecia o assunto, mas que respeita a liberdade de expressão.
— Isso não é liberdade de expressão, isso é um crime — disparou Leite.
— O senhor está cometendo crime ao me acusar de um crime que não cometi — devolveu Onyx.
O assunto ainda voltaria à tona no terceiro bloco, depois de Onyx criticar o fato de Leite nomear para o comando do Banrisul um executivo proveniente do Rio de Janeiro.
— Além de homofobia, que aconteceu ontem, você é xenófobo também?
— Estou com pena de ti, Eduardo. Teu desespero está às raias da irracionalidade para dizeres as bobagens que está dizendo.
Propostas e ataques
Ainda no primeiro bloco, em sua vez de perguntar, Onyx listou uma série de dados negativos da rede estadual de ensino. Leite o chamou de "candidato fake news" e disse que estava usando "dados isolados" para distorcer a realidade.
O candidato do PL apontou que houve recomendação para aprovação automática dos alunos, o que foi descrito por ele como "uma artimanha e uma fraude" para melhorar os índices do Estado. Instado a apresentar suas propostas para a área, Onyx elencou sete prioridades de atuação e prometeu criar uma gratificação de desempenho aos integrantes do magistério estadual:
— Isso vai permitir que o salário dos professores possa ser incrementado em até 30%.
Na sequência, Leite mencionou iniciativas em curso no atual governo para a melhoria na aprendizagem:
— Nós pagamos uma bolsa para 30 mil professores, formando-os especificamente para atender as fragilidades dos alunos.
Na discussão sobre a gestão do IPE Saúde, plano voltado ao funcionalismo público e seus dependentes, Onyx disse que, se depender dele, não haverá reajuste na contribuição. Leite explicou que pretende reformular o plano, o que pode ocasionar redução da mensalidade para alguns usuários e aumento para aqueles que têm mais dependentes cadastrados.
Combate ao câncer
A saúde retornou ao centro do debate no início do segundo bloco, na pergunta feita pela jornalista Cristina Ranzolin, a respeito da proposta dos candidatos para agilizar exames de prevenção ao câncer de mama. Em raro momento de ânimos arrefecidos, cada um dos concorrentes explicou como pretende enfrentar o problema.
Onyx citou sua proposta de implementar clínicas de especialidade em todas as regiões do Estado, inspirada em uma iniciativa do governo de Goiás.
— Lá eles têm a mamografia na clínica. Desenvolveram também carretas que percorrem as regiões para permitir que o diagnóstico precoce venha. Se for da vontade do povo gaúcho, vamos implementar isso aqui no Rio Grande do Sul.
Leite disse que vai reproduzir o exemplo da clínica de saúde da mulher de Giruá, que passou a receber recursos estaduais.
— Vamos implantar sete clínicas especializadas em saúde da mulher, para ter a consulta com o especialista, os exames e até a biópsia feita nesse espaço.
A temperatura voltou a subir após a pergunta da jornalista Kelly Matos, a respeito do incentivo à imunização de crianças contra a poliomielite. Leite confrontou Onyx sobre o fato de não ter se vacinado contra a covid-19, chamando-o de "negacionista".
— Não podemos ter na liderança do governo alguém que coloca em suspeita algo que é importante para salvar vidas — disse o tucano.
Onyx afirmou que não recebeu a vacina por uma "escolha" e disse que o imunizante não é cientificamente seguro, apesar da aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
— O senhor vai dizer que eu sou um negacionista da ciência sendo eu um médico veterinário? As pessoas conhecem a minha história, meu amigo — argumentou o candidato do PL.
Blocos finais
Na abertura do terceiro bloco, Onyx questionou Leite a respeito da prorrogação do reajuste do ICMS aprovada no final de 2020, com o apoio de deputados do PT, sob o argumento de garantir recursos para a aquisição de vacinas contra o coronavírus.
— Converso com aqueles que pensam diferente. O senhor quer exterminar quem pensa diferente do senhor — acusou Leite.
Na réplica, Onyx prometeu que reduzirá o tributo:
— Vou ser o primeiro governador a reduzir imposto no Rio Grande do Sul.
Nesse bloco, também apareceu o debate sobre o Banrisul. Como em encontros anteriores, Onyx atacou a gestão atual pela perda de valor das ações, enquanto Leite disse que o adversário vai "quebrar o banco".
No trecho final, apareceu a principal convergência entre os candidatos: ambos se comprometeram a implementar mais escolas com ensino em tempo integral.
O debate terminou como começou: em clima de conflito. Leite disse que Onyx lembra o personagem Rolando Lero, do humorístico Escolinha do Professor Raimundo, por não responder com detalhes as perguntas formuladas.
De outro lado, Onyx apontou que Leite utilizou recursos públicos para fazer campanha nas prévias presidenciais do PSDB, nas quais foi derrotado:
— O senhor abandonou os gaúchos em busca de um projeto de poder. Fugiu à responsabilidade de responder ao Rio Grande do Sul.
— Quem tem problemas com contas é o senhor, que fez um acordo com o Ministério Público para se livrar de um processo por crime de caixa 2 — retrucou Leite.
O embate entre os dois candidatos terminou às 10h23min e teve duração de duas horas e 11 minutos. Ao longo da campanha de segundo turno, eles ainda se encontrarão em outros debates. O último, será no dia 27, na RBS TV.
Perguntas de assinantes
Ao longo do debate, duas perguntas foram formuladas pela jornalista Rosane de Oliveira a partir dos questionamentos de quatro assinantes de GZH que assistiram ao debate nos estúdios da Rádio Gaúcha.
O primeiro tema proposto foi a infraestrutura e a gestão das rodovias estaduais. Sorteado para começar respondendo, Leite se comprometeu a iniciar pavimentação em todos os acessos municipais sem pavimentação e investir recursos para concluir obras federais que estão paradas no Estado. Na sequência, Onyx prometeu recuperar as hidrovias e acabar com a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), estatal criada no governo Tarso Genro para administrar estradas.
No segundo espaço, os assinantes demandaram propostas sobre turismo e desenvolvimento econômico e regional. Em sua intervenção, Onyx indicou que vai fortalecer áreas turísticas e relacionou o tema com a cultura.
— Vamos destinar R$ 25 milhões por ano para reformas, qualificação de CTGs e canchas. Dar condição a que a cultura gaúcha possa ser vigorosa e um grande atrativo para o desenvolvimento de emprego e renda.
Já Leite lembrou que o deputado Rodrigo Lorenzoni, filho de Onyx, foi seu secretário de Desenvolvimento Econômico e listou investimentos feitos pelo governo do Estado na administração atual.
— Estamos desburocratizando sim. Criamos o Tudo Fácil Empresas e vamos chegar a 50 municípios até o final do ano. Em um único portal, o empreendedor tem a junta comercial, a licença ambiental e o alvará do Corpo de Bombeiros.
Apesar de estar previsto na regra para casos de ofensa pessoal, nenhum dos dois candidatos solicitou direito de resposta durante o confronto.