Por Nadja Hartmann, jornalista
O lançamento da pré-candidatura de Airton Dipp (PDT) na última sexta-feira (28) deu a largada oficial na corrida pela prefeitura de Passo Fundo, acelerando movimentos dos demais pré-candidatos e, sobretudo, das articulações de alianças. Porém, ao contrário da frente de esquerda que demonstrou grande união durante o evento, com a presença de lideranças estaduais dos partidos, as demais alianças parecem ainda nebulosas, mesmo faltando menos de 20 dias para o período das convenções.
Entre o grupo da situação, por exemplo, há rumores de uma certa insatisfação dos diretórios municipais que não estariam sendo ouvidos pelo PSD. Segundo fonte desta coluna, dois vereadores do PSDB — Evandro Meireles e Luizinho Vallendorf — foram procurados para assinar uma declaração de apoio à candidatura de Pedro Almeida, mesmo o partido ficando fora da majoritária.
Decisão
Em contato com o vereador Meireles, ele não confirmou mas também não negou que o pedido de assinatura tenha acontecido. Contudo, disse que, em reunião na última segunda-feira (1), ficou decidido que só o partido pode se manifestar sobre a majoritária. E por partido, leia-se diretório estadual... Segundo o presidente do diretório municipal do PSDB, Rodrigo Borba, a executiva estadual orientou os vereadores a não assinarem qualquer declaração de apoio, apesar que, segundo ele, a tendência é dos tucanos se manterem na aliança, mesmo fora da majoritária. Frisa, porém, que a decisão não vai se dar em nível local.
Prioridade
E ao que tudo indica, também não vai ser do diretório municipal do União Brasil a decisão de permanecer ou não ao lado do PSD, mesmo abrindo mão da majoritária. Com um dos maiores volumes de recursos no Fundo Eleitoral e tempo de propaganda eleitoral, vai ser preciso bem mais do que uma “DR” para convencer o diretório estadual e nacional do partido abrirem mão do protagonismo de uma majoritária em Passo Fundo.
Fonte interna do União Brasil afirmou à coluna que a prioridade do diretório estadual é estar na majoritária para garantir o maior número de vereadores em nome do projeto do partido para 2026, que deve lançar Ronaldo Caiado ao Planalto. Isso quer dizer que se não garantirem a posição de vice na chapa de Pedro Almeida (PSD) estarão fora da aliança, restando ao partido se aliar ao PL de Márcio Patussi ou mesmo lançar uma candidatura solo, o que causaria uma grande divisão na direita em Passo Fundo.
Até que ponto isso é fato ou estratégia para “ganhar preço”, os próximos dias irão dizer... De acordo com o presidente do partido, vereador Rafael Colussi, a ideia é permanecer na aliança com o PSD, mas, ao mesmo tempo, destaca que os diretórios estadual e nacional gostariam sim que o UB estivesse na majoritária. Por isso, os diálogos ainda estão abertos...
Estrela
Falando em direita e esquerda, uma foto que circula em 10 de cada nove grupos de WhatsApp voltados à política da cidade fornece uma pista do clima que deve se instaurar durante a campanha eleitoral, trazendo o acirramento nacional para o local... São na verdade duas fotos da vereadora Eva Valéria (PT) no palco do evento de lançamento da pré-candidatura de Airton Dipp (PDT). Na primeira, ela aparece logo atrás de Dipp com um moletom vermelho estampando a estrela do PT e outra, no mesmo palco, com o mesmo moletom sem a estrela do PT.
Em contato com a assessoria da vereadora, a informação foi que a direção do PDT pediu desculpas pelo erro técnico, atribuído ao responsável pelas redes sociais do partido. Já a executiva municipal do PDT afirmou que o partido tem muita honra de estar ao lado do PT em Passo Fundo e atribuiu à repercussão da publicação à tentativa de “ofuscar o brilho do evento”.
Cenário em Carazinho
Já em Carazinho, o cenário para a majoritária está bem mais definido e, assim como em Passo Fundo, a disputa pela prefeitura deve se resumir em três chapas. Os pré-candidatos da situação foram lançados em uma live na última sexta-feira (28), tendo o vereador Daniel Weber (PP) na cabeça, formando dupla com o vereador Márcio Guarapa (MDB), partido que está no comando do município pela segunda gestão.
O PSB, que participa do governo desde o primeiro mandato de Milton Schmitz (MDB), está fora da majoritária, mas se manteve na aliança. Já o PT deve ir com chapa pura no município, com o presidente local do partido, Luis Alberto Godinho, na cabeça e o advogado Luís Fernando da Silva como candidato à vice.
