Por Nadja Hartmann, jornalista
Azedou de vez o clima no União Brasil em Passo Fundo. A notificação da possibilidade de intervenção do diretório nacional pegou tanto o diretório municipal como o estadual de surpresa e gerou duas reações imediatas: um recurso na Justiça e uma “lavada de roupa suja” em público durante a sessão desta segunda-feira (22) na Câmara de Vereadores, quando os dois vereadores do partido utilizaram a tribuna para soltar o verbo com palavras nada elogiosas ao ex-vereador Patric Cavalcanti, que, segundo eles, seria o responsável pela intervenção.
Os vereadores Rafael Colussi e Nharam Carvalho utilizaram termos como “traição” e “deslealdade” para descrever a articulação de Patric, que apoiado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, estaria trabalhando por uma aliança com a direita, representada pelo pré-candidato do PL, Márcio Patussi (PL) e um consequente rompimento com a aliança que apoia Pedro Almeida (PSD).
O PL, portanto, garante que não tem nada a ver com essa briga e o fato de terem adiado a convenção que iria oficializar a majoritária com o Podemos, foi só uma coincidência...
Alinhamento
Como presidente do diretório municipal, o vereador Rafael Colussi afirmou à coluna que mesmo que a intervenção do diretório nacional seja oficializada, elegendo uma nova executiva municipal, a sua posição, assim como da maioria dos pré-candidatos do partido, não vai mudar.
— Nossa resposta será nas urnas e na justiça — declarou.
Já Patric garante que a executiva municipal sabia da posição do diretório nacional de não abrir mão da majoritária desde o final de março e que a intervenção não seria em favor de apoiar o candidato A ou B, mas sim de fortalecer o alinhamento com partidos de direita, visando 2026, tanto que outro município que deve sofrer intervenção do diretório nacional é Santa Maria, onde o União Brasil indicou o candidato à vice-prefeito da chapa com o PT.
Para Colussi, porém, o diretório nacional deveria dar o exemplo, abrindo mão dos três ministérios que possui no governo Lula. Reforça, no entanto, que em Passo Fundo, nunca houve possibilidade do partido se aliar à esquerda, o que torna ainda mais incompreensível a intervenção.
Quem ganha?
Na prática, o que está em jogo é o “polpudo e pomposo” tempo de propaganda eleitoral e recursos do fundo eleitoral do partido, além, é claro, dos apoios para 2026, inclusive para deputado federal. De qualquer forma, a crise interna faltando três meses para as eleições já traz prejuízos. História recente já comprovou que uma decisão imposta por caciques nunca é bem aceita pela base. Além disso, é um jogo de perde-perde...
Mesmo confirmada a intervenção do diretório nacional em nome de uma aliança com a direita, Márcio Patussi (PL) pode levar o tempo e o fundo eleitorais, mas não leva o apoio dos candidatos a vereador. Além disso, até que ponto uma nova executiva com a presidência de Patric Cavalcanti será legitimada? Portanto, a pergunta que não quer calar é: quem ganha com essa intervenção?
A propósito: as crises internas que a maioria dos partidos enfrenta em nível local escancaram o empoderamento dos diretórios estaduais e nacionais, que diante do poder de decisão de distribuição de recursos para as campanhas deixam os diretórios municipais na posição de reféns dos caciques partidários.
CPI na Saúde
Tudo o que um prefeito que concorre à reeleição, como é o caso de Pedro Almeida (PSD), não precisa é de uma CPI durante a campanha eleitoral. No entanto, é tudo o que uma oposição precisa para desgastar a imagem da administração, principalmente se tratando da área da saúde, que acabou se revelando como uma pedra no sapato da atual gestão. Dizer que uma CPI é política é chover no molhado.
Toda CPI é política, o que não significa que tenha que ser “politiqueira”. No caso da CPI proposta pelos vereadores da oposição para investigar a morte do menino no Hospital Municipal, o caso é muito grave para não ser tratado com a devida seriedade e responsabilidade. Porém, por enquanto, a ameaça foi parar na gaveta, já que o presidente Saul Spinelli (PSB) optou por solicitar o relatório do inquérito da Polícia Civil antes de dar qualquer prosseguimento. Ou seja, colocou para cozinhar em fogo brando...
