Por Nadja Hartmann, jornalista
A reeleição é um dos assuntos da política que mais divide opiniões, tanto que tem governante que se reelege dizendo-se contra... Também tem quem defenda que quatro anos é muito pouco, mas oito é demais e levanta a bandeira dos seis anos de mandato, assim como tem aqueles que se elegem já se comportando como candidatos para a próxima eleição.
O problema, porém, não é exatamente o tempo de mandato, afinal, se o voto é um contrato entre o político e o eleitor, como pode umas das partes — no caso, o eleitor — não poder rescindir este contrato caso a outra parte não cumpra o prometido? É claro que há exceções, tanto que oito prefeitos e vice-prefeitos eleitos em 2020 no RS acabaram sendo cassados, mas, salvo estas raras exceções, o contrato é indissolúvel e só pode ser substituído por outro contrato.
A reeleição na região
Mesmo assim, nas últimas eleições municipais, a taxa de sucesso de prefeitos candidatos à reeleição foi superior a 70% no RS. Segundo levantamento da Famurs, dos 290 gestores que tentaram à recondução ao cargo em 2020, 209 obtiveram êxito e ganharam mais quatro anos de mandato. Em termos percentuais, dos 497 municípios gaúchos, 42% continuaram a ser liderados pelos mesmos gestores.
Nos maiores colégios eleitorais da região, Carazinho quebrou um paradigma e reelegeu um prefeito pela primeira vez em 2020, o emedebista Milton Schmitz. O mesmo aconteceu em Marau, com Iura Kurtz, também do MDB. Já em Erechim, não foi exatamente uma reeleição, já que Paulo Polis (MDB) havia ficado quatro anos fora da prefeitura, mas também não se pode dizer que ele não foi reconduzido ao cargo.
Ou seja, dos maiores municípios da região, os únicos que elegeram novos nomes foram Soledade, com Marilda Corbelini (MDB), e Passo Fundo, com Pedro Almeida (PSD), onde, porém, houve uma “reeleição” do mesmo grupo político, com os mesmos partidos na majoritária, uma vez que Luciano Azevedo (PSD) não podia mais concorrer.
Expectativa
A grande expectativa é saber se a taxa de reeleição de prefeitos este ano irá repetir a de 2020. Analistas políticos, na época, atribuíram o alto índice à pandemia, que teria criado o fenômeno da “jornada do herói”, com eleitores receosos para arriscar uma mudança quando ainda se vivia em meio da ameaça da doença. Ou seja, a experiência teria falado mais alto.
Além disso, como a campanha foi mais curta e restrita diante das regras da pandemia, o uso da máquina pública teria pesado mais. Se a pandemia pode ter influenciado na alta taxa de reeleição em 2020, a pergunta que fica é se as enchentes terão o mesmo efeito este ano...
Histórico
Na região, prefeitos de três dos cinco maiores colégios eleitorais podem concorrer à reeleição. Além de Passo Fundo, também Soledade e Erechim.
Ao contrário de Soledade que nunca reelegeu um prefeito, Erechim possui um histórico de reeleições. Já Passo Fundo reelegeu dois prefeitos: Airton Dipp (PDT) em 2004 e 2008 e Luciano Azevedo (PSD) em 2012 e 2016. Assim como Pedro Almeida (PSD), em Passo Fundo, Paulo Polis (MDB), em Erechim e Marilda Corbelini (MDB), em Soledade, devem tentar a reeleição.
Faca de dois gumes
Dizem que quem concorre à reeleição é privilegiado por ter a faca e o queijo na mão, mas temos que lembrar que esta faca tem dois gumes: o bônus e o ônus de ser governo. Como bônus, podemos citar a máquina a seu favor, as ações positivas do governo e a exposição na mídia.
Como ônus, o desgaste das promessas não cumpridas, o telhado de vidro apedrejado pela oposição durante quatro anos e ainda o desafio de ser continuidade sem parecer apenas um continuísmo. Porém, o exemplo dos prefeitos reeleitos de Passo Fundo pode servir de consolo e motivação para àqueles que tentam renovar o contrato com os eleitores por mais quatro anos. Tanto Airton Dipp (PDT) como Luciano Azevedo (PSD) aumentaram consideravelmente suas votações entre o primeiro e segundo mandato.
Retrospecto positivo
Enquanto Dipp em 2004 fez 37,21% dos votos, em 2008 fez quase o dobro, alcançando 59% dos votos. Aliás, aqui vale um parênteses: em 2004 tivemos uma das eleições com o resultado mais apertado da história política recente de Passo Fundo, quando o segundo colocado, Luciano Azevedo, fez 2.187 votos a mais. Mesmo com um menor número de eleitores, a apuração voto a voto mobilizou médicos cardiologistas de toda a cidade.
Já o desempenho nas urnas de Luciano Azevedo em 2012 e 2016 também foi positivo. Enquanto que para o primeiro mandato alcançou 51% dos votos, para o segundo, na eleição de 2016, conquistou o voto de 76% dos passo-fundenses. O retrospecto ajuda a concluir que talvez o bônus de ser prefeito seja bem maior do que o ônus...
Pesquisas
Além de números e retrospectos de eleições anteriores, outra planilha que não sai da cabeça das lideranças políticas em época da eleição é dos índices revelados pelas pesquisas eleitorais. Nas últimas semanas em Passo Fundo, a maioria dos partidos tinha uma embaixo do braço, com dados de intenção eleitoral, rejeição e até sobre o desempenho do atual governo.
Os resultados, mesmo guardados a sete chaves, acabam vazando e fomentando as mais diversas interpretações. Mas a verdade é que, como retrato do momento, pesquisas agora só servem mesmo para o partido A ou B ganhar mais ou menos peso na formação de alianças, até porque ainda tem muita água para rolar debaixo dessa ponte...
Debates
Um dos aspectos determinantes que pode influenciar diretamente no resultado das urnas é o desempenho dos candidatos nos debates eleitorais, quando entram em pauta os principais temas da agenda local. Este ano, além dos assuntos presentes em todos os debates, como saúde e educação, o meio ambiente ganhará mais atenção, em especial, as ações para evitar desastres climáticos.
Neste quesito, vale lembrar que qualquer negacionismo não será tolerado. Em Passo Fundo, particularmente, não deve faltar também nos debates questões voltadas a um dos “calcanhares de Aquiles” da atual administração, que é a Habitação. Porém, os problemas na saúde pública municipal, em especial no atendimento do Hospital Municipal, certamente serão trazidos à tona pela oposição. O que se espera é que além de críticas da oposição e justificativas do atual governo, sejam apresentadas soluções factíveis entre uma réplica e tréplica...
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