A única dúvida ainda paira sobre o candidato à vice do tucano João Pedro Albuquerque, que deve ser decidido na próxima sexta-feira (5). A tendência é por um nome do Republicanos para neutralizar o discurso da situação de que o PSDB em Carazinho estaria identificado com a esquerda. Neste caso, um dos nomes cotados é da atual vice-prefeita Valeska Walber. Mas também existe a possibilidade de uma chapa puro-sangue tucana, com o vereador João Hartmann de candidato à vice. Tanto Valeska como Hartmann deixaram o MDB durante a janela partidária.
LDO 2025
Em meio ao clima de campanha eleitoral, os vereadores de todo o país ainda terão que se debruçar em cima de importantes votações que dizem respeito ao futuro dos municípios e das próximas gestões. Um exemplo é o Plano Plurianual, que define metas e prioridades para os próximos quatro anos. Além disso, ainda há o orçamento com as devidas emendas e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que define as prioridades de investimento para 2025, primeiro ano das novas gestões.
Na Câmara de Passo Fundo, o projeto foi protocolado na semana passada com previsão de receita de R$ 1.276.800.000 para 2025 e R$ 1.170.900.000 de despesa. Segundo a LDO, a meta orçamentária para o próximo ano é 11% superior ao orçamento deste ano. Vale lembrar que recentemente os vereadores aumentaram a fatia das emendas no orçamento, passando para 2%, o que equivale a mais de R$ 1 milhão. Por conta disso, foi aprovado, inclusive, um projeto da mesa diretora que prevê o reforço com mais um funcionário no setor de orçamento da Casa. Vai ser muito número para lidar...
Articulação
Diante do teor do projeto, não se pode dizer que a rejeição à moção de apoio ao PL do Aborto proposta pelo vereador Rodinei Candeia (Republicanos) tenha surpreendido. Teoricamente, o que deveria ser surpresa é o fato da moção ter recebido quatro favoráveis... Porém, diante da composição de forças no Legislativo de Passo Fundo atualmente, com um grande número de vereadores de partidos de direita e centro-direita, a derrota por 11 a 4, em parte, causou surpresa.
Basta lembrar que o último projeto envolvendo a pauta de costumes, voltado à restrição de atividades relacionadas à ideologia de gênero nas escolas, proposto pelo mesmo vereador, foi derrubado com um placar bem mais apertado, de 11 a 7. Desta vez, o resultado foi fruto de um forte trabalho de articulação feito nos bastidores, onde estava em jogo a imagem do Legislativo de Passo Fundo. O trabalho de convencimento foi tão forte que até mesmo a vereadora Janaína Portella (MDB), que na CCJ havia se posicionado favorável à moção, acabou mudando de ideia...
Omissão
O que infelizmente não causou surpresa é o fato de, mais uma vez, vereadores que estavam presentes na Casa se ausentarem da votação, o que pode ser interpretado até mesmo como uma tentativa de se omitir sobre o tema que divide opiniões. Ao todo, foram cinco ausentes no telão, sendo que a sessão registrou 18 vereadores presentes. Os vereadores que se ausentaram da votação foram:
- Gio Krug (PSD)
- Nharam Carvalho e Rafael Colussi (União Brasil)
Além do proponente, os vereadores favoráveis à moção foram:
- Ada Munaretto, Gleison Consalter e Renato Tiecher (PL)
Aliás, também causou surpresa a decisão do presidente Saul Spinelli (PSB) colocar o projeto em pauta na sessão de segunda-feira (1), já que a ideia inicial era deixar a “poeira baixar”. Porém, Saul se disse provocado por esta coluna e resolveu encarar o leão...
Sem plebiscito
Outro projeto rejeitado na sessão foi o do vereador Alberi Grando (MDB) que propunha um plebiscito nas eleições de outubro sobre a criação da guarda armada municipal. Com um placar de 10 a 7, o vereador não conseguiu garantir nem mesmo o apoio unânime dos seus colegas da situação, porém, surpreendentemente ganhou o apoio da vereadora Eva Valéria, do PT.
Apesar do tema de alguma forma também estar relacionado à pauta de costumes, as justificativas para o voto contrário na tribuna foram bem mais pragmáticos. Alguns vereadores alegaram o pouco tempo para o debate com a população ou a dificuldade que um plebiscito poderia causar no momento da votação e, até mesmo, o desemprego que uma guarda municipal poderia provocar, uma vez que hoje a segurança do patrimônio do município, como escolas, por exemplo, é feito por uma empresa terceirizada, que emprega cerca de 170 vigilantes.
Mas a justificativa mais pragmática ou sincera, por assim dizer, foi do vereador Renato Tiecher (PL), que disse que não ia “dar palco” para um vereador chamar um plebiscito de seu nas eleições...
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