Autor de diversos livros sobre Caxias e suas origens, João Spadari Adami referiu-se à “Caipora” no 4º tomo da série História de Caxias do Sul, lançado em 1966. O mesmo texto, que atrela o antigo nome a um episódio ocorrido durante uma Festa do Divino Espírito Santo, saiu quatro anos antes.
O relato foi publicado em 22 de setembro de 1962 no quinzenário Ecos do Mundo, então dirigido pelo imigrante italiano Raimondo Paschero e pelo empresário Julio Ungaretti. Confira parte da narrativa original, em que Adami ainda referia-se ao bairro Lourdes como Guarani:
“O nome Caipora (atribuído) ao bairro Guarani surgiu conjuntamente com a primeira Festa do Divino Espírito Santo, realizada em Caxias, em 1896. D. João Batista Argenta, então vigário da paróquia, atendendo às solicitações dos luso-brasileiros aqui residentes, pediu a seus superiores que lhe enviassem um padre afeito às festas do Divino (D. Orestes Oliveira da Cunha). Foi eleito presidente-festeiro José Cândido de Campos Jr, então Intendente do Município, que organizou a comissão encarregada de coletar entre os habitantes da então Vila de Santa Teresa de Caxias o dinheiro para custear as despesas dos festejos. Quando a comissão mal havia começado a descer o ‘morro do Amadeu Rossi’ (a descida da Av. Júlio, entre as ruas Alfredo Chaves e Andrade Neves), sentiu logo a repulsa à sua missão por parte do povo que compunha tal parte de Caxias. Em todas as casas em que apresentaram a ‘Bandeira do Divino’, declarou-se que ‘se eles tinham dinheiro para gastar com foguetes e a banda de música que os acompanhava, devia tê-lo também para fazer a festa’. Os tais coletores, naquele lado da vila, só receberam o donativo de um tropeiro dos Campos de Cima da Serra, o qual desceu do animal que montava, descobriu-se do grande chapéu campeiro que lhe cobria a cabeça, chegou-se reverentemente à Bandeira do Divino, beijou-a e depositou na bandeja que lhe foi apresentada uma moeda de 400 réis. De volta ao centro da vila, a comissão angariadora de numerário para a referida festa não só comentava o acontecido como também não cessava de dizer: ‘Ôla zona Caipora, aquela do Amadeu Rossi para lá’".
Conforme o texto de Adami, a “Caipora”, naquela época, era constituída unicamente pelo trecho da Av. Júlio entre as ruas Do Guia Lopes e Angelina Michielon. Confira abaixo a publicação original de 1962.
O bairro Guarani
Conforme o autor João Spadari Adami, o antigo nome bairro Guarani dado à Zona Caipora decorre do Esporte Guarani (posterior Recreio Guarany), surgido em 1918 naquele ponto.
A denominação foi sugerida pelo espanhol Jacinto Losano, um dos fundadores da agremiação, “justificando a proposição pelo fato de ter existido em Caxias uma ‘Taba de Bugres’. E que, com este nome ao clube, seria prestada uma homenagem àqueles primitivos habitantes da hoje Caxias do Sul, ex-Campo dos Bugres”.
Hospital Carbone e Brasdiesel
Segundo destacado pelo autor Roberto Filippini no livro O Outro Lado da Júlio - Histórias e Memórias de uma Avenida, a “Caipora” foi se mostrando um lugar pujante, ganhando notoriedade com o passar dos anos. Ao seu território foram agregados estabelecimentos comerciais, industriais e institucionais importantes para o desenvolvimento socioeconômico de Caxias — que ajudaram na mudança de paradigma.
Entram aí a antiga Vinícola de Luiz Pieruccini, o comércio de Vicente Rovea, o Hospital Carbone, a Vinícola Luiz Michielon, a igreja do Santo Sepulcro, o Orfanato Santa Terezinha (Colégio Madre Imilda), o Atelier Zambelli, a sede social do Recreio Guarany (onde a Rádio Caxias começou, em 1946), a Auto Mecânica, a Brasdiesel, entre tantos outros.