Completando 40 anos nesta quarta-feira, o Banco de Olhos do Hospital Pompéia tem mais de 3,2 mil motivos para comemorar. Esse número expressivo representa uma estimativa do total de doadores captados ao longo das quatro décadas de atuação da entidade em Caxias do Sul. Fundado em 24 de julho de 1979 pelo Lions Clube São Pelegrino, o Banco de Olhos foi criado com o intuito de zerar a fila de espera de transplantes de córnea no Rio Grande do Sul e foi desenvolvendo esse trabalho exemplar na captação de tecidos, que a organização tornou-se uma das mais reconhecidas e importantes do Estado.
Entre as diversas pessoas que já passaram pela entidade, nenhuma delas é mais marcante do que Dionysio Giazzon, de 90 anos. Isso porque o administrador e técnico em optometria esteve à frente da organização desde sua fundação:
_ Antes de ser inaugurado no Hospital Pompéia, o Banco funcionava junto à Unimed Nordeste. Ficamos lá durante 26 anos e nesse período eu trabalhava praticamente sozinho. Em 2006, a gente se instalou no Pompéia. Em 2017, alcançamos a meta de zerar a fila de espera, com ajuda de outros Bancos do Rio Grande do Sul _ conta.
Mesmo com a idade avançada, Giazzon faz questão de visitar a organização a cada duas semanas e acompanhar de perto as atividades desenvolvidas pela equipe. Apesar de atualmente a lista de espera estadual não estar mais zerada (107 pacientes aguardam por um transplante de córnea), ele comemora a média de 20 captações mensais feitas pelo banco, que recebe doadores de tecidos oculares de toda a região da Serra. Giazzon reforça que o número de captações está fortemente relacionado ao trabalho de conscientização desenvolvido junto à população.
_Fiz muita campanha para doação desde que criamos o Banco e acho que o segredo para o sucesso que temos é fazer tudo com muita boa vontade. Eu sempre fui voluntário e fiz tudo assim. Mesmo com essa idade eu não penso em parar, eu sou apaixonado pelo que eu faço _ revela emocionado.
O milésimo doador
A doação de órgãos ainda pode ser um tabu para muitos, porém para as pessoas dispostas a tomar essa decisão tão significativa em um momento de luto, o conforto pode vir da compreensão de se estar ajudando alguém que espera por um transplante. Ao menos é o que conta Fernanda Pimentel, 37, que há oito anos perdeu o pai, Adimar Luiz Pimentel. Ele morreu aos 49 anos, em decorrência de um aneurisma, no ano de 2011.
_A gente se sentiu consolado ao fazer a doação das córneas. O pai era uma pessoa muito boa, que sempre ajudava todo mundo. Temos certeza que ele ficou muito feliz de poder ajudar alguém mesmo nesse momento_ afirma.
Fernanda conta que a decisão de fazer a doação veio depois da equipe conversar com sua mãe.
_Foi tudo muito rápido. Eles falaram com a mãe e ela pediu o que a gente achava. Juntos nós decidimos tomar essas atitude .
Sem saber, a família escreveu o nome de Adimar de maneira especial na história do Banco de Olhos: ele foi o milésimo doador de córneas da instituição. Para homenagear o gesto da família Pimentel e honrar todas as outras que já ajudaram a amenizar o sofrimento dos que estão na fila do transplante, uma placa foi afixada na portaria central do Hospital Pompéia.
_ As córneas dele estão dando alegria para duas outras pessoas. Essa homenagem que está lá no hospital mostra para todo mundo o grande homem que foi o meu pai.
"Não tem explicação a gratidão que a gente fica"
Ladia Pitol Dutra, 58, descobriu depois de várias consultas para miopia que tinha uma doença rara chamada ceratocone, em que a córnea torna-se pontiaguda, curvando-se para fora e exigindo em casos extremos_ como o dela_ um transplante. O primeiro transplante ocorreu nos anos 2000, após aguardar durante 4 anos por um doador; já o segundo ocorreu em 2008, depois de cerca de 4 meses na lista de espera.
_É estranho porque a chegada do teu transplante não é algo programado. Ele chega e tu tem que ir. É uma notícia que te chacoalha pra vida e te dá um frio na barriga. Eu sou muito grata por ter conseguido o transplante para os dois olhos_ comemora.
A bancária aposentada salienta sobre a importância da família estar disposta a autorizar a doação mesmo em um momento difícil, já que um corpo pode tirar várias pessoas da fila de espera. Sobre ter recebido a doação conta animada:
_Não tem explicação a gratidão que a gente fica de poder receber uma córnea e voltar a enxergar. A doação é a doação do amor que tu tem por essa pessoa. Esse amor chega na gente, isso é muito bonito.