Quinze metros quadrados de clausura não impediram que um apenado do sistema carcerário ditasse os rumos da esquerda nas eleições de outubro. De dentro da Superintendência da Polícia Federal no Paraná, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva isolou Ciro Gomes (PDT), impediu o PSB de fechar alianças, sepultou a candidatura de Manuela D’Ávila (PC do B) e ungiu Fernando Haddad (PT) como seu substituto nas urnas.
A tática do bilhetinho e do velho telefone sem fio serviram de instrumentos para o petista segurar, até os últimos minutos possíveis, a chapa a ser registrada na Justiça Eleitoral em 15 de agosto. Para fazer valer suas vontades, Lula utiliza uma rede de emissários que toda semana o visitam em Curitiba.
Foi assim na sexta-feira, quando Haddad, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o tesoureiro Emídio de Souza desembarcaram de um jatinho e seguiram para o bairro Santa Cândida, onde fica a sede da PF. Na ocasião, Lula já havia escrito uma carta indicando Haddad como seu vice, mas deu ordens explícitas para que ela só fosse divulgada quando todas as negociações com PDT e PC do B chegassem a impasse intransponível. Pela lógica lulista, missão dada é missão cumprida, mesmo que seja necessário sacrificar aliados.
Além das lideranças políticas, pelo menos oito advogados têm permissão para conversar reservadamente com o petista. Para facilitar o leva e traz, Lula contratou um advogado paranaense, Manoel Caetano Ferreira Filho, cujas visitas à PF são quase diárias. Os despachos do ex-presidente, escritos a mão, são repassados a Marco Aurélio Ribeiro, funcionário do Instituto Lula.
Cabe a ele fotografar os bilhetes e enviá-los via WhatsApp. A tecnologia também permite a Lula se inteirar dos conchavos além-cela. Como a carceragem da PF proíbe que as visitas portem celular durante as visitas, ele recebe um pendrive com gravações de reuniões políticas e escuta o conteúdo com o equipamento acoplado à TV.
Dar ordens da cadeia não é novidade para Lula. Quando esteve preso em 1980, por incitar greves operárias, o então líder sindical recorreu ao mesmo expediente. Após um juiz condicionar a concessão de um habeas corpus ao fim da greve, os metalúrgicos divulgaram mensagem na qual ele avisava: “Se quiserem negociar nossa liberdade com o retorno dos companheiros de cabeça baixa para dentro das fábricas, vamos mofar aqui dentro da cadeia”. Lula sabe que não será solto tão cedo, mas não há muro alto e guarda armado que o faça abdicar do posto de grão-vizir petista.