— Precisamos do apoio de vocês.
Foi dessa forma que a principal surdoatleta da Seleção brasileira feminina de futebol fez um pedido após a estreia do Brasil na 24ª edição das Surdolimpíadas. Logo de cara, as meninas do Brasil enfrentaram a grande favorita ao ouro, a seleção dos Estados Unidos. O placar foi de 4 a 0 para as americanas. Após o jogo, Stefany Krebs, 23 anos, não deixou a frustração da derrota abalar o orgulho de vestir a amarelinha.
— É a primeira vez dos Jogos na América Latina, estamos muito orgulhosas. A gente sabe que a seleção dos Estados Unidos é muito forte. Elas têm um apoio muito diferente do nosso, e uma tradição muito diferente. Tivemos apenas um mês de treino devido à pandemia, mas acreditamos sim. É o primeiro jogo, vamos erguer a cabeça. É uma emoção muito grande jogar pelo Brasil e no Brasil — destacou a camisa 10 com auxílio da intérprete da seleção Grasiele Pavan.
Natural de Erechim, Stefany conta os dias para ter a presença da família na arquibancada no final de semana. Atualmente, a atleta gaúcha não atua em nenhum clube profissional. A convocação pela Confederação Brasileira de Desportos para Surdos (CBDS) é a oportunidade de seguir no futebol.
— Eu joguei no Palmeiras, por um ano. Voltei agora a vida normal após a pandemia, estou estudando, me formei em educação física. Estou sem nenhum clube, só treinando com atletas amadores e competindo pela CBDS. Quem sabe, abra portas para entrar em algum clube — diz a surdoatleta.
APELO
Em 2020, a atleta foi contratada pelo Palmeiras para integrar o time feminino. Ela quebrou uma barreira sendo a primeira surdoatleta entre os ouvintes. Agora, deseja seguir no futebol e sonha em chegar à disputa da medalha de ouro. A atleta da seleção também fez um apelo à sociedade.
— Eu, neste momento, tenho como sonho conseguir chegar na final. A equipe é muito unida em prol desse sonho. Quero esse sonho e em prol da CBF, que reconheça o futebol surdo, que possam ser abertas portas a partir desses jogos. Os surdos são segregados e, na verdade, a gente joga, treina e têm condições de competir como os ouvintes. E também o meu sonho que é possamos receber mais apoio. Precisamos do bolsa atleta, temos de estar mais preparados fisicamente. A gente paga do próprio bolso as viagens e algumas têm dificuldades, estão desempregadas. A falta de de apoio atrapalha bastante — desabafou a camisa 10.
A surdoatleta disse que se adaptou bem ao futebol, mas não esconde o amor pelo futsal, onde começou a jogar aos 12 anos. Em cada expressão enquanto se comunica pela Língua Brasileira de Sinais (Libras), é possível sentir pelo olhar e gestual o seu amor pelo esporte. Tefy, como é carinhosamente conhecida pelos amigos, também pede que os surdoatletas não desistam.
— Peço que todos os atletas surdos não desistam, que cada um lute pelos seus sonhos, que acreditem. Quando falo em esporte surdo, eu penso no valor que a gente tem, na coragem de representar o país independente das dificuldades, mesmo sem bolsa e apoio. Mas a gente está aqui, coloca o pé em campo pelo Brasil. Peço aos surdoatletas e a sociedade para valorizar o esporte surdo. A gente sabe que para os ouvintes existem mais portas que para os surdos — expôs Stefany.