A falta de resposta para o assassinato do médico Guilherme de Oliveira Lahm, 34 anos, causa angústia nos familiares em Caxias do Sul. Nesta terça-feira (5), o crime no bairro Rio Branco completa cem dias sem ter suspeitos identificados ou uma sinalização do motivo da execução.
Guilherme foi morto com três tiros na frente da família na noite de 27 de março. Ele havia retornado de um show sertanejo e buscava os dois filhos na casa da mãe quando um atirador chegou a pé. As características sugerem que o assassino tinha informações da rotina da vítima e, possivelmente, foi contratado para cometer o assassinato.
As imagens colhidas em câmeras do bairro Rio Branco apontaram que mais de uma pessoa esteve envolvida no assassinato naquela noite. Os investigadores também conseguiram determinar o modelo do carro que foi utilizado pelos criminosos para chegar e fugir do local. Contudo, ainda não foi possível rastrear o veículo e nem identificar os autores. A suspeita é que eles não sejam da região.
Apesar de entender o interesse público no caso, a Delegacia de Homicídios opta por manter em sigilo a investigação e evita comentários. O receio é que novas informações possam frustrar as próximas diligências.
— É um caso bastante rumoroso e que a nossa delegacia tem como uma questão de honra resolver. A investigação segue. Obviamente, é um caso complexo e que demanda mais tempo, até pelas peculiaridades que o contexto se deu. As investigações segue e estamos aprofundando, excluindo hipóteses e reforçando outras linhas — afirma o delegado Caio Márcio Fernandes.
Titular da Homicídios desde novembro de 2020, o delegado Fernandes admite que o assassinato foge do comum, que são crimes relacionados ao tráfico de drogas ou desavenças pontuais em que o autor ataca o seu desafeto. A comparação que faz é com a morte do serralheiro Henrique Camícia, 21, crime registrado em 24 de fevereiro do ano passado.
— Foi um caso em que demoramos quase 10 meses para identificar a autoria. Mas, em momento nenhum, desanimamos. É semelhante justamente porque foram indivíduos contratados para fazer a execução. Naquele caso eram (criminosos) de fora da cidade, por isso dificultava a identificação — lembra.
Naquela execução, a vítima também não tinha antecedentes criminais. Os investigadores tinham imagens dos assassinos, mas não conseguiam a identificação por não serem conhecidos na cidade. Foi por uma comparação diária de cada prisão na Serra que os investigadores chegaram até dois presos por tráfico de drogas. Confrontado com as imagens, um dos suspeitos confessou o homicídio.
— Seguimos em busca da identificação dos autores pelas imagens (do caso do médico). Nosso cotidiano é dinâmico e, a cada dia, temos contato com novos criminosos, o que aumenta este rol de suspeitos e executores. Muitas vezes, os autores de um crime são identificados em razão da prática de outros crimes — afirma o delegado Caio.
Caso é envolvido em boatos, mas poucas evidências
O assassinato do médico foi seguido de muitos boatos sobre as mais diversas motivações para o crime. A Delegacia de Homicídios afirma que todas informações são coletadas, mas que o inquérito policial precisa ser técnico e produzir provas concretas.
— Não descartamos nenhuma hipótese. Só que motivação é subjetiva: o que para uma pessoa pode ser motivo, para outra não é justificativa para um ato desses. Precisamos ter calma na apuração e trabalhar de maneira técnica — pondera o delegado Fernandes.
Uma das preocupações do chefe da Homicídios foi de evitar o excesso de informações em apenas um sentido, o que poderia esconder outras hipóteses e beneficiar os autores.
— Que família não têm conflitos? Se só focarmos nesta questão familiar, todos os homicídios poderíamos trabalhar esta hipótese. Mas, nem sempre é o que acontece. Todas as famílias têm algum nível de conflito. A dúvida é se é suficiente para algum dos integrantes ter uma atitude tão drástica — analisa.
Entre as informações iniciais sobre o caso, familiares relataram que Guilherme estava sendo perseguido e ameaçado. Conforme a Polícia Civil, as ameaças recebidas não eram de contatos próximos do médico. O delegado Fernandes define as mensagens como genéricas.
— Temos cópias dessas conversas, mas não basta ser ameaçado, precisamos entender as razões dessa ameaça. É o que investigamos. Temos algumas sugestões da autoria (das ameaças), mas, infelizmente, em Caxias do Sul, estes golpes de extorsão e ameaças são reiterados. Não descartamos a possibilidade de não serem ameaças reais.
A investigação prossegue em duas linhas: uma é identificar os autores que aparecem nas imagens, que aparentemente não conheciam o médico e foram contratados para o cometer o crime. A outra é descobrir a motivação e quem ordenou este assassinato.
Sem suspeitos ou motivo, família vive com medo
A falta de respostas incomoda a família de Guilherme, que realizou mais de uma manifestação pela cidade para evitar que o crime seja esquecido. Os familiares também contrataram os advogados Giovana dos Reis e Vinicius Octávio Reis para auxiliar no acompanhamento do inquérito policial.
Por nota, os advogados apontam que as investigações prosseguem sem nenhum suspeito preso até o momento. As diligências possuem segredo de Justiça para que não ocorra qualquer qualquer interferência no caso. Por isso, há poucos detalhes divulgados.
Os advogados reforçam que a família vive em angústia diária e com medo, afinal os assassinos estão soltos. Por enquanto, segundo a nota, não há qualquer sinalização por parte das autoridades de que o caso terá um desfecho positivo.