Desde que a Surdolimpíadas se iniciaram, com os jogos de futebol no sábado (30), até esta quarta-feira (4), o sol não apareceu em Caxias do Sul. Na segunda-feira (2), o clima úmido teve seu ápice nas tomadas de tempo do Ciclismo, em Farroupilha.
Abrigado na recepção do hotel em Caravaggio, enquanto acompanhava os tempos da equipe portuguesa, o presidente do Comitê Paralímpico de Portugal, João Manoel Lourenço comentava: "Isso não é Brasil".
Se comparadas às imagens do país vendidas em outros cantos do mundo, é verdade que as paisagens tomadas por neblina e garoa fina da Serra em nada se assemelham com as praias ensolaradas do litoral brasileiro. Mas o clima frio e a chuva constante não intimidam os atletas de 77 delegações que disputam as 20 modalidades das Surdolimpíadas, em Caxias do Sul.
Da Venezuela, a técnica do Caratê, Gioconta Margarita, garante que nenhum conterrâneo passará frio na Serra, mesmo que vindo de um país com clima definido por ela como "delicioso e tropical".
—Viemos preparados, faz muito frio, mas estamos bem abrigados para competir concentrados — comentou Gioconta.
Também da América do Sul, mas vizinhos do Rio Grande do Sul e acostumados com o frio, os tenistas uruguaios que disputam a modalidade no Recreio da Juventude compartilhavam de um bom mate para se esquentar na Praça Surdolímpica. A coach da equipe, Sabrina Libonatti, encontrou aqui condições muito familiares de mudanças repentinas do clima.
— No Uruguai muda todo o tempo. Temos, no mesmo dia, chuva, frio e calor. Mas a chuva incomoda muito, porque estamos sempre molhados, é impossível manter a roupa seca — contou ao lado do fisioterapeuta argentino Guido Trevisi, que realizou a pré-temporada no calor de Córdoba e agora enfrenta a diferença de temperatura.
A meteorologia desfavorável dos primeiros dias de maio também obriga a reorganização das competições por parte do Comitê Surdolímpico, que precisou realizar ao menos duas mudanças nas praças esportivas. Os jogos que seriam realizados no Ginásio do Vascão, uma das praças que receberiam o basquete, foram levados ao Sesi devido a goteiras. O vôlei de praia, a ser realizado em local aberto, ao lado do Ginásio Poliesportivo da UCS, foi transferido para uma quadra fechada.
Mesmo que boa parte das delegações tivessem ciência da possibilidade de um clima mais frio na Serra, há relatos de atletas e comissões que têm enfrentado dificuldades por conta das baixas temperaturas. De toda forma, eles têm encontrado soluções com o empréstimo de roupas e até cobertores.
Por outro lado, há a expectativa por uma virada climática a partir do final de semana. Quem sabe, aí sim, algo mais próximo de uma Surdolimpíada de Verão.
Movimentação econômica
Enquanto isso, a roda da economia gira com a venda de artigos de inverno. Instalado na Praça Surdolímpica, o consultor de vendas da Kenpo Sports, Gabriel Neves, confirma a realidade vivida pelos atletas que diariamente procuram abrigos e roupas térmicas.
— O frio pegou bastante gente de surpresa. Muita gente chega pedindo materiais de frio, e roupas térmicas para prática de esporte. E a gente faz vendas interessantes, tentando ajudar o pessoal que realmente está precisando de material. Todos os dias chegam atletas aqui, principalmente de países asiáticos e africanos.
Para não ser pego de surpresa, quem dá a dica é o cubano Manoel Salgado. Técnico do Ciclismo, Salgado investigou se haveria frio na cidade nos dias dos Jogos, "mas não como o que estamos sentindo hoje", admitiu ele.
— Os atletas estão com frio, mas vão dar o máximo, como estão acostumados os cubanos — prometeu.