Não há morador mais antigo do bairro São Pelegrino que não recorde de dois locais emblemáticos da esquina das ruas Sinimbu e Coronel Flores: o campinho e a quadra de esportes (atual Edifício Aplub) e a Delegacia de Polícia (prédio anexo do Colégio São Carlos), com a guarnição improvisada dos bombeiros instalada na parte inferior.
A precariedade daqueles tempos, final dos anos 1940 e início dos 1950, foi abordada pelo jornalista Duminiense Paranhos Antunes no livro Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul (1875-1950), lançado há 70 anos.
“Acha-se o Corpo de Bombeiros instalado no porão onde fica a Delegacia de Polícia, um lugar impróprio, com alojamentos sem nenhum conforto para seus homens, conforme nos confessou seu diretor, senhor Francisco Bergmann. Até bem pouco tempo, o Corpo de Bombeiros contava apenas com dois carros, vindo finalmente, em 1948, a ser equipado com um novo e moderno carro-tanque, de maior proporção”.
Esse período também foi recordado na antiga página “Memória”, publicada pelo Pioneiro em 30 de junho de 1984, a partir das pesquisas do historiador Juventino Dal Bó e da equipe do então Museu e Arquivo Histórico Municipal.
“Na década de 1940, o quartel do Corpo de Bombeiros foi instalado em condições precárias na Rua Coronel Flores. Lembra o sargento Luís Carlos Duarte, bombeiro há 22 anos, que não havia nem “rancho”. O bombeiro trazia sua marmita de casa, não havia combustível (querosene) para acender o fogareiro, verbas escassas, tinham que retirar gasolina dos carros para acendê-los, com risco de incêndio no próprio Corpo de Bombeiros”.
Em 1964, o Corpo de Bombeiros deixou de pertencer à municipalidade, sendo encampado pelo Estado. Após um breve tempo funcionando junto ao prédio do antigo Samae, desde 1975 têm sua base central na Rua 20 de Setembro, esquina com a Moreira César.
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Fogões à lenha e barracões precários
Outro relato da página Memória de 1984 destacava as causas dos princípios de incêndio de antigamente:
“Os bombeiros, com longa experiência, afirmam que antigamente ocorriam mais incêndios: casas de madeira com dois pisos, uso frequente do fogão à lenha, chaminés mal colocadas, hábito de acender o fogo com querosene, curto circuito e, principalmente, a insuficiência das instalações industriais: barracões precários, porões acanhados, indústrias clandestinas... O sargento Duarte comenta que ainda hoje a população confunde as atribuições do Corpo de Bombeiros, solicitando seus serviços para ocorrências as mais estranhas possíveis: “Particulares chegam a solicitar o transporte de água para construções”. Provavelmente, esta atitude seja reflexo de anos anteriores, quando o Corpo de Bombeiros fazia tudo: desde socorro a indigentes, recolhimento de animais, gado solto, abastecimento de água, até serviço de detenção, que chegou a ser oficializado de 1935 a 1938, através de arranjo com a Polícia feito pelo tenente Antunes”.
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A equipe
Na imagem que abre esta coluna, os bombeiros próximos à antiga sede, na Rua Sinimbu quase esquina com a Coronel Flores (ao fundo), por volta de 1958. O prédio à direita abrigava, no piso superior, a Congregação das Irmãs Carlistas (Colégio São Carlos). No térreo, o alojamento da Brigada Militar e dos bombeiros.
A partir da esquerda vê-se o então comandante Frederico Bergmann, o sargento Oscar de Azevedo, Nei Andrade, Artur Mello, Joecy da Silva, Candido Abreu e João Maria Machado, entre outros não identificados. Os veículos Ford 1946/1948 eram modelos auto-bomba-tanque.
Informações repassadas ao Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami por Luiz Carlos Duarte, do setor administrativo da Brigada, em 24 de agosto de 2010.