Na chegada oficial da primavera, nesta segunda, destacamos parte da história daquela que é considerada a primeira florista de Caxias do Sul. Falamos de dona Adelina Stangherlin Zambelli (1900-1994), esposa de Michelangelo Zambelli e filha do também escultor Pietro Stangherlin.
Conforme texto da pesquisadora Sonia Storchi Fries – reproduzido no livro Nossa Mulheres, das autoras Leonor Aguzzoli e Maria Abel Machado –, naquelas primeiras décadas do século 20, Adelina mesclava o cultivo de flores às tarefas domésticas e ao auxílio no atelier de esculturas do marido. Plantava camélias, rosas, cravos, margaridas, hortênsias, jasmins e lírios – tudo no jardim do lendário casarão localizado ao lado do atelier, na Av. Júlio de Castilhos, entre as ruas Vereador Mário Pezzi e Coronel Camisão, em Lourdes.
"Vizinhas, amigas e até namorados que passavam na frente de sua casa pediam-lhe flores. Ela nunca as negava, até dava um jeito de compor um buquê. Era tanta gente que pedia que, em certo dia, na pressa de atender a porta, caiu e quebrou uma perna. Andando com dificuldade, disse ao marido: 'Vou despistar tanta freguesia vendendo as flores que planto'. No porão de casa, improvisou um outro atelier com uma mesa grande, vários baldes, argila e arame. Quando vinham pedir flores, ela oferecia um buquê e cobrava alguns réis".
Logo a fama se espalhou, fazendo com que moradores do Centro e redondezas procurassem pelos buquês, grinaldas e corbelhas para noivas, aias e rainhas. Fazendo, desmanchando e refazendo os arranjos, Adelina aprendeu sozinha a ser florista. Tornou-se famosa e, durante muitos anos, foi a única da cidade.
– Era Adelina quem fazia as grinaldas e os buquês de casamento, primeira comunhão e formatura das meninas e moças das famílias mais tradicionais da região – destacou Sonia no livro, completando que, posteriormente, ela seria auxiliada pela amiga Angelina Diligenti Streb.
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Igual 50 anos atrás
O talento de dona Adelina também foi destacado pela autora Irma Buffon Zambelli no livro A Arte nos Primórdios de Caxias do Sul, lançado em 1986.
"Dos arranjos de flores naturais, suas habilidades artísticas se estenderam aos trabalhos de montagem de pequenas peças e arranjos com flores artificiais de massa, que Michelangelo preparava. Fazia-as todas a mão, inclusive a montagem. Hoje, dona Adelina, com 86 anos, recebe encomendas de antigas freguesas, que assim se expressam:
– A senhora me faça uma corbelha ou um arranjo de flores igual ao que a senhora fez para a minha mãe... há 50 anos".
Na imagem acima, Adelina Stangherlin Zambelli aparece com a irmã Corina Stangherlin (ao centro) e a amiga Talita, em Porto Alegre, em 1935. O registro foi captado por ocasião da Exposição Estadual da Indústria, da qual participava Michelangelo Zambelli, representando a indústria artística caxiense.
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O casamento em 1916
A união de Michelangelo Zambelli e Adelina Stangherlin tem uma história curiosa. Durante uma visita do jovem Michelangelo ao atelier de Pietro Stangherlin, por volta de 1905, ele teria se impressionado com a beleza e o encanto de sua filha Adelina. Após cumprimentar Pietro, teria dito a ele: "Pietro, cuida bem desta menina. Quando ela crescer, casar-me-ei com ela".
Cerca de 10 anos depois, após trabalhos em Porto Alegre e Buenos Aires, Michelangelo retorna a Caxias e instala seu ateliê na Av. Júlio, 815. É quando, aos 33 anos, ele retoma a promessa feita uma década antes. O casamento ocorreu em 1916, pouco antes de Adelina completar 17 anos.
"Eu, quando comecei o namoro com o Michelangelo, era quase menina. De repente, tive de substituir minha meninice para ingressar na vida adulta. Graças à dedicação, ao zelo, à arte e ao amor de Michelangelo, não me foi difícil superar essa etapa", revelou dona Adelina à autora Irma Buffon Zambelli no livro A Arte nos Primórdios de Caxias do Sul, lançado em 1986.
Adelina Stangherlin Zambelli ficou viúva de Michelangelo Zambelli em 1949, aos 48 anos. Ela faleceu 45 anos depois, em 20 de setembro de 1994, às vésperas do início da estação das flores. Tinha 94 anos.
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