Dependendo da idade de cada um, são essas as três referências que identificam o icônico prédio de pilotis do início da Rua Moreira César, em direção ao Centro, no bairro Pio X. E como esta é uma coluna de memórias, é sobre a primeira que vamos nos deter.
Fundada pelos empresários Júlio Ungaretti e Celso Taddei em 1929, sob a denominação Bioquímica Nacional Ltda, a Tecelagem Marisa Ltda consolidou- se inicialmente como“ uma importante fábrica de tecidos e artefatos de seda e rayon”, conforme destacado pelo autor Duminiense Paranhos Antunes no Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul, lançado em 1950.
Consta no texto de 71 anos atrás:
“Fabricante de tecidos finos para senhoras, assim como de toda espécie de artefatos de seda, como lenços de bolso e de pescoço, mantas etc, todos de esmerado acabamento, fabricados com fios de produção nacional e estrangeira, a Tecelagem Marisa Ltda tem exportado seus artigos para todos os estados do Brasil e para vários outros países”.
Em 1950, um ano antes de virar Sociedade Anônima e expandir a produção, o empreendimento ocupava uma área de 2 mil metros quadrados, mantinha 600 teares – além de máquinas retorcedeiras para fios fantasia –, dispunha de tinturaria própria e empregava em torno de 100 funcionários.
Na foto acima, uma das raras fotos da fachada da nova fábrica, em meados de 1952, num ainda bucólico e distante bairro Tupy ( posteriormente rebatizado de Pio X). Abaixo, o mesmo trecho da Moreira César em 1975, quando a tecelagem foi destacada no álbum oficial do centenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul. Por fim, dois anúncios garimpados em jornais de 1958 e 1962, em que a Marisa era definida como“ a marca que veste pessoas elegantes”.
A fábrica em 1975
Conforme destacado no álbum bilíngue Centenário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul 1875- 1975, a Tecelagem Marisa tinha o empresário Júlio Ungaretti como diretor e detentor do controle acionário.
À época da publicação, em 1975, a então fabricante de tecidos, jérsei de acetato, nylon e poliéster foi definida como a maior empresa do setor em lingeries e peças “ para homens, senhoras e crianças”, com tinturaria e estamparia próprias.
Júlio Ungaretti (1897-1990)
Filho do pioneiro comerciante italiano Anúncio Ungaretti e de dona Eulália Lunardi, Júlio Lunardi Ungaretti nasceu em Caxias em 1897 e, ao longo do século 20, teve destacada atuação na indústria, em especial nos setores de fiação, tecelagem e confecções.
Presidente da Associação Comercial ( embrião da CIC) entre 1948 e 1949, Ungaretti liderou a comissão organizadora da Festa da Uva por duas vezes: em 1950 e 1954.
Foi iniciativa dele, inclusive, a contratação do pintor italiano Aldo Locatelli para a execução do painel Do Itálico Berço à Nova Pátria Brasileira no antigo Pavilhão de Exposições da Rua Alfredo Chaves (atual prefeitura).
A família
Casado com Lyra Bernardi, “ seu Júlio” teve duas filhas: Marisa ( provável inspiração para o nome da tecelagem) e Neda, casada com o ex- prefeito de Caxias e ex- governador do Estado Euclides Triches.
Júlio Ungaretti faleceu em 31 de dezembro de 1990, aos 93 anos. Ele nomeia uma avenida no bairro Desvio Rizzo.
A saber: foi na famosa chácara de Júlio Ungaretti, na Rua Os Dezoito do Forte, em Lourdes, que Getúlio Vargas hospedou- se em fevereiro de 1954, quando abriu a Festa da Uva e inaugurou o Monumento Nacional ao Imigrante.