Já abordada anteriormente pela coluna Memória, a trajetória do professor Luiz Facchin é retomada em função de uma data emblemática. Nesta quinta, dia 2 de junho, são recordados os 100 anos de seu falecimento, na localidade de São Marcos da Linha Feijó, interior de Caxias do Sul.
Conforme destacado pelo descendente Jeverson Facchin, Luigi - no Brasil, Luiz - nasceu em 18 de outubro de 1859, em Salzen, província de Belluno, na Itália. Em 13 de junho de 1885, ele partiu de Salzen junto de seus pais, Bortolo e Giacoma, e demais familiares para, em 3 de julho, embarcar no Vapor Napoli, no porto de Gênova, em direção ao Brasil.
Por aqui, Luigi e sua família desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em 22 de julho do mesmo ano, após 19 dias sobre o oceano. No mesmo dia, todos deram entrada na hospedaria da Ilha das Flores, local onde passavam os imigrantes chegados ao Brasil. No dia 25 de julho de 1885, todos deram saída da hospedaria, partindo rumo ao Rio Grande do Sul.
A família
Luiz Facchin casou-se ainda na Itália, em novembro de 1883, com Maria Facchin. Dos 14 filhos, nove chegaram à idade adulta: Erminia (casou com Boss), Seba (casou com Potter), Carlota (casou com Montemezzo), Elvira (casou com Boniati), Giacomina (casou com Perosato), Olinda (casou com Fredolino Stumber), Maria (não casou), João Bortolo (não casou) e Bortolo Luiz (casou com Herminia Felippi).
A saber: Erminia foi a única nascida na Itália, tendo vindo ao Brasil com apenas 10 meses.
Profissão: educar
Luiz Facchin foi professor público, tendo sido nomeado em 6 de novembro de 1890, ao surgirem as primeiras escolas públicas. Começou como interino da cadeira do sexo masculino da escola Colônia Sertorina (a partir de 1902, foi denominada escola São Marcos), localizada, na época, ao lado da igreja de São Marcos da Linha Feijó.
Em 11 de junho de 1892, foi assinado pelo Conselho Municipal um termo de contrato, conforme o regulamento da instrução pública em vigor, para que Luiz regesse as aulas. Já em 17 de março de 1898, foi lhe dado em definitivo a regência das aulas, pelo Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Antonio Augusto Borges de Medeiros.
Seus registros de aula estão preenchidos até o dia 31 de maio de 1922, demonstrando que ministrou aulas até a sua morte, ocorrida dois dias depois.
Sobre o professor
:: Foi participativo nas rotinas relacionadas à Igreja de São Marcos da Linha Feijó, registrando o histórico da comunidade, entoando cânticos na igreja e encomendando os mortos, alternando os “cantochão” com as demais famílias da comunidade. Auxiliava na orientação de inventários e em conselhos matrimoniais e espirituais às famílias enlutadas.
:: Colaborava com a Associazione Universale e Crociata di S. Antonio di Padova, associação ainda existente, que reúne os devotos de Santo Antônio, em Padova, na Itália, da qual recebia o boletim chamado “Il Santo dei Miracoli”.
:: Era membro da Sociedade Príncipe de Nápoles (atual Sociedade Caxiense de Mútuo Socorro), a qual cultivava a cultura italiana, desenvolvia atividades culturais, sociais e recreativas, além de auxiliar os imigrantes recém chegados à cidade.
:: Em 1901, participou da Exposição Estadual do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, recebendo menção honrosa por “amostras de tecido cru”. Em 1905, participou da primeira Exposição-Feira Agropecuária do Centro Econômico do Rio Grande do Sul, também em Porto Alegre, tendo exposto “aguardente”, em que também recebeu menção honrosa.
:: No final de 1910, realizou uma viagem de quatro meses a Europa e Oriente Médio, voltando com 12 kg a mais. Nesta viagem, em Roma, teve a oportunidade de beijar a mão e o anel do papa Pio X.
Poema à Colônia Caxias (1890)
Em 20 de junho de 1890, Caxias foi elevada à categoria de município, e há um poema do professor que remete a essa data. Não se sabe o motivo de sua escrita, se por inspiração; para passar aos alunos algum exercício; para leitura a algum público ou, até mesmo, algum concurso. Foi escrito em italiano, possui rimas e, em tradução livre, demonstra a visão de que estava surgindo “outra autoridade do Rio Grande”.
O tu Caxias che tra tue sorelle
Imperi altera sovra ardito colle
Oggi il mondo t’amira e pur lo sei
Unanimi ti dicon tutte favelle
O fortunata tu ch’oggi inserri
L’altro prelata del Rio Grade, altero
Sorte non ebbe tutto, e tutti noi
Gristiam fidenti del tuo nome veri
Preconizo il tuo avrenir, madre adorata
Di giogie e di splendor cinta sarai
La ponte tua di diadema cosorata
Tra tue emule scilta, tu levedrai
Bacciarte le chiome d’or, bela e compacta
Tuoi figli cantar l’inuso udinoi