
Ao lado do Laçador e do Monumento ao Expedicionário – ambos em Porto Alegre –, o Monumento Nacional ao Imigrante, em Caxias, integra a lista de obras de destaque na trajetória do escultor gaúcho Antônio Caringi, cujos 40 anos de falecimento foram recordados ontem – ele nasceu em Pelotas no dia 18 de maio de 1905 e morreu na mesma cidade em 30 de maio de 1981, aos 76 anos.
Caringi é reconhecido como um dos principais escultores de personagens e alegorias históricas do Rio Grande do Sul. Duas décadas antes da entrega das obras citadas acima, foi responsável por outro ícone dos pampas: a estátua equestre do general Bento Gonçalves, inaugurada em 15 de janeiro de 1936, no encerramento das comemorações do centenário da Revolução Farroupilha, em Porto Alegre – em 1941, a obra foi transferida do Parque Farroupilha (Redenção) para um pedestal instalado na Av. João Pessoa, ao lado da Praça Piratini.


A cripta da BR-116
As estátuas do Monumento Nacional ao Imigrante foram moldadas por Antonio Caringi em seu atelier, no Rio de Janeiro, a partir de 1952, e fundidas posteriormente na Maesa – sob a supervisão do mestre italiano Tito Bettini.
O escultor pelotense também batiza o chamado museu da cripta, localizado aos pés do monumento da BR-116. O local, denominado Espaço Cultural Antonio Caringi, reverencia não apenas os imigrantes italianos, mas todos os que vieram para o Brasil e ajudaram a construir uma nação plural e miscigenada.
Além de painéis, imagens e objetos abordando a imigração nos contextos internacional, nacional e regional, uma exposição (agora com visitação interrompida) detalha a criação das estátuas em um série de documentos fotográficos.
Um deles é o registro abaixo, com Caringi moldando a escultura feminina em junho de 1952, em seu estúdio, no Rio de Janeiro – os rostos foram inspirados nas feições dos imigrantes italianos Luigi Zanotti e Enrica Perini Zanotti, já octogenários em 1954, quando a obra foi entregue.


O casal Zanotti
Conforme matéria publicada pelo Pioneiro em 2014, por ocasião dos 60 anos da escultura, Luigi e Enrica chegaram a Caxias em 1876, carregados nos braços dos respectivos pais. Por aqui cresceram, constituíram família e transmitiram suas histórias, conforme testemunhou um dos netos, o agricultor Nelson Zanotti.
— Caringi fotografou meus avós e levou a imagem para seu ateliê, no Rio de Janeiro. Fez os moldes em gesso e só depois os trouxe para a fundição na Metalúrgica Abramo Eberle — relatou o neto, em 2014.
Na terceira foto abaixo, Caringi durante a inauguração do Monumento Nacional ao Imigrante, em 28 de fevereiro de 1954. Ele aparece à frente do bispo Dom Benedito Zorzi. A cerimônia teve a presença do presidente Getúlio Vargas e do governador Ernesto Dornelles (sentados), do presidente da Festa da Uva de 1954, Julio Ungaretti, do ex-prefeito Euclides Triches e de várias autoridades civis e militares.




O artista e o pai
Antonio Caringi rodou o mundo em busca do aperfeiçoamento de sua arte. Em 1928, viajou para Berlim e, posteriormente, para Munique, onde cursou escultura na Academia de Belas Artes. Voltou a Berlim para se especializar em Plástica Monumental como discípulo de Arno Breker. Regressou ao Brasil em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, casando-se, em 1942, com a poetisa Noemi de Assumpção Osório.
O casal teve seis filhos, entre eles Glória Caringi Majer, que lembra: “Gostava de ver meu pai colocar o avental e cozinhar”. Fernanda Osório Caringi, outra filha, diz: “Eu me senti muito orgulhosa de receber ensinamentos sobre arte passados pelo pai durante uma viagem a Europa”.
Angela Caringi de Turnes, também filha do artista, recorda do seu caráter italiano:
“Familiar ao extremo, divertido, jocoso, daqueles que não poupava uma brincadeira à mesa, com a família sempre completa, finalizando seus almoços com as faces rosadas pelo vinho e os charutos, naqueles momentos de catarse em que havia uma plenitude que qualquer coisa lhe poderia ser pedida sem negativas. Tão simples em família quanto nobre na arte. O pai que eu via onipresente nos monumentos da minha infância (e de tantas infâncias) e tão intimista, que, por um instante, era capaz de esculpir sua visão do ‘rosto de Deus’ na areia da praia. Dedicado, culto, social do mundo, mas tão nosso”.
A saber: Antonella Caringi, neta do artista, há alguns anos está fazendo um trabalho de mapeamento, catalogação e reconhecimento da obra do escultor, tentando sempre vincular seu nome às suas obras.



Parceria
Textos com a colaboração do historiador José Francisco Alves. Parte das informações desta página foi publicada originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, do colega Ricardo Chaves, de Zero Hora.