Dá-se o nome de livro-reportagem às obras que, mesclando linguagem literária com apuração jornalística, tentam aprofundar acontecimentos importantes de determinada época. Foi assim que Euclides da Cunha narrou a devastação de Canudos no clássico Os Sertões (1902), da mesma forma que Caco Barcellos revelou uma rede de execuções policiais em Rota 66 (1992).
É com igual preocupação de resgatar fatos como testemunho para o futuro que a jornalista Rubia Frizzo, secretária da Cultura de Caxias do Sul de 2013 a 2016, lança nesta terça-feira (19) Maesa Poema Arquitetônico (Editora São Miguel, 168 páginas, R$ 50). Resultado de um ano e meio de pesquisa, somado à experiência de ter coordenado a Comissão Especial para Análise de Uso da Maesa, o livro resgata a história do antigo complexo industrial e o projeto de ocupação como centro cultural e turístico.
— Eu acabei ficando com muito material: documentos, fotos, reportagens. O projeto da Maesa foi um esforço de toda a comunidade e não merecia ficar esquecido numa gaveta — justifica a autora.
Na introdução e nos primeiros capítulos, Rubia contextualiza desde a chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul à transformação da funilaria que Abramo Eberle comprou da mãe, Gigia Bandera, numa das maiores indústrias da América Latina. Na sequência, reconstitui a mobilização comunitária para que o complexo da antiga Fábrica 2 fosse tombado e doado ao município, além de detalhar o projeto de ocupação.
Vale recordar: o plano prevê mercado público, museu da metalurgia, centro de convenções, multipalco para teatro e dança, sala de cinema, biblioteca e até mesmo estrutura para abrigar alguns órgãos públicos. Espaço não falta — são 53 mil metros quadrados de área num quarteirão entre as ruas Plácido de Castro, Dom José Barea, Pedro Tomasi e Treze de Maio, no bairro Exposição.
— Caxias do Sul quer se inserir no mapa do turismo? Não temos um cais como Porto Alegre ou um Puerto Madero como Buenos Aires, mas temos um conjunto de prédios históricos, bem preservados, numa área central. A Maesa pode ser um divisor de águas para o turismo da Serra gaúcha.
Seja pelo necessário resgate histórico ou pela apresentação do projeto que colocaria Caxias do Sul entre as protagonistas do turismo regional, o livro-reportagem não deixa de ser uma sutil alfinetada no governo Guerra. Afinal, como mostrado em reportagem do Almanaque em agosto, pouco se avançou nos últimos três anos.
— Existem muitas maneiras de executar o projeto. Os prédios estão ali, em boas condições, e a revitalização não é complexa, seria mais com pisos e telhados. O que a comunidade exige é que tudo isso seja tirado do papel. Se não for possível na atual gestão, que o próximo governo coloque a Maesa como prioridade — cobra a ex-secretária da Cultura.
Maesa Poema Arquitetônico conta com ilustração de capa de Antônio Giacomin, texto de apresentação de Jayme Paviani e imagens cedidas por quase 20 fotógrafos caxienses.
PROGRAME-SE
:: O que: lançamento do livro Maesa Poema Arquitetônico, de Rubia Frizzo.
:: Quando: nesta terça (19), às 18h30min.
:: Onde: Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, na Casa da Cultura (Rua Dr. Montaury, 1313).
:: Quanto: livro à venda no local por R$ 50.