Um dia após ser confirmado como vice do candidato a presidente da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, o general reformado do Exército Antonio Hamilton Mourão (PRTB) visitou Caxias do Sul. Convidado da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) para falar sobre os desafios do país durante a reunião-almoço desta segunda-feira (6), ele fez uma análise do cenário e apresentou algumas propostas para um eventual governo. A palestra de Mourão estava prevista para o dia 28 de maio, mas foi transferida devido à greve dos caminhoneiros na época.
Ele também destacou a importância de superar o complexo de vira-latas que os brasileiros, na opinião dele, têm. Porém, quando falou sobre a herança cultural brasileira, disse que os índios são indolentes, e os negros, malandros, causando constrangimento, especialmente porque citou o vereador Edson da Rosa (MDB), que fazia parte da mesa representando o Legislativo caxiense.
— Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena, minha gente, meu pai era amazonense. E a malandragem. Edson (da) Rosa, nada contra, viu, mas a malandragem que é oriunda do africano. Esse é o nosso caldinho cultural.
O vereador Edson da Rosa, que é negro, diz que não encarou a manifestação do general Mourão como polêmica.
— Ele (Mourão) é pardo. Inclusive, falou que o pai dele é indígena. Não falaria mal do pai dele, estaria desconstituindo o próprio pai. Ele tratou o africano em uma dimensão enquanto criação do homem. Passo a lo largo (da polêmica). Na grande maioria, os negros não se sentem e não são malandros. Na grande maioria, os índios não se sentem e não são indolentes. Quem tem de responder se houve alguma outra conotação é o general Mourão. Fui recebido representando a Câmara e ele me tratou com muita cordialidade.
A palestra
O general defendeu o livre mercado, o impulso às exportações e a revisão da gestão do serviço público, com menos cargos em comissão (CCs) e mais servidores de carreira.
Além disso, destacou a necessidade da reforma tributária, com redução de impostos, e de um novo pacto federativo, com a distribuição dos recursos nos Estados e municípios.
— Não faz sentido o prefeito de Caxias do Sul sair daqui para mendigar recursos em Brasília. O prefeito tem de ter o recurso não mão dele. Isso é o novo pacto federativo — disse.
Mourão criticou o Foro de São Paulo, políticos de tendências de direita e esquerda — "abraçadas à corrupção", segundo ele —, assim como os "populistas" e as pessoas que são "reféns" de pesquisas eleitorais. Também não poupou críticas à elite, que, na sua visão permite o "empobrecimento cultural" aceitando "placidamente que a nossa cultura seja formada por Anitta, Pabllo Vittar e Jojo Todynho".
"É um período de presidentes militares"
O general Mourão fez questão de afirmar que defende a democracia, em uma resposta ao presidente da CIC, Ivanir Gasparin. No seu discurso, Gasparin afirmou que, por mais problemas que tenha, "é preferível (a democracia) a qualquer regime de exceção".
— Fora da democracia e fora da liberdade, não há vida para nós. O autoritarismo, a ditadura, não vão resolver problema nenhum da gente. Nem o deputado Bolsonaro, nem eu somos defensores de soluções autoritárias, mas somos, sim, defensores de que o Executivo exerça a sua autoridade — afirmou Mourão.
Durante a coletiva de imprensa, porém, o candidato disse que o período entre 1964 e 1985 não pode ser considerado uma ditadura militar:
— É um período de presidentes militares.
O que disse Mourão na coletiva de imprensa
Reforma Política
"A Reforma Política vem sendo tratada dentro do Congresso com a questão da mudança do sistema de voto, porque com o voto proporcional que nós temos, hoje, dos 513 deputados, só 36 foram realmente eleitos pelo voto. Isso acaba descolando o cidadão da pessoa que elegeu. A maioria das pessoas não lembra quem elegeu. A visão é ir para um voto distrital, que será uma eleição mais barata e vai aproximar muito mais o político do seu eleitor."
Reforma da Previdência
"Esse é um assunto que terá de ser colocado imediatamente na pauta sem, digamos assim, aqueles paradigmas que estão ocorrendo. Porém, também tem de ser transparente, porque existe gente que diz que não tem déficit, outros dizem que tem. Nós temos de chegar a uma conclusão de qual é a verdade. Não resta dúvida, porém, que o nosso modelo previdenciário terá de ser mudado."
Militares e a Previdência
"Os militares há algum tempo, já entraram nessa reforma (da Previdência). A nossa legislação do ano 2000 tirou uma série de privilégios que o grupo militar possuía. Com isso, reduziu os salários de todo mundo. Tanto é que hoje temos três tipos de oficiais dentro do Exército: aqueles que foram para a reserva em 2000, os que estão indo para a reserva agora e os que vão em 2030. O de 2000 ganha mais, o de 2015 ganha menos e o de 2030, menos ainda. Mas existem algumas propostas de aumento do tempo de serviço, como a pensionista pagar contribuição. São coisas que estão na pauta."
