O ginásio da Fundação Marcopolo parecia o Maracanãzinho em um jogo da seleção feminina de vôlei de José Roberto Guimarães quando atua em solo brasileiro. As arquibancadas estavam cheias de crianças e adultos que torciam pela estreia da seleção feminina do Brasil nas Surdolimpíadas. Tem sido um hábito durante as competições em Caxias do Sul, que alunos de escolas da região frequentem os jogos e torçam pelas equipes brasileiras (foi assim no handebol e no basquete nos últimos dias).
O jogo com as mexicanas ainda nem tinha começado, mas os gritos de "Brasil" e "eu acredito" ressonavam pelos quatro cantos do ginásio. Em um cantinho, um pouco mais escondida, estava a família de uma das atletas que entrou em quadra defendendo o país. Naturais de Nova Palma, 289km de distância de Caxias do Sul, Adroaldo Santi e Miriam Santi são mais do que torcedores brasileiros, são também pais de Eduarda Santi, 28 anos, que representa o Brasil na 24ª edição das Surdolimpíadas.
E dessa vez, eles não vieram sozinhos. Enrolada em um cobertor e deitada no cimento frio do centro poliesportivo Paulo Bellini estava Flor, uma vira-lata, mascote da família Santi. Todos vieram ver um dos pontos mais altos da carreira de jogadora da filha.
— A Flor geralmente fica com um ou com outro, mas como nós dois viemos hoje, ela veio junto. É um privilégio ver a nossa filha em uma competição como essa. É a seleção de vôlei. É uma alegria imensa para toda a nossa família, para os nossos amigos. É uma prova de superação dela — conta Adroaldo.
Duda, como é chamada, tem surdez profunda, foi diagnosticada quando tinha um ano e meio. Desde então, seus pais se desdobravam para que ela aprendesse a falar e a se adaptar ao uso de aparelhos auditivos. A família chegava a pegar dois ônibus de linha para chegar a Santa Maria e consultar a fonoaudióloga responsável por ajudar a menina.
O resultado não poderia ser diferente. Duda não só é atleta da seleção feminina de vôlei para surdos, como é formada em Medicina Veterinária, tem mestrado e atualmente faz doutorado na Universidade Federal de Santa Maria.
— A gente nunca fez diferença pela surdez. Nunca passamos a mão. A gente teve um cuidado especial para que ela não parasse no tempo. Nunca tivemos pena. Hoje, isso aqui, é uma realização minha também. Ouvimos os profissionais e nunca negamos o problema dela. O resultado está aí — afirma a mãe dela, que também tem outra filha, Mariana, que ficou torcendo em Nova Palma.