Além dos tradicionais comícios, debates na TV e propaganda eleitoral nas ruas, as eleições deste ano no Brasil contarão com um elemento adicional: são as notícias falsas (fake news), que já deram um exemplo do seu poder nas eleições presidenciais dos Estado Unidos. Por lá, Donald Trump aproveitou a estratégia e saiu vencedor movido a uma bateria de desinformações que favoreceram a sua candidatura.
Aqui no Brasil, o resultado deste fenômeno nas eleições de 2018 ainda é desconhecido, mas especialistas afirmam que tanto usuários das redes sociais como órgãos de controle já estão mais alertas sobre o fenômeno. Por isso, o contexto é um pouco menos suscetível à influência massiva dessas notícias no resultado das eleições.
Na última semana, por exemplo, o Facebook desativou 196 páginas e 87 contas no Brasil. Segundo comunicado oficial, tais páginas e contas estariam propagando notícias que geravam divisão e desinformação.
Um pouco antes, em junho, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luiz Fux, afirmou que o Código Eleitoral brasileiro prevê a anulação da eleição, caso o resultado seja influenciado por fake news.
De acordo com a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Raquel Recuero, que têm estudado o fenômeno neste período pré-campanha eleitoral, esses e outros movimentos mostram que a sociedade já está mais familiarizada com o poder do fenômeno e seus riscos.
— Fake news é uma palavra muito mais comum nos dias de hoje. Existem campanhas a respeito,. Por isso, não acho que possa se repetir aqui algo como o que aconteceu nas eleições dos Estados Unidos. Hoje, as pessoas têm mais cuidado com o que leem, estão mais reticentes em acreditar. Há muito mais descrédito do que crédito — afirma.
Ainda segundo a especialista, dados preliminares sobre seu estudo apontam que, em média, as fake news têm circulado principalmente entre os grupos que já possuem uma linha ideológica favorável àquela postagem, fortalecendo narrativas que já existem em determinadas "bolhas" e não conseguindo influenciar grupos contrários.
É o que acredita também Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo:
— A notícia inventada, fraudulenta, não deve ser capaz, nestas eleições, de se alastrar nas redes de forma massiva. Elas devem ser compartilhadas e lidas por uma determinada bolha pró ou contra uma determinada candidatura para reforçar um discurso.
O especialista alerta, entretanto, que o descrédito das notícias falsas tem dado espaço para a propagação de um outro fenômeno: o das notícias distorcidas. É sobre este, afirma, que as pessoas devem ficar mais atentas:
— Em geral, esse tipo de material possui uma linguagem mais jornalística, com checagem de fatos. É como um material jornalístico, com informações verdadeiras, mas que distorcem o sentido originário da notícia porque vêm carregado de opinião favorável a determinada linha ideológica.
Para não cair nessas armadilhas, é preciso ficar atento. Recuero salienta que a principal recomendação na hora de consumir conteúdo político divulgado em redes sociais é verificar as fontes e evitar textos que tenham manchetes sensacionalistas:
— De um modo geral, o material que vêm de fontes desconhecidas ou que é anônimo, que vem de um lugar sem um corpo editorial, tem grande tendência de ser uma notícia falsa, e é aí que as pessoas devem ficar atentas — conclui.