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A coluna da última sexta, destacando o trecho da Av. Júlio de Castilhos entre as ruas Marechal Floriano e Garibaldi, motivou o leitor Samuel Adami, 40 anos, a enviar um relato pra lá de nostálgico do bairro São Pelegrino nos anos 1980 e 1990.
O e-mail é tão detalhado e cheio de recordações que iremos reproduzir na íntegra, ilustrando-o com algumas imagens de um dos locais mais emblemáticos para quem foi criança e adolescente naquela época: a sede das Lojas Brasileiras, surgida em 1984, e suas inesquecíveis escadas rolantes, com filas de curiosos para subir e descer.
O estabelecimento ocupou outro espaço histórico do bairro: o lendário Cine Real, inaugurado em 23 de fevereiro de 1950, na semana de abertura da Festa da Uva. Passadas mais de três décadas e milhares de sessões depois, as luzes do projetor do Cine Teatro Real acenderam pela última vez em 2 de janeiro de 1983. O nome do filme parecia antecipar o caminho sem volta dos cinemas de rua: Pânico no Atlantic Express.
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Confira o relato de Samuel Adami:
Boa tarde, Rodrigo
Me chamo Samuel Adami, tenho 40 anos e sou servidor público municipal. Do meu tempo todo de vida, passei mais de 30 anos em São Pelegrino, bairro onde morei e estudei, onde meus pais trabalharam, e cujas ruas me trazem memórias afetivas muito felizes. Lendo tua coluna no Pioneiro de hoje (sexta), na qual trazes lembranças da Avenida Júlio lá pelos idos de 1985, entre a Marechal e a Garibaldi, me perguntei se haverá uma sequência de memórias, seguindo a avenida para o oeste, em direção a São Pelegrino. Caso siga, compartilho contigo memórias de locais e estabelecimentos que marcaram minha infância, mais ou menos na mesma época, talvez um pouco depois.
Minha primeira lembrança remete à extinta Caixa Econômica Estadual, na qual meu pai (Elvo Adami) trabalhou por 25 anos e de cuja agência ele foi gerente até se aposentar, em 1996. Pouco depois, a própria CEE foi extinta, com a antiga agência dando lugar, primeiramente, a um Banrisul e, anos depois, à Casa do Artesão, Central de Matrículas e posto do Instituto de Identificação.
Logo na frente, o imponente prédio do antigo Cine Real já abrigava uma filial da extinta Lojas Brasileiras, onde passava longos períodos olhando brinquedos e onde também comprava doces, balas e outras miudezas. Ao lado, a banca de revistas que até hoje ocupa a praça João Pessoa, da qual era cliente assíduo, na aquisição de álbuns e figurinhas. Ao lado da Caixa Estadual, a galeria Centro Comercial São Pelegrino dava acesso à rua Pinheiro Machado.
Nesse extremo da galeria, ficava a primeira sede da agência São Pelegrino do Banco do Brasil. Logo, esse corredor entre as duas agências foi um dos pontos que mais frequentei nos tenros anos da minha infância, quando estudei no Colégio São Carlos. Nessa galeria, ainda estão presentes a Gustanri, loja de cosméticos, e a Gubert Cabeleireiros, onde cortei meu cabelo por anos. E é onde se localizava a já extinta Casa Londres (aliás, depois que fechou, não soube mais onde comprar chapéus nessa cidade).
Logo mais ao lado, o Bouticão de Ouro já estava instalado, e a bomboniére Paris já era um restaurante de comida caseira muito frequentado pelo pessoal da área. Já na esquina da Feijó com a Júlio, o imponente casarão segue lá (não sei quem são os proprietários originais), mas na época abrigava uma das lojas da L'Uomo Moda Masculina. No mesmo cruzamento, a loja Soberana se destacava, junto com a parada de ônibus que recebia milhares de passageiros com destino à zona sul da cidade.

Rei da Música e Hamburgueria Arca
O leitor Samuel Adami também destacou algumas referências do trecho entre a Moreira César e a Rua La Salle:
- A velha casa onde se situava a Loja Rei da Música, onde comprei meu primeiro violão e, aos fundos, com acesso pela Moreira, tive aulas de música.
- Do outro lado, o Bazar Nair, e sua fachada com um painel que se movia ao vento.
- A Padaria América, que segue até hoje no mesmo local.
- A locadora de filmes Audiolar.
- Sem falar no Mariani Artefatos de Couro e a Joalheria Ruy.
- Do outro lado da rua, quase na esquina da Júlio com a Coronel, a Loja Adelino Modas, do seu Adelino Muner, onde muito comprei trajes.
- Na esquina da Júlio com a Coronel, no lugar do edifício onde hoje está localizada uma filial da Panvel havia uma Sorvelândia.
- A Pop Presentes, numa das lojas do Edifício Florida.
- A tradicional Casa Maggioni.
- A loja de móveis Basilar ("Você entra pela Basilar e sai pela Qualitá", esta na Pinheiro Machado).
- Já quase chegando à Rua La Salle, lembro-me da Hamburgueria Arca, local que possuía um drive-in e que, aos domingos, era o principal ponto de encontro da "juventude caxiense"!
Espero ter contribuído.
Nota do colunista: contribuiu, sim, e muito, Samuel Aguardamos novas contribuições de leitores, com suas lembranças e fotos de qualquer outro bairro ou trecho da cidade. Um dos próximos assuntos será a não menos lendária Maria da Toca….
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