Dando sequência à série sobre os antigos quiosques da Praça Dante, em parceria com o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, trazemos hoje a história do Bazar Familiar. Trata-se do segundo quiosque de madeira construído na Praça Dante Alighieri, pertencente ao imigrante italiano Anuncio Ungaretti – pai do empresário Julio Ungaretti.
O contrato com a Intendência Municipal foi assinado em 17 de novembro de 1898 e destacava as mesmas condições impostas ao comerciante Francisco Dal Prá, que instalou a primeira estrutura na área central pouco tempo antes (confira abaixo). Localizado em um ponto próximo a atual Farmácia Central, o Bazar Familiar comercializava miudezas, fazendas, brinquedos, entre outros acessórios.
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Inicialmente, o quiosque não possuía os aumentos laterais que aparecem nas duas imagens desta página, praticamente as únicas desses lendários comércios dos primórdios do século 20. Conforme apuração do Arquivo Histórico Municipal, o contrato com Anuncio Ungaretti foi rescindido pela Intendência Municipal por meio do "Acto" nº 08, de 12 de abril de 1909, publicado no jornal "O Brazil", de 17 de abril de 1909.
Na imagem maior abaixo, a Praça Dante Alighieri vista a partir da Rua Dr. Montaury, com o quiosque de Ungaretti ao centro – à época ainda Vila de Santa Tereza de Caxias. Da esquerda para a direita vê-se parte do quiosque de Francisco Dal Prá - o primeiro a surgir na praça - e o conjunto de quatro prédios da Família Sartori. Em um deles, lê-se "Lino e Guerino Sartori".
Na imagem ao lado, de 1905, o quiosque em primeiro plano. Vê-se, a partir da esquerda, Hugo Lunardi, Severina Lunardi Muller – e a seu lado a primeira esposa do intendente Campos Júnior –, Higino Lunardi, Assunta Dambros Dal Prá e Eulália Lunardi Ungaretti, esposa de Anuncio Ungaretti.
Por fim, um anúncio de uma "torração" de estoque, publicado em 1903 no jornal "O Cosmopolita". O slogan era um primor: "Com uma visita ao Bazar Familiar, o freguês verá que Anuncio, quando anuncia, é porque pode manter sua palavra". As ofertas incluíam, entre outros artigos, luvas de seda preta, colarinhos de todos os feitios de linho e algodão, gravatas de seda e piquet, chapéus de sol, estampas de santos e paisagens, e "lindíssimas grinaldas".
As particularidades de cada comércio
Conforme as historiadoras Loraine Slomp Giron e Heloisa Eberle Bergamaschi, autoras do livro “Casas de Negócio” (Educs, 2001), possuíam quiosques na Praça os negociantes Anuncio Ungaretti, Francisco Dal Prá, Andrea Benetti, Adelino Sassi e Vitório Chitolina. Cada quiosque tinha seu ramo de comércio. Sassi e Chitolina vendiam um pouco de tudo. Benetti comercializava doces e, junto ao pequeno comércio, funcionava ainda uma ferraria. No de Dal Prá, a clientela dispunha também de duas canchas de bocha.
Com a retirada dos quiosques de madeira, a partir dos anos 1910, permaneceu apenas o famoso chalé de alvenaria de Jorge Arruda, bem no meio da praça. Era onde funcionava um café conhecido como “bufete”, em que os homens da cidade se reuniam para beber e conversar. Mas essa é uma história que abordaremos em breve...
Normas
O requerimento apresentado por Anuncio Ungaretti solicitando autorização para construir um quiosque no ângulo leste da Praça Dante data de 15 de agosto de 1897. Já o contrato, firmado em 17 de novembro de 1898, trazia as seguintes obrigações:
:: Construir o quiosque e o jardim, dentro do prazo de seis meses, segundo planta que está junto no requerimento, sendo o mesmo de madeira de lei, alicerces de pedra, paredes de tábuas, porém duplas, coberto de zinco ou telhas, pintado por dentro e por fora, com portas e janelas envidraçadas.
:: Cercar com palanques de madeira de lei e arame, isto no prazo de seis meses, a área de quatrocentos metros quadrados mais ou menos em torno do quiosque e arborizá-lo com casuarinas e outras plantas aclimáveis, até que tais árvores fiquem isentas de serem destruídas por animais de qualquer espécie, com a obrigação de zelar a plantação até o fim do contrato.
:: Gozar do quiosque e do jardim pelo prazo de doze anos, a contar de primeiro de janeiro do ano de 1897; conservá-o sempre em bom estado, pintando-o de dois em dois anos; renovar as paredes no fim de oito anos e entregá-lo, findo o prazo, à Intendência, sem a menor relutância sob pena de multa de cinco contos de réis.
Fonte: Livro de registro de contratos firmados pela Intendência Municipal, do período 10 de julho de 1890 a 21 de junho de 1902. O documento pode ser acessado em arquivomunicipal.caxias.rs.gov.br.