Desde 21 de agosto de 2014, data da primeira postagem, foram 21 textos, dezenas de fotografias e centenas de compartilhamentos e comentários - moradores de ontem e de hoje falando do que viveram e testemunharam em casa, na escola, no cinema, na igreja, nas lojas, vinícolas, no entorno da Estação Férrea, pelos armazéns e ruas do bairro desde os primórdios do século 20. Falamos da página do Facebook Vivendo São Pelegrino, mantida pela professora aposentada Suzana Postali Fantinel - o nome, aliás, não poderia ser mais apropriado.
“Moradora raiz” do bairro desde a década de 1940, Suzana viveu e vive São Pelegrino como poucos. Nasceu, cresceu, estudou, casou, constituiu família e habitou endereços emblemáticos, como os casarões da esquina das ruas Sinimbu e Feijó Jr. e da Feijó com a Av. Júlio. Atualmente, colabora com a Casa de Memória da paróquia e vive no Edifício Francisco Oliva, erguido em meados dos anos 1970 no terreno que abrigou a antiga igrejinha de madeira, na rótula - de onde ela tem São Pelegrino como quintal e a igreja como uma espécie de "anexo".
Obviamente, a construção e a inauguração do novo templo, em 1953, foram testemunhados pela “menina” que morava bem em frente - hoje a “guardiã” das histórias que todos adoramos recordar e redescobrir. A partir das três imagens desta página - destacando o cruzamento das ruas Feijó Jr. e Sinimbu, com a antiga e a nova igreja -, reproduzimos abaixo o texto número 12, Se esta rua fosse minha, publicado por Suzana em 25 de fevereiro de 2015. Um trecho do bairro que ninguém conhece melhor do que ela. Confira.
Se esta rua fosse minha…
“Mais que uma rua, são duas, é uma esquina, onde tantos amores passaram, passam hoje e continuarão a passar. No final dos anos 1930, no encontro das ruas Feijó Jr. e Sinimbu, quebrando a geometria da planejada cidade de Caxias do Sul, frente a um largo diferenciado, um sobrado foi construído para servir de moradia e consultório dentário, para o casal Aparício e Guilhermina Andreazza Postali (pais de Suzana). No entorno da casa, plantou-se um jardim com margaridas, com um pinheirinho no centro, uma horta para os radiccis, uma ala com mudas de figueiras, um galinheiro ao fundo e a garagem de madeira, cujo telhado foi logo coberto pelas ramagens de uma roseira. Ilustres foram seus vizinhos mais próximos: o Colégio Feminino São Carlos e a Igreja de São Pelegrino.
Dos prédios do quarteirão, mantido até os dias atuais, destacava-se o dito "conjunto habitacional", situado na esquina da Rua Sinimbu com a Coronel Flores, onde estavam estabelecidos, além da Delegacia de Polícia, O Presídio Municipal, o Corpo de Bombeiros e o Departamento de Trânsito, na parte térrea e subsolo, abrigando ainda moradias para a família do delegado e de filhos do sr. Donato Rossi, proprietário do grande imóvel.
Lado a lado com todos estes setores de utilidade pública, alguns inverossímeis hoje, destacavam-se outros dois belos casarões: o primeiro pertencente à família de Firmino Bisol, o outro da Família de Carlos Casara, ambos com amplos pátios e jardins.
Do outro lado da rua Sinimbu havia os plátanos dos fundos da casa de dona Angelina Germani Corsetti, a casa do sr. Marcelino Chiappin e, completando o quarteirão, a propriedade do sr. Pedro Vanzin, quase uma chácara, com canteiros de hortaliças, frutas, um parreiral, um poço fundo, onde a água subia com o auxílio da roldana, além do pequeno riacho que atravessando sua terra, seguia sob outras moradias na direção norte. Vanzin era um capacitado pedreiro, responsável pelos alicerces da Igreja de São Pelegrino.
Completando este cenário inicial do bairro, estava também a casa do sr. Francisco Oliva,com suas três faces, um imenso jardim,com canteiros debruados de violetas, uma horta bem cuidada, grande áreas verdes, um pequeno parreiral e, beirando a calçada da Avenida Rio Branco, a sombra de vários cinamomos. Nestas ruas, outras famílias viveram suas histórias, muito além destas minhas referências, e que se fossem lembradas e registradas poderiam ser documentos, além do grande prazer que é revivê-las.
Renovo meu convite para que moradores de outras ruas participem com fotos, textos, ideias, já que a atualidade nos abriu essas portas,fascinantes das redes sociais. Agradeço aos leitores que "navegaram" até aqui e curtiram os outros dez textos que já postei, sempre lembrando nosso bairro São Pelegrino. Pretendo continuar. Suzana”.
A igreja e a Av. Rio Branco
A seguir, duas imagens emblemáticas do coração do bairro São Pelegrino: um postal destacando a igreja e a Av. Rio Branco no início dos anos 1960, e um registro do início da Rua Sinimbu, por volta de 1970, com o antigo casarão da família do dentista Aparício Postali à direita. Ao fundo, a igreja e a placa do lendário posto de combustíveis Ipiranga, localizado no subsolo.
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