Pesquisador, historiador e cronista da Caxias de antigamente, João Spadari Adami (1897-1972) eternizou costumes, personagens e curiosidades da então Vila de Santa Teresa em diversos livros e jornais editados entre os anos 1950 e 1960. Nas páginas do Pioneiro, resgatou o passado da cidade em colunas e seções que dialogavam com o trabalho desenvolvido junto ao Centro Informativo da História Caxiense, inaugurado por ele em 3 de março de 1963, na Rua Sinimbu, em frente à Metalúrgica Abramo Eberle.
Uma delas, intitulada “Você Sabia?”, foi publicada em 31 de dezembro de 1965, indagando aos leitores da época se eles realmente conheciam a Caxias da foto acima, de meados de 1911. Boa parte dos tópicos destaca as primeiras olarias instaladas na área central da cidade.
Confira abaixo:
VOCÊ SABIA?
:: QUE a Catedral Diocesana de Caxias do Sul, bem como a Praça Rui Barbosa à sua frente, inclusive a parte da Av. Júlio de Castilhos entre o referido logradouro e o Cine Central, era uma colina da altura da soleira do pórtico do citado templo?
:: QUE a metade do pátio do Ginásio Nossa Senhora do Carmo e metade da rua à sua frente (Os Dezoito do Forte) formavam uma lagoa e que, para o escoamento da água da mesma, foi construído um bueiro, o qual passa pela quadra número 24, por baixo do lote número 10, atualmente de propriedade do senhor Benvenuto Ronca? Que ele atravessa obliquamente a dita quadra, passa sob os edifícios Veneza, Cine Imperial, Prataviera, Banco da Lavoura de Minas Gerais, Coletoria Estadual, assim continuando até entrar no arroio que cruza o Arrabalde de Santa Catarina?
:: QUE o lote número 10, da quadra número 14, nos primórdios da fundação da cidade, era reservado ao público, por existir nele, quase em divisa com a Rua Sinimbu, uma forte vertente de uma das melhores águas deste ex-Campo dos Bugres?
:: QUE o lote número 10, da quadra número 3, esquina das ruas Pinheiro Machado e Garibaldi, também estava reservado ao público, por existirem ali várias fontes, umas para lavar roupas, outras para beber água?
:: QUE no ano de 1883, o imigrante Celso Zaccani requereu e obteve do Diretor da Colônia Caxias, para montar nela uma olaria, a quadra número 78, a qual, conjuntamente corn a fábrica de tijolos, anos depois a vendeu a Pedro Tomasi?
:: QUE nas quadras números 37 e 38, Rodolfo Felix Laner tinha uma bem montada olaria?
:: QUE na quadra número 19, os irmãos Antônio e Ângelo Manfro tiveram uma fábrica de tijolos?
:: QUE Ambrosio Fasoli, à quadra número 10, possuiu uma olaria?
:: QUE o toscano Luiz Rossi, em sua colônia (no local da hoje quadro número 498), lado sul do Pavilhão da Exposição (prefeitura), teve uma olaria também?
:: QUE nos lotes números 4, 6 e 8, da quadra número 48, Salvador Sartori e Filhos tinham um curtume e que a água necessária para o funcionamento do mesmo procedia do grande banhado que existia nos fundos do Banco da Província?
:: QUE os Irmãos Sartori, em seu lote número 10, da quadra do Cine Central, esquina fronteira ao Clube Juvenil, carneavam animais bovinos para seu açougue, o mesmo fazendo Clemente Picchi em seu meio lote número 10, quadra do Banco da Província, na esquina da Av. Júlio de Castilhos com a Rua Alfredo Chaves?
:: QUE houve época em que o presépio para as festas de Natal da nossa Igreja Matriz era dotado de um chafariz? E a água, por não haver ainda a encanada como hoje, era carregada no pulso por um grupo de guris até um depósito colocado numa altura superior ao dito chafariz? E que após passar por ele, caía num outro depósito, de onde era retirada e reconduzida pelos referidos carregadores para o depósito superior. E que a tarefa continuava até que durasse a visita ao presépio na cerimônias da noite?
:: QUE a diretoria da Colônia tinha feito estudos para localizar a povoação na várzea que parte desde o pé do morro no qual estão construindo os açudes que represam a água para a nossa hidráulica (fundos da GETHAL), ao Arrabalde de Santa Catarina? E que isso não se efetivou por ser o dito local 90% um banhado, dificultando, assim, não só a obtenção de boa água por meio de poços, como também por alagar com qualquer chuva que caísse?
:: QUE na esquina em que outrora existiu o prédio que servia de sede da Maçonaria - tido como “Casa do Diabo” pela maioria dos católicos -, por um capricho do destino ou por determinação do Céu, surgiu o Edifício Paraíso?
ARQUIVO HISTÓRICO
João Spadari Adami faleceu em 4 de dezembro de 1972, aos 75 anos. Em 1974, seu vasto acervo documental foi doado pela viúva, dona Etelvina Lautert de Castro Adami, ao então Museu e Arquivo Histórico Municipal - que, em 1997, passou a chamar-se Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.