Segurança
"A questão da segurança tem de ser combatida em dois aspectos: um é a repressão policial, e aí envolve não só a questão do combate direto, mas a questão dos presídios, a questão da celeridade do Judiciário nos julgamentos. Quantos presos provisórios estão aí? Camarada é pego com uma pequena quantidade de maconha, se ele vai para o presídio como preso provisório, leva tempo para ser julgado e acaba sendo cooptado por uma quadrilha. Outro aspecto é que o Estado tem que entrar nos locais onde estão essas quadrilhas, tem de substituir o papel que o traficante tem lá dentro hoje."
Controle das fronteiras
"Nós temos 15 mil quilômetros de fronteiras. É uma coisa complicada. Temos fronteira que é pura selva, onde a pessoa só entra pelo rio. A maior quantidade de armamento, por exemplo, não entra pela fronteira. O fuzil não vem lá pela Colômbia, vai atravessar todo o Rio Solimões de barco, vir de carro para chegar no Rio de Janeiro. Não. Vem do Exterior, desembarca no porto do Rio de Janeiro e é distribuído. Ele chega em grande quantidade. O que vem mais é a droga da Bolívia e do Paraguai. Aí tem o sistema de monitoramento de fronteira, o famoso Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), que ainda não está pronto por falta de recurso. Era um projeto para ser feito em cinco anos e vai levar quase 10. Com isso, a gente teria mais condições de intensificar a vigilância na fronteira."
Papel do vice
"Eu uso a linguagem militar: é o subcomandante. A minha função é proteger o presidente, sou o 02. Dono da bola é o Jair Bolsonaro. Vou assumir em viagem do Bolsonaro. Bolsonaro não vai sofrer impeachment, porque ele vai fazer um governo maravilhoso e, se Deus quiser, vai ser reeleito."
Ministro
"Eu estava preparado para cumprir qualquer tarefa que o Bolsonaro me desse, seja ministro da Defesa ou da Segurança Pública. Não sei se ele vai manter esse ministério (da Segurança). Temos de ver qual é a proposta dele para isso."
Rejeição de Bolsonaro nas pesquisas
"Nós temos de nos apresentar. Essa rejeição, muitas vezes, é colocada porque parcela da imprensa e a turma da esquerda procuram apresentar o deputado Bolsonaro quase como um troglodita, e ele não é. Ele é um homem do interior de São Paulo, um cara que subiu na vida pelos seus méritos. Quando guri, estudou em escola pública. Depois, fez concurso público para a Academia Militar das Agulhas Negras, se tornou oficial. Foi candidato a vereador, foi eleito no Rio de Janeiro, e a partir daí foi sete vezes eleito deputado. É um homem que se fez. Nunca esteve metido nessas maracutaias ocorridas no Congresso, ou seja, ele tem uma imagem positiva. Agora, o que que se passa? Determinadas declarações polêmicas que ele fez uma vez ou outra são colocadas como se fossem verdade absoluta."
Militares na política
"Existe uma busca de valores na sociedade brasileira e as Forças Armadas sempre se apresentaram como defensoras desses valores. A partir do momento em que há essa demanda da sociedade, o grupo militar diz: 'Bom, minha gente, está na hora de a gente se apresentar para o jogo.' Historicamente, nós sempre tivemos militares na política, no Império, na primeira República, durante o período de Getúlio. A partir de 1964, o presidente Castelo Branco limitou essa participação. Antigamente, o que acontecia era que o militar da ativa, por exemplo, era candidato, passava quatro anos no Congresso, voltava para a Força. Isso não era bom. O presidente cortou e muita gente deixou de se candidatar. E agora voltou o apelo para que o grupo militar se apresente."
Ditadura
"Período de presidentes militares não foi ditadura. Querer qualificar aquilo de ditadura é ir contra a história. Era um governo autoritário? Era um governo autoritário. Exercia de forma forte a sua autoridade. Mas você tinha Congresso funcionando, Judiciário funcionando, você tinha partidos políticos. Tinha instrumento de exceção? Tinha. Ele vigorou durante 10 anos. E vamos lembrar que no governo do presidente Figueiredo não havia nenhum instrumento de exceção. Então, chamar de ditadura não é um raciocínio intelectual correto. Aquilo que estou falando é uma coisa muito clara, aquele período não foi ditadura. Ditadura foi de Getúlio. Agora, uma ditadura no Brasil hoje só vai nos levar a uma guerra civil."