Para muitos jovens das décadas de 1940, 1950 e 1960, a melhor parte da obrigatória missa matutina de domingo na Catedral Diocesana era quando ela… acabava. A bênção final significava o início da paquera na Praça Dante Alighieri, quando as famílias dispersavam.
O footing (passeio a pé) pelos arredores da praça consolidou-se em programa obrigatório para milhares de caxienses naqueles tempos – tanto que foi recordado no livro Anedotário da Praça Dante, seleção de relatos curiosos organizada pela jornalista Suelen Spido Mapelli.
O jornalista Maico Vogel, autor do texto Quem se Lembra do Footing?, detalhou o pré-ritual:
"A maioria saía de casa a pé até a Catedral. Não eram raros os momentos em que os pais sempre reclamavam que as filhas demoravam muito para se arrumar. Afinal, todos estavam indo à missa, não a um casamento. Mas para elas, a ocasião merecia um cuidado especial".
LINGUAGEM DOS OLHOS
No livro Cinema: Lembranças…, as professoras Kenia Pozenato e Loraine Slomp Giron também definiram esse hábito, que perduraria até meados dos anos 1960 – quando os cinemas de rua e o burburinho urbano começaram a sofrer com a concorrência da televisão.
"Era chamado de footing o passeio das jovens casadoiras, de um lado a outro, enquanto os rapazes ficavam parados, flertando ou dando uma linha, como eram definidos os olhares trocados entre moços e moças – revelando ou não o interesse. Essa espécie de desfile era uma forma de namoro à distância, na qual era usada a linguagem dos olhos".
Ainda conforme as autoras, após a missa e o footing, os jovens podiam dirigir-se ao campo do Sport Club Juventude para assistir a uma partida de futebol ou conferir as matinés dos cinemas Guarany, Ópera e Central. Programas que, indiretamente ou não, contribuíram para selar alguns romances que perduram até hoje...
Parte das informações desta página foi publicada originalmente na coluna de 18 de março de 2015.
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Lembranças de seu Romeu Rossi
Seu Romeu Rossi, 89 anos, era assíduo frequentador do footing de domingo. Hoje aposentado do Banco do Brasil, o jovem solteiro costumava “circular” pela praça com os amigos de todo final de semana, conforme vemos na imagem ao lado. Estão ali Aldo Batastini, o jovem Romeu, Laurindo Rech, Romeu Rasia e Ivo Jaconi. Ele recorda daqueles tempos com detalhes:
– No sábado à noite, era Cinema Guarany e festas em salões de igrejas, muito concorridas. No domingo de manhã, missa das nove na Catedral e depois o footing em frente ao Cine Central, indo da Farmácia Central até a esquina da Rua Dr. Montaury. Todas as moças e rapazes solteiros da cidade. Ao meio-dia, geralmente, um fazia um churrasco ou almoçávamos num restaurante. À tarde, todos tinham bicicleta, e pedalávamos por Caxias. Raramente íamos a futebol. À noite, era sempre cinema – lembra seu Romeu, que até hoje mora em frente à praça, no Edifício Solaris, na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Rua Dr. Montaury.
Modismo
Os passeios no trecho da Júlio entre a a Dr. Montaury e a Marquês do Herval, defronte à Praça, também repetiam um modismo verificado na tradicional Rua da Praia, em Porto Alegre – com lambe-lambes e fotógrafos de plantão oferecendo um registro dos jovens e suas famílias e do movimento no Centro.