Mesmo assim, nos bastidores, a simples possibilidade da CPI rendeu muito “pano pra manga”, principalmente em função do apoio do vereador da situação, Evandro Meireles (PSDB). Dizem que o tempo fechou para o lado dele...
Denúncia
Uma campanha massiva do funcionalismo público denunciando as más condições de trabalho também é tudo o que um prefeito candidato à reeleição não deseja durante uma campanha eleitoral. Porém, ao que tudo indica, é mais uma dor de cabeça que Pedro Almeida terá que enfrentar nos próximos meses.
O Simpasso já vinha denunciando os locais insalubres de trabalho há alguns meses, porém, na segunda-feira (22) protocolou uma denúncia junto ao Ministério Público e a questão deve ter desdobramentos, além das redes sociais...
Ocaso
Tradicionalmente dedicado a balanços parciais do ano, o mês de julho de anos eleitorais marca também o início da contagem regressiva para o fim dos mandatos de prefeitos e vereadores. Na verdade, no caso das prefeituras, este mês marca praticamente o encerramento da gestão, já que os meses de agosto a outubro são dedicados à campanha e, após o resultado, enquanto para alguns é hora de esvaziar as gavetas, para outros é hora de formar uma nova equipe. Depois, já é Natal... Ou seja, não se pode esperar grandes decisões nem mesmo no Congresso Nacional a partir deste mês, já que grande parte dos deputados volta para as suas bases para eleger “os seus”.
Saldo positivo
Portanto, passando a régua no primeiro semestre, pode-se dizer que a conta foi positiva tanto para o Executivo quanto para o Legislativo de Passo Fundo. Com o calendário eleitoral batendo à porta, o prefeito Pedro Almeida acelerou obras e lançamentos de programas importantes para o município.
O primeiro semestre também foi marcado por mudanças de titulares em cinco secretarias, além de reacomodações no segundo escalão, muito por conta dos prazos de desincompatibilização. Somando com as mudanças já feitas anteriormente, o governo que vai se encerrar dia 31 de dezembro de 2024 terá uma “cara” bem diferente daquele que iniciou em 1º de janeiro de 2020, com apenas 12 dos 20 secretários que assumiram na época.
Legislativo
Já na Câmara de Vereadores, foram aprovados 30 projetos de lei nos primeiros seis meses de 2024. Além disso, a Câmara garantiu o protagonismo em pautas importantes, permanecendo na vitrine neste primeiro semestre, com avanços históricos, como a criação da Procuradoria da Mulher.
Inclusive, após um início de ano tumultuado por conta da votação do reajuste do funcionalismo, sob o comando do presidente Saul Spinelli, as sessões da Câmara em nada lembraram o acirramento de um ano eleitoral. Houve alguns episódios de bate-boca, mas que foram devidamente controlados.
Assim como no Executivo, o Legislativo também passou por uma dança de cadeiras neste primeiro semestre. Ao todo, sete dos 21 vereadores aproveitaram a janela partidária de abril para mudar de partido, fazendo com que também a atual legislatura se encerre em dezembro com uma composição de forças bem diferente da que iniciou.
Quem ganhou e quem perdeu
Falando em composição de forças, em uma rápida análise de quem ganhou e quem perdeu, o governo conseguiu aprovar praticamente todos os projetos na Casa no primeiro semestre, sem nenhuma grande derrota política para contabilizar.
Já em relação à pauta de costumes, os partidos de centro-esquerda e esquerda conseguiram barrar projetos defendidos pela bancada de direita, como o que restringia as atividades voltadas à ideologia de gênero nas escolas de Passo Fundo e a Moção de Apoio ao PL do Aborto, demonstrando que apesar da legislatura ser formada majoritariamente por vereadores de centro-direita e direita, a mobilização dos movimentos sociais progressistas falou mais alto na hora do voto...
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