Colaborador informal da coluna Memória, o historiador Éder Dall’Agnol dos Santos há tempos se debruça sobre as famílias colonizadoras do distrito de Santa Lúcia do Piaí e as origens de diversos de seus moradores – várias dessas histórias, inclusive, já foram publicadas neste espaço. Hoje, porém, destacamos uma pesquisa de Éder referente à sua própria origem: a trajetória de seu avô, Nelso Daniel Dall’Agnol, falecido há exatos sete anos, em 27 de maio de 2014.
Terceiro filho de João Dall’Agnol Filho e Santa Echer, seu Nelso nasceu em Linha Sertória, distrito de Santa Lúcia do Piaí, no dia 17 de março de 1937. Integrante de uma prole de 14 irmãos, foi o primogênito entre os homens, começando a trabalhar na agricultura ainda na infância. Além da lida na terra, em meados da década de 1940 o pequeno Nelso auxiliava o pai a transportar e comercializar os frangos que seriam servidos nos clubes Guarany e Juvenil.
Os dois costumavam sair de madrugada da Linha Sertória, a cavalo, no sentido a Galópolis, até chegarem ao centro da cidade. Certa feita, foram surpreendidos por policiais, que os abordaram por estarem vendendo sem licenças os animais. O episódio é detalhado por Éder, a partir dos relatos do próprio avô, com quem conviveu até seu falecimento:
“Ao ver o pai sendo levado pelas autoridades, o pequeno Nelso entrou em pânico. João, porém, antes de ser levado, orientou o filho a procurar um cliente no qual eles sempre passavam antes de irem nos clubes, vender os frangos. Este senhor era o famoso advogado João José Conte. Correndo pelas ruas da cidade, de boca em boca, Nelso conseguiu chegar até a casa da família Conte, onde foi acolhido pelo sr. João. O advogado imediatamente se dirigiu até a delegacia onde se encontrava seu pai e lhe concedeu um alvará, para os frangos serem comercializados de forma legal”.
Cobra e bergamota
“Neno”, como Nelso era chamado pelos avós, envolveu-se em uma brincadeira quase fatal nos anos 1940. O relato, que consta no depoimento concedido ao Banco de Memória do Arquivo Histórico Municipal, foi resumido por Éder:
“Após matar uma cobra, ele saiu correndo com o animal em direção às irmãs, para assustá-las. Acidentalmente, pisou no veneno caído no chão. O veneno logo penetrou no corpo, provocando graves infecções durante dias. Levado ao Hospital Carbone, foi desenganado pelos médicos e recebeu os santos óleos de um padre. Já em casa com a família, ele recebia visitas de vizinhos todas as noites, esperando a hora do desfecho final. Em uma noite, a jovem Onorina Costa levou uma bergamota e espremeu-a na boca de Nelso, que aparentemente sugou o líquido da fruta e deu sinais de uma pequena melhora. Entusiasmado, o tio Daniel Dall’Agnol levou-o novamente ao Hospital Carbone, onde as irmãs não acreditaram que ele ainda poderia estar vivo”.
Mudança para Tunas Altas em 1948
No fim dos anos de 1940, João Dall’Agnol transferiu-se com a família para a localidade de Tunas Altas, em Vila Oliva. Mas Nelso, então com 12 anos, não mudou de imediato. O pai deixou-o na antiga casa, para cuidar dos suínos que estavam no período de engorda.
“Nelso relatava com muita tristeza do medo que passou naqueles meses, quando se alimentava de frutas e morangas, mesmo legume que era distribuído aos animais”.
Já em Tunas Altas, Nelso conheceu a jovem Dorvalina Muraro, filha dos vizinhos Sebastião Muraro e Valentina Lazzarotto. Ambos namoraram por um tempo, até que a família de Sebastião partiu para o município de São Lourenço do Oeste, em Santa Catarina, em 1958. Nelso prometeu, então, que dentro de um ano iria até São Lourenço para casar com Dorvalina.
Dito e feito: em 4 de fevereiro de 1959, uma segunda-feira, na antiga Igreja Matriz de São Lourenço do Oeste, Nelso e Dorvalina uniram-se em matrimônio. Ele com 21 anos, ela, com 20.
A família
Após o casamento, Nelso e Dorvalina retornaram a Tunas Altas, onde permaneceram residindo na casa dos pais dele por um ano. Após quitar a compra de uma área de terras, iniciaram sua trajetória “do zero”. Em entrevista ao Banco de Memória do Arquivo Histórico Municipal, Nelso relatou que começou a vida com uma galinha e uma choca de pintos – que ganhou da cunhada Cecilia Muraro Scopel – e com um leitão – ganho do cunhado Hugo Rech.
Não podendo ter filhos, Nelso e Dorvalina apadrinharam, em 1963, a pequena Silvana, que se encontrava para adoção no Hospital Pompéia. Tempos depois, a família mudou-se para São Lourenço do Oeste, onde Nelso dedicou-se à criação de suínos e à agricultura de subsistência.
No início da década de 1970, já com sérios problemas de saúde, Nelso voltou para Caxias, onde se estabeleceu no bairro Cruzeiro. Por aqui, atuou na Cervejaria Pérola e na Vinícola Michielon. Na sequência, a convite do amigo Divino (Vino) Vidor, começou a trabalhar no antigo Aviário Pena Branca, como auxiliar de motorista, até adquirir seus próprios caminhões, um deles em sociedade com o primo José Silvestre.
Aposentado a partir dos anos 1980, seu Nelso dedicou-se ao cultivo de hortaliças. Ele faleceu em 27 de maio de 2014, vítima de um câncer no pâncreas. Tinha 77 anos.