Há exatos 70 anos, em 29 de novembro de 1952, Serenita Maria Adami e Dionysio Guido Giazzon subiam ao altar da Catedral Diocesana de Caxias do Sul para dar início a uma união de fazer inveja - seja pela longevidade, seja pelo clima de “eternos namorados”. Com direito até a uma declaração em vídeo pelo celular durante a entrevista da última quinta-feira, quando Dionysio, 93 anos, ainda encontrava-se no hospital, recuperando-se de uma pequena cirurgia (leia mais abaixo). Ele retornou para casa domingo, para celebrar as bodas de vinho, pelos 70 anos de união, ao lado da esposa e da família.
Toda essa história remete ao ano de 1949, quando os dois jovens divertiam-se em um baile de Carnaval no antigo Cine Theatro Apollo (antecessor do Ópera) - ele dançando com uma amiga dela, ela, com um amigo dele. Isso não impediu que a “folia” rendesse o início de um namoro e noivado que perduraria pelos dois anos seguintes.
Era a época em que Dionysio atuava na seção de gravação da Metalúrgica Abramo Eberle e Serenita dava início a sua trajetória profissional como escriturária da Prefeitura Municipal, logo após a formatura em Técnico em Contabilidade pelo Ginásio São Carlos, em 1947.
O casamento chegou no finalzinho de 1952 e, conforme lembra dona Serenita, ocorreu menos de uma semana após o fatídico incêndio que atingiu a Ferragem Caxiense e a Casa Minghelli, a poucos metros da Catedral, em 23 de novembro de 1952.
— Foi no domingo, e nós casamos no sábado seguinte. Ainda se sentia cheiro de fumaça no ar — recorda dona Serenita, 96 anos.
FAMÍLIA E FILME
Filha única do casal, Eloisa Giazzon nasceu quatro anos após o casamento, em 27 de dezembro de 1956, dando a Dionysio e Serenita os netos Marcelo e Pedro. Pedro, aliás, foi o proponente do projeto sobre a trajetória do bisavô, João Spadari Adami, pai de dona Serenita.
O resultado foi o belíssimo documentário O Guardador de Histórias, lançado em 2021. Dirigido e roteirizado por Leandro Daros, o filme resgatou a trajetória do barbeiro e alfaiate que, ao longo de boa parte do século 20, dedicou-se a pesquisar, salvaguardar e difundir a história de Caxias.
Uma história da qual dona Serenita e seu Dionysio foram, ao mesmo tempo, testemunhas e personagens. Ele, acompanhando a evolução da metalurgia na cidade, desde o ingresso na Eberle, aos 13 anos, em plena Segunda Guerra Mundial, até chegar ao cargo de diretor e acionista da empresa.
Ela, atuando na administração municipal por quase 32 anos, vivenciado a rotina de gabinete de prefeitos como Luciano Corsetti, Euclides Triches, Hermes Weber, Rubem Bento Alves, Bernardino Conte, Armando Biazus, Victorio Trez, Mário Ramos, Mário Vanin e Mansueto Serafini Filho - até se aposentar, em 1978.
CARTÃO DE ANIVERSÁRIO EM 1950
Nas imagens desta página, alguns momentos “garimpados” num dos tantos álbuns de recordação do casal, como a tradicional fotografia de casamento dos noivos no Studio Geremia - registro preservado na moldura original e exibido na parede de casa até hoje (abaixo).
Mais acima, os noivos durante um baile no Juvenil em 1950, mesmo ano em que Dionysio, atuando como gravador da Eberle, presenteou a então namorada com um cartão em bronze: "Serenita Adami, meus sinceros cumprimentos e votos de felicidade pelo teu aniversário. Dionísio, Caxias, 17-6-1950."
Passados 72 anos, o clima de romance permanece. Do hospital, onde ainda se encontrava em recuperação, na última semana, Dionysio gravou um vídeo dirigindo-se à esposa pelo nome íntimo: “Serena, eu te amo”.
A saber: alusivas aos 70 anos de casamento, as bodas de vinho são seguidas de bodas de zinco (71 anos), aveia (72), manjerona (73), macieira (74), brilhante (75) e bodas de nogueira (80 anos).
BANCO DE OLHOS
Impossível falar de dona Serenita e seu Dionysio sem mencionar a atuação de ambos junto ao Lions São Pelegrino e ao Banco de Olhos do Hospital Pompéia, fundado em 24 de julho de 1979. Seu Dionysio esteve à frente da entidade desde o surgimento, contribuindo para que a organização fosse umas das mais reconhecidas e importantes do Estado na busca por zerar a fila de espera por transplantes de córnea.
— Fiz muita campanha para doação desde que criamos o Banco e acho que o segredo para o sucesso que temos é fazer tudo com muita boa vontade. Eu sempre fui voluntário e fiz tudo assim. Mesmo com essa idade eu não penso em parar, eu sou apaixonado pelo que eu faço — revelou em uma entrevista ao Pioneiro em 2019, quando o Banco de Olhos celebrou 40 anos.