Arrebatados pela exultação eleitoral e pela polarização que tomou conta do país, os dois candidatos que disputam o segundo turno no Rio Grande do Sul partiram para o ataque no debate da Gaúcha, na manhã desta sexta-feira (14). Falaram pouco de vida real e cruzaram o rubicão várias vezes.
Na Roma antiga, atravessar o rubicão (um rio) a cavalo era sinônimo de declarar guerra civil. Júlio Cezar atravessou o rio com sua Legião. Foi quando exclamou a famosa frase "Alea jacta est" (ou "a sorte está lançada").
Meia hora antes do debate, ainda no programa Gaúcha Hoje, ao chegarem, os dois prometeram mais propostas e menos ataques. No estúdio, Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB) sequer fizeram o cumprimento tradicional.
Debate iniciado, já na primeira pergunta, o tucano partiu para o ataque colocando em pauta a homofobia. No programa eleitoral da quinta-feira (13), Onyx falou que o Estado terá "uma primeira-dama de verdade". Leite criticou o rival por supostamente sugerir preconceito. Ao que Onyx negou respondendo que Leite cria narrativas para se vitimizar. O primeiro bloco não passou deste tema por conta do bate-boca entre os dois.
Nas duas horas de embate, Onyx e Leite carimbaram um ao outro: Leite, ao chamar Onyx duas vezes de candidato Caixa 2 (o candidato do PL fechou acordo com a Procuradoria-Geral da República para pagar R$ 189 mil para encerrar uma investigação sobre doações não contabilizadas pela empresa JBS) e de candidato "Fake News". Onyx rotulou Leite como "candidato que abandonou o Rio Grande e os gaúchos" buscando interesse pessoal. Leite renunciou ao governo para tentar uma indicação à Presidência da República e fracassou.
A vida real só entrou em pauta nas iniciativas que não eram dos candidatos. Por exemplo, quando a colunista Rosane de Oliveira questionou, estimulada por ouvintes e assinantes de GZH que acompanhavam o debate de um estúdio paralelo, sobre infraestrutura.
Logo depois, a colunista Kelly Matos perguntou sobre estratégias para aumentar a cobertura vacinal. Onyx citou um de seus conselheiros em saúde, o médico e político Germano Bonow, disse que defende a vacina, mas confirmou não ter se vacinado contra a covid-19. Leite respondeu que o Estado não pode ter um governante que nega a eficácia da vacina. Novamente, a mediadora Andressa Xavier teve que interromper o bate-boca entre os dois.
No terceiro bloco, mais enfrentamento. O candidato do PL disse que, se eleito, pretende conversar com todos os partidos. Leite rebateu que atuou em "defesa da vida" durante a pandemia. Onyx prometeu "reduzir ainda mais as alíquotas de imposto", quando apareceu o tema de tributação. E garantiu que vai barrar a privatizado da Corsan, que chamou de venda "criminosa". Em seguida, o candidato foi advertido por manusear o telefone celular, algo proibido conforme o que foi acordado como regra do debate.
Leite voltou a prometer que não pretende privatizar o Banrisul e chegou a classificar Onyx como "Rolando Lero", personagem do programa A Escolinha do Professor Raimundo, marcado por não saber responder e "enrolar". O jornalista Elói Zorzetto, acertadamente, fez pergunta sobre segurança pública, e Gisele Loeblein levantou o tema do agro, no qual é especialista. Mas segurança esteve quase ausente do debate e do agro nada se falou até as considerações finais.
Ainda há entrevistas, propaganda política e alguns debates pela frente. Muita coisa vai acontecer até 30 de outubro, dia da eleição em segundo turno. O clima ruim de polarização está no ar. Para os eleitores, "a sorte está lançada".