Após o susto com crescimento vertiginoso de Jair Bolsonaro (PSL) no final do primeiro turno e o favoritismo do militar nas primeiras pesquisas, Fernando Haddad (PT) pretende neutralizar o crescimento do antipetismo anunciando nos próximos dias pelo menos três ministros de seu eventual governo. Para tranquilizar o mercado, evitar prejuízos com as menções de Bolsonaro ao kit gay e reforçar a pauta da segurança, o petista quer divulgar os nomes dos titulares da Fazenda, da Educação e da Justiça.
A medida faz parte do pacote que está sendo estruturado pela coordenação política do PT para fugir do estereótipo de extremismo que vinha marcando a legenda desde o início da disputa. A primeira atitude foi a eliminação da cor vermelha do material de campanha e o descolamento de Haddad do ex-presidente Lula. O objetivo é suavizar o discurso e, com uma guinada ao centro, diminuir paulatinamente a diferença de 16 pontos percentuais registrada na primeira pesquisa Datafolha.
Os nomes dos ministros ainda estão sob estudo, mas a decisão de fazer um anúncio antes do segundo turno foi detalhadamente discutida entre os estrategistas da campanha.
A atitude responde a três inquietações. A apresentação do futuro timoneiro da economia tem como meta passar uma mensagem ao mercado de que Haddad não dará uma guinada na economia.
O nome do ministro da Justiça serve para atender à angústia da população com a violência e foi uma exigência dos governadores aliados, escaldados pelas cobranças dos eleitores locais. Já o anúncio do titular da Educação pretende frear a onda de boatos de que Haddad criou o kit gay e deseja nomear o deputado Jean Wyllys como ministro da pasta.
— Será uma outra eleição no segundo turno. O Haddad será mostrado como um político republicano, que defende a democracia e governa para todos — resume um influente petista.
É consenso no PT que a estratégia do primeiro turno deu certo, mas está esgotada. Na largada, a intenção era grudar a imagem de Haddad em Lula para obter os votos necessários para uma ida ao segundo turno. Da cadeia, Lula dizia que Haddad cresceria nas pesquisas, mas logo bateria num teto. Foi o que aconteceu quando a propaganda de Geraldo Alckmin (PSDB) passou a atacar Bolsonaro ao mesmo tempo que pregava o antipetismo.
O efeito foi uma divisão do país sob os movimentos #EleNão e #PTNão. O problema para Haddad foi que o voto do #EleNão se dividiu entre o petista, Alckmin, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL), enquanto os seguidores do #PTNão migraram majoritariamente para Bolsonaro, quase liquidando a eleição no primeiro turno.
— Agora, queremos dialogar com esse eleitor que não é petista — diz um assessor do candidato.
Os primeiros passos já foram dados. Haddad desautorizou publicamente o ex-ministro José Dirceu, que havia provocado polêmica ao falar que o PT iria "tomar o poder, o que é diferente de ganhar a eleição", retirou do programa de governo a proposta de Constituinte e não irá mais visitar Lula na prisão. Haddad também elogiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e revelou ter recebido apoio de tucanos graduados.
Para conduzir a nova etapa da campanha, foi chamado o ex-ministro e senador eleito Jaques Wagner, considerado um hábil articulista político. Em contrapartida, perderam espaço a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e o senador Lindbergh Farias, tidos como radicais.
Nessa nova roupagem, Lula foi limado da foto oficial e quase não vai aparecer na propaganda de TV. A imagem do ex-presidente será usada para manter os votos do Nordeste e das camadas mais pobres, mas sem a onipresença de antes. Haddad será exibido como um gestor eficiente, com realizações na prefeitura de São Paulo e no Ministério da Educação. A mulher do candidato, Ana Estela, e a vice Manuela D'Ávila terão o papel de conquistar o público feminino.
Para evitar o crescimento de Bolsonaro e aumentar sua rejeição, os ataques serão implacáveis. Concentrados em sua maioria nos comerciais que são exibidos ao longo do dia no rádio e na TV, terão foco nas contradições, no destempero verbal e no estímulo à violência que o capitão da reserva protagonizou nos últimos anos.
— Vem muito ferro. Vamos mostrar ele dizendo que não é violento e depois mandando matar 30 mil. Tem muito material — conta um estrategista.
Mudança de tom
Dirceu desautorizado
Na segunda-feira, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Haddad foi questionado sobre declaração de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, segundo a qual "dentro do país, é uma questão de tempo para a gente tomar o poder (...), o que é diferente de ganhar uma eleição". Em sua resposta, declarou: "O ex-ministro não participa da minha campanha, não participará do meu governo e discordo da formulação desta frase. Para mim, a democracia está sempre em primeiro lugar".
Sem constituinte
Também na entrevista ao Jornal Nacional, Haddad disse ter desistido de propor constituinte se eleito, conforme previa inicialmente o programa de governo do PT. O candidato afirmou que pretende fazer reformas, como a bancária e a tributária, por meio de propostas de emenda constitucional enviadas ao Congresso. "Em primeiro lugar, sobre a primeira pergunta (convocação da uma constituinte), revimos o nosso posicionamento. Vamos fazer as reformas devidas por emenda constitucional".
Menos Lula
Na segunda-feira, Haddad foi a Curitiba visitar Lula na carceragem, como faz regularmente, mas o protocolo teve alterações. A entrevista coletiva foi feita em um hotel, e não em frente à superintendência da Polícia Federal. Ao longo dos 18 minutos da conversa, só mencionou o ex-presidente uma vez, ao dizer que mantém "longa amizade" com Ciro Gomes (PDT), "desde o primeiro governo Lula".
Novas imagens
Os materiais da campanha petista estão com novo visual. Sai a figura do ex-presidente Lula e também a expressão "Haddad é Lula". As cores também mudam: vermelho que aparecia em muitas peças é substituído por verde, amarelo e azul nas letras do nome do candidato. A tradicional cor petista fica restrita a um círculo no qual está o número do partido, em amarelo.