O mapa de votação do Rio Grande do Sul, quando pintado com cores representativas aos vencedores da eleição nos 497 municípios no primeiro turno, é revelador ao apontar a fratura no território causada pela polarização nacional entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
O presidente e seu aliado Onyx Lorenzoni (PL) fizeram um corredor de supremacia que começou em parte da Região Metropolitana, mas que teve seus destaques na Serra e nos vales do Sinos, do Taquari e do Rio Pardo. A dupla ainda se destacou no miolo da região Norte, no entorno de Passo Fundo.
Lula e o seu candidato ao governo estadual, Edegar Pretto (PT), predominaram na Metade Sul do Estado, em cidades de maior espaço territorial, como Bagé, e na região missioneira. Ainda tiveram prevalência em uma mancha de pequenos municípios do norte, próximos da divisa com Santa Catarina.
A pintura do mapa guarda certa proporção no preenchimento das cores, mas Bolsonaro e Onyx levam vantagem no número de cidades conquistadas (veja no quadro). Isso se deve ao controle de regiões com maior quantidade de municípios médios e pequenos, como os vales, enquanto Lula e Pretto dominaram locais de grandes faixas de terra, sobretudo na Campanha.
Embora tenha conseguido passar ao segundo turno com vantagem de apenas 2.441 votos sobre Pretto, o ex-governador e candidato à reeleição Eduardo Leite (PSDB) ficou espremido entre o lulismo e o bolsonarismo, já que correu descolado da polarização nacional. Por conta disso, não coloriu majoritariamente nenhuma zona do mapa. Seus destaques foram vitórias em Porto Alegre, Viamão e Pelotas, seu berço político. Confira abaixo a análise sobre os candidatos mais bem posicionados:
Bolsonaro e Onyx
Os destaques foram a Serra e os vales do Sinos, do Taquari e do Rio Pardo, além da região de Passo Fundo, no Norte. São áreas de pequenos, médios e alguns grandes municípios, com densidade populacional. A estratégia de polarização funcionou e Bolsonaro guindou Onyx para a conquista de diversas cidades de forma convergente.
— As regiões que deram vitória ao Bolsonaro são notadamente mais conservadoras. São zonas de empreendedorismo, com pontos de industrialização e desenvolvimento econômico mais sólido — avalia o ex-prefeito de Bento Gonçalves e deputado estadual eleito Guilherme Pasin (PP).
Embora tenham perdido em Porto Alegre e Viamão, Bolsonaro e Onyx conquistaram cidades populosas da Região Metropolitana, como Canoas, Cachoeirinha e Gravataí. E confirmaram o favoritismo em Novo Hamburgo. Foi a partir dessas cidades que iniciaram o domínio em direção aos vales e à Serra. No Norte, nos arredores de Passo Fundo, a vitória se cristalizou na zona em que o presidente colhe apoio fiel do agronegócio e de categorias como os caminhoneiros. Cenários favoráveis também nasceram no Noroeste.
— São regiões (norte e noroeste) que estão com as indústrias bombando, vendendo para o exterior e com prosperidade — avalia o deputado federal reeleito Osmar Terra (MDB), ex-prefeito de Santa Rosa.
Lula e Pretto
A vinculação das imagens funcionou e Pretto conquistou muitas vitórias convergentes com as de Lula nos municípios gaúchos, com destaque para a Metade Sul, as Missões e um trecho do Norte, próximo de Santa Catarina.
Não deixou de ser surpresa os petistas terem vencido amplamente na Campanha, como em Bagé, cidade em que Lula foi hostilizado em 2018 por ruralistas e simpatizantes de Bolsonaro. A Campanha não é um reduto da esquerda, mas, apesar dos produtores rurais, tem maioria da população na zona urbana, com bolsões de pobreza. Lula ganhou inclusive em São Gabriel, cidade de viés conservador.
— É uma região pobre e com limitações de desenvolvimento, em que mais se sente falta de políticas públicas. As pessoas estão passando necessidade. E quem está mal, quer mudança. Temos as marcas do governo Lula aqui. A Unipampa está em dez cidades da Metade Sul — diz Luiz Fernando Mainardi (PT), deputado estadual reeleito e ex-prefeito de Bagé.
Para o cientista político Carlos Borenstein, as vitórias de Lula em Pelotas e Rio Grande – Pretto venceu apenas na segunda – passam pela lembrança da população.
— A região foi muito beneficiada nos governos Lula e Dilma (Rousseff). Existe uma memória positiva com o polo naval — diz Borenstein.
Lula ainda venceu em Porto Alegre, Alvorada, Viamão, Sapucaia do Sul e Guaíba, importantes colegiados na Região Metropolitana.
Eduardo Leite
O tucano ficou pressionado pela estratégia de nacionalização da eleição apresentada por Onyx e Pretto. Apartado da polarização entre o lulismo e o bolsonarismo, não teve um aliado forte para construir as vitórias convergentes. Conquistou uma quantidade bastante inferior de municípios em comparação com os adversários - uma centena a menos do que Pretto e mais de duas centenas ante Onyx (veja o quadro).
O desfecho do primeiro turno não permitiu a Leite estabelecer um predomínio no mapa. Borenstein avalia que ele perdeu muitos votos nos últimos dias do primeiro turno para Pretto, efeito do alinhamento do petista com Lula. Apesar disso, Leite conseguiu passar ao segundo turno por ter feito uma votação perene, espalhada pelo Estado. O tucano já tem o seu segmento fiel, independente das alianças federais.
— Eleitores de esquerda flertavam com Leite, mas não era um voto consolidado e optaram pelo Pretto no final. Leite saiu prejudicado pela polarização nacional e sofreu certo esvaziamento. Ainda assim, fez uma votação sólida porque ele tem um eleitorado cativo, fruto da percepção de que ele fez um governo positivo — analisa o cientista político.
Para vencer no segundo turno, Leite terá de herdar os votos de Pretto, não somente das zonas avermelhadas do mapa.
Municípios em que cada candidato à Presidência venceu no RS
- Bolsonaro - 321
- Lula - 175
- Empate - 1 (Alecrim)
Municípios em que cada candidato ao Palácio Piratini venceu no RS
- Onyx Lorenzoni - 299
- Edegar Pretto - 146
- Eduardo Leite - 46
- Heinze - 4
- Roberto Argenta - 1
- Empate -1 (Marcelino Ramos, entre Onyx e Pretto)
Total de votos no Estado
Palácio Piratini
- Onyx Lorenzoni - 2.382.026 (37,50%)
- Eduardo Leite - 1.702.815 (26,81%)
- Edegar Pretto - 1.700.374 (26,77%)
Presidência
- Jair Bolsonaro - 3.245.023 (48,89%)
- Lula - 2.806.672 (42,28%)
Fonte: Cálculo com base em dados do TSE e auxílio do TRE