Ditados da cadeia pelo ex-presidente Lula e executados pela senadora Gleisi Hoffmann, os movimentos erráticos do PT nos últimos dias ameaçam aprofundar o isolamento do partido e semeiam confusão em diferentes Estados. A aliança com o PC do B, que estava praticamente fechada, pode ruir diante das declarações confusas de Gleisi, dadas depois do encontro em que Lula deveria transmitir as últimas instruções antes da convenção.
Pelo acordo alinhavado, a deputada Manuela D’Ávila abriria mão de concorrer ao Planalto para ser vice de Lula ou do candidato que vier a substituí-lo se a Justiça Eleitoral não aceitar o registro da candidatura. Só que Gleisi saiu do encontro com o ex-presidente dizendo que ele freou a negociação e que deixará a escolha do vice para depois de 5 de agosto. A resolução do TSE é claríssima: os candidatos e as coligações têm de ser definidos nas convenções, até 5 de agosto. Sem uma ata fechada, não há como registrar a chapa a ser inscrita até o dia 15.
Especialista em Direito Eleitoral, o advogado Antônio Augusto Mayer dos Santos garante que essa possibilidade não existe. O que os partidos podem fazer é indicar um candidato a vice e substituí-lo até 17 de setembro.
A insistência de Lula em adiar a escolha do vice para além do prazo legal só teria uma explicação: dar à Justiça Eleitoral um outro pretexto para não registrar a chapa que não a sua condição de ficha suja.
Para piorar a relação com o PC do B, Gleisi foi desrespeitosa com Manuela ao dizer que o PT estaria entre ela e Ciro Gomes para vice de Lula. Trata-se de clara provocação a Ciro, que nem em sonho pensa em ser vice do PT, mas ofende uma aliada fiel como Manuela.
Esse não é o único movimento controvertido de Lula, que irritou filiados pelo Brasil afora ao negociar um acordo com o PSB que implica sacrificar candidaturas nascentes no PT, como a de Marília Arraes em Pernambuco. Por trás desse acordo está um movimento pouco nobre para quem, nos discursos, defendia a união da esquerda: impedir que o PSB apoie Ciro, um líder que ameaça sua hegemonia no Nordeste.
Na solidão do cárcere, Lula age como se o mundo girasse em torno dele. E Gleisi, no papel de ventríloqua, acaba fechando a porta para aliança com antigos parceiros.