Da carceragem da Polícia Federal, onde está preso desde abril, o ex-presidente Lula escreveu o roteiro da estratégia política do PT para a eleição deste ano e definiu o tempo para cada ato. Do lançamento de Fernando Haddad como vice, para depois virar candidato a presidente, à aliança com o PC do B, foi Lula quem escolheu o momento do anúncio para garantir maior repercussão. Também partiu de Curitiba a orientação para apoiar candidatos do PSB em Estados estratégicos e, assim, isolar Ciro Gomes (PDT).
Não se pode dizer que foi um roteiro de suspense, porque tudo o que ocorreu era previsível, mas o PT segurou o anúncio até a última hora do prazo legal.
Antes de confirmar Haddad como vice provisório, vaga que ficará com Manuela D’Ávila quando o TSE negar o registro da candidatura de Lula, o PT tentou reinterpretar a resolução do Tribunal Superior Eleitoral que trata dos prazos para a indicação de candidatos.
Alertados pelos advogados de que o vice precisava ser escolhido até 5 de agosto, os petistas confirmaram o que poderiam ter feito na semana passada, quando Manuela aceitou desistir da candidatura. Ao dizer que Lula estava entre Manuela e Ciro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deu a entender que o PC do B era uma espécie de estepe. O que Ciro queria era ser o candidato a presidente com a bênção de Lula, mas sem participar da pantomima de uma renúncia temporária com a promessa de, ali adiante, assumir o papel principal.
Manuela aceitou ficar no banco de reservas em nome da “unidade da esquerda”. Como subproduto do acordo, no Rio Grande do Sul o PC do B desistiu da candidatura de Abigail Pereira ao Piratini. Ela disputará o Senado, ao lado de Paulo Paim (PT).
Lula escreveu outra cena destinada a ganhar tempo na sua estratégia de permanecer candidato o maior tempo possível. Sua defesa retirou do Supremo Tribunal Federal o pedido para aguardar o julgamento em liberdade, que deveria ser apreciado nesta semana. O objetivo é evitar que o Supremo antecipe a discussão de sua inelegibilidade, o que só deverá ocorrer no Tribunal Superior Eleitoral após o registro da chapa, em 15 de agosto.
ALIÁS: Se funciona como apêndice do PT em quase todas as eleições, o PC do B deveria pensar em fusão no futuro. Já ficou claro que a palavra comunista afugenta eleitores e constrange os candidatos.