Compartilhamos hoje um relato enviado ao colega de memórias Ricardo Chaves, titular da coluna Almanaque Gaúcho, do jornal Zero Hora. Trata-se de um artigo do leitor Attilio Domingues Benetti, narrando a busca de suas origens italianas e a história de parte de seus antepassados.
O texto foi publicado originalmente em ZH na edição desta sexta-feira (22).
“Sempre tive uma grande vontade de conhecer as raízes de nossa família. Porém, meu pai, Attilio Lopes Benetti, que era proprietário de um engenho de arroz, localizado (em Porto Alegre) na Rua Voluntários da Pátria – negócio herdado de meu avô Attilio Humberto Maria Benetti –, e guardava alguns documentos que poderiam ajudar a elucidar nossas origens, perdeu todos eles em um nefasto incêndio nos escritórios da firma.
Depois, com a morte de meu pai, fiquei ainda mais – e totalmente – sem possibilidade de resgatar a memória e documentos que me dessem uma pista de onde era nossa família. Sabia apenas que havia vindo da Itália. Conhecia somente o nome de meu bisavô: Daniele Domenico Benetti. Mas isto parecia muito pouco para iniciar um processo para sanar minhas dúvidas. Por sorte, certa vez, caiu em minhas mãos um livro, que me foi dado por um amigo, escrito em italiano, sobre a imigração italiana para o RS. Lá pelas tantas, encontrei, numa determinada página, com o título “I Fondatori di Caxias”, fotos de seis italianos que se estabeleceram em Caxias do Sul.
Para a minha surpresa, uma delas era a foto de Daniele Benetti, meu bisavô. Aquilo me deu uma alento para investigar mais a fundo nossa história. Também por sorte, foi-me indicada uma senhora de nome Zeli Moro, que se dedicava a investigar as origens de famílias, visando a obtenção de cidadanias italianas. Digo sorte pois ela foi de uma competência e dedicação exemplares.
Estamos falando de 30 anos atrás, quando os documentos ainda não estavam tão disponíveis como agora – e só uma investigação trabalhosa poderia localizá-los. Ela, então, pesquisou em documentos oficiais, onde constavam os navios que chegavam trazendo italianos e, em um deles, constava o nome do Daniele e de sua esposa; constatou que esta leva de imigrantes era proveniente da região de Mantova.
Foi com imensa alegria que, com esta descoberta, começamos a desfiar o fio de nossa história. Esta senhora tinha uma filha que morava em Roma, na Itália, e que fazia certas investigações naquele país para, em dobradinha com sua mãe, aqui de Porto Alegre, ajudar a elucidar tais ramificações para aqueles interessados na obtenção da cidadania. Depois de algum tempo, começaram a chegar, da Itália, informações e documentos importantes para a montagem e o conhecimento dos nossos antepassados.
CASAMENTO EM 1884
Daniele era proveniente de Bagnolo San Vito, pequena cidade da região de Mantova. Da Diocese di Mantova, Parrochia San Biagio, nos foi enviado seu certificado de batismo, o qual determina que seus pais – ou seja, meus tataravós – eram Giovanni e Novellini Marquerita. Também recebemos seu “estato de matrimonio”, onde, neste documento, aparece seu casamento com Carolina Maria Corilla, que era filha de Luigi e de Santa Ongari – meus outros tataravós –, realizado em 16 de setembro de 1874. Ou seja: ele com 30 anos e ela com 24 anos.
A árvore começou então a tomar forma. Dali em diante foi mais fácil traçar a sequência do nosso ramo, dos Benetti em solo brasileiro. Ele chegou em Caxias do Sul, provavelmente, em 1884, tendo lá nascido meu avô Attilio, que, segundo relatos, foi caixeiro viajante. Dizem que, montado numa mula, teria chegado até Itaqui e lá conheceu Alzira, filha de um hoteleiro, e a trouxe para Caxias. Eles tiveram dois filhos: Attilio e Maria Hedy, ambos já falecidos. Attilio teve seis filhos: Neusa, Maria, Heloisa, Attilio, Daniel e Antonio. Onze netos e 11 bisnetos até o momento. Maria Hedy teve três filhos: Humberto, Hugo e Joaquim.
Assim, depois de toda esta investigação, que durou cerca de quatro anos e a qual culminou com a cidadania italiana para todos os componentes da família, nossa história foi contada e, finalmente, conhecemos nossas origens. Esta cidadania foi importante não só como homenagem aos nossos antepassados, que em situações totalmente adversas aportaram em nosso Estado e aqui traçaram uma bonita história, mas, também, porque está dando condições para a realização do ciclo inverso. Ou seja, hoje temos netos e bisnetos por lá vivendo e espalhados pelo mundo”.
O livro
O livro citado acima por Attilio Domingues Benetti é a publicação Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud (1875-1925), lançada em 1925. Além de Daniele Benetti, a página sobre os fundadores de Caxias (colônia e cidade) traz ainda os nomes de Romano Lunardi, Angelo Chitolina, Felice Gavioli, Alessandro e Luigi Dal Canale, Giovani Piva, Ernesto Marsiaj, Salvador Sartori, Giovanni Paternoster e Luigi Rossi. além das famílias Pezzi, Longhi, Rech, Ferro, Rizzon, Scopel, Sebbe, Franzoi, Moro, Battistini, Buratto, Muratore, Bragagnolo, Bacchi, Garbin e Sassi.
A saber: em fotos do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, o nome Attilio Benetti aparece identificado como um dos músicos integrantes da lendária Banda União, responsável por animar festas religiosas e eventos como a Festa da Uva, na década de 1930.