Por Nadja Hartmann, jornalista
É digna de elogios a campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que visa evitar as chamadas candidaturas-laranja, lançadas apenas para cumprir a cota e receber os recursos do fundo partidário. Entre outras coisas, as novas regras estabelecem como fraude a candidata a vereadora com votação zerada ou pífia, sem importar o motivo alegado para a baixa votação.
No mundo ideal tais regras não seriam necessárias, já que deveria ser compromisso dos partidos em não lançar candidaturas fraudulentas. Mas, infelizmente, no mundo real, elas não só são necessárias, como devem ser fiscalizadas e cobradas...
Em Passo Fundo, nas eleições de 2020, por exemplo, 30 candidatas mulheres fizeram menos de 50 votos. Destas, oito registraram menos de 15 votos, sendo três candidatas do PSD, duas do PCdoB e as demais do Democratas, Republicanos e Solidariedade. Impossível uma pessoa não conquistar o voto de nem mesmo 15 amigos ou parentes. De duas, uma: ou é muito impopular ou é laranja...
Representatividade no Legislativo
De qualquer forma, com mais recursos garantidos para as candidaturas femininas, certamente este ano teremos um maior número de mulheres na disputa. Colabora para isso também, os espaços que vêm sendo conquistados pelas mulheres à frente da sociedade civil organizada, em especial, na liderança de movimentos sociais.
O que se espera é que realmente elas sejam valorizadas pelos partidos e que os avanços na legislação se reflitam na efetiva maior representatividade de gênero na política nos municípios. Atualmente, as mulheres ocupam apenas 16% das vagas nas Câmaras de Vereadores do país. Em Passo Fundo, o percentual é de 19%, com quatro vereadoras, o que veio romper uma trajetória histórica da falta de representatividade de mulheres no Legislativo do município.
O próximo avanço, aliás, seria exigir cota de gênero nas majoritárias. Hoje apenas 12% dos municípios brasileiros são comandados por mulheres. No RS, a representatividade é menor: são 38 prefeitas eleitas, um índice de apenas 7,6%.
Representatividade no Executivo
... Na região, o único município que elegeu uma prefeita é Soledade, com Marilda Borges Corbelini, do MDB. Além disso, são duas vices-prefeitas: em Carazinho, Valéska Walber, e em Casca, Lurdes Foppa, ambas do MDB. Já Passo Fundo nunca teve uma mulher prefeita ou vice-prefeita e, ao que tudo indica, não terá nos próximos quatro anos.
Das mulheres que se elegeram aos Executivos municipais em 2020, Marilda pode ser confirmada como candidata à reeleição em Soledade, mas o ex-prefeito Paulo Ricardo Cattaneo também colocou o seu nome à disposição do MDB, sendo que a disputa deve ir para a convenção.
Já em Casca, a vice-prefeita Lurdes Foppa também disputa internamente no MDB a indicação do seu nome para liderar a majoritária do partido. Em Carazinho, a vice-prefeita Valeska Walber, hoje no Republicanos, é um dos nomes cotados para candidata à vice na chapa de oposição, com João Pedro Albuquerque (PSDB).
Disputa em Marau
Outro município da região que pode ter uma mulher na disputa da majoritária é Marau. Com o MDB dividido entre os vereadores e ex-secretários Vilmo Zanchin — irmão do deputado Vilmar Zanchin — e Silvio Confortin, o partido pode optar pelo nome de Naura Bordignon, para evitar um racha interno.
Naura deixou a chefia de gabinete do prefeito Iura Kurtz em junho e está apta a concorrer. Ao que tudo indica, a situação deve manter a dobradinha com o PSB do atual vice Rui Gouveia. Já o namoro entre o PP e o PL, que ensaiavam uma aliança de oposição, não deve se confirmar e a direita deve se dividir no município, com o vereador Anderson Rodigheri, pelo PP e Duda Bergonsi, pelo PL.
Motivação
Aliás, os polpudos recursos do fundo eleitoral e o tempo de propaganda vem encorajando o PL a encabeçar majoritárias na maioria dos maiores colégios eleitorais da região. Além de Marau e Passo Fundo, o partido deverá ter candidato à prefeito em Carazinho, com o ex-prefeito Renato Suss voltando ao cenário político, e em Erechim, com Ernani Mello.
E por falar em Erechim, o cenário político eleitoral no município está praticamente definido, com quatro pré-candidatos à prefeito. Além de Ernani Mello, devem aparecer nas urnas, os nomes do atual prefeito Paulo Polis (MDB), Anacleto Zanella (PT) e Anaximandro Zambonatto Pezzin (Republicanos).
Pro forma
O martelo sobre as nominatas só vai ser batido nas convenções, a partir de 20 de julho, mas que acabam servindo mais “pro forma”, já que as decisões são tomadas nos bastidores...
Antes disso, os dias que antecedem as convenções vem sendo utilizados pelos partidos políticos de Passo Fundo para eventos “motivacionais”, reunindo filiados e potenciais pré-candidatos. Com o funil mais apertado para o Legislativo, cada partido no município só vai poder indicar 22 nomes, sendo que 30% deve ser reservado à cota de gênero, com candidaturas femininas. Em 2020 eram permitidos 31 candidatos por partido, o que totalizou 348 candidaturas, ou seja, uma média superior a 16 nomes por vaga, digna dos cursos mais disputados nas universidades da região.
Retrospecto
Se algum retrospecto continua válido depois de quatro anos, os partidos com as maiores nominatas em 2020 em Passo Fundo (28 nomes cada um) foram o PDT e o já extinto Democratas.
O PDT elegeu quatro vereadores e o DEM dois. O vereador mais votado, Rodinei Candeia, ex-PSL e hoje Republicanos, se elegeu com 2.825 votos e o último vereador a garantir uma vaga, Altamir dos Santos, na época do Cidadania e hoje do PDT, garantiu a vaga com 812 votos, ou seja, dois mil votos a menos que o vereador mais votado.
Vale lembrar que Ingra Costa e Silva, do PSOL, apesar de ter feito 1.232 votos, não se elegeu por conta da legenda...
Repúdio
Após o Legislativo de Passo Fundo rejeitar a moção de apoio ao PL 1.904, chamado de PL do Aborto, a vereadora Janaína Portella (MDB) protocolou uma moção de repúdio aos casos de estupro e lesão corporal de mulheres em Passo Fundo. Na justificativa, a vereadora alerta para a necessidade de chamar a atenção dos órgãos de segurança sobre a necessidade de maiores investimentos para coibir este tipo de crime em Passo Fundo.
No ano passado, foram registrados 82 casos de estupro e 499 de lesão corporal contra mulheres. Ao contrário da moção de apoio ao PL 1.904, que dividiu opiniões, espera-se que esta seja aprovada por unanimidade — ou será que algum vereador não está preocupado com a violência contra as mulheres em Passo Fundo?
A propósito: em Marau, o Legislativo rejeitou uma moção de repúdio ao PL do Aborto. De autoria do vereador Laércio Zancan (PSB), a moção foi rejeitada por 5 a 3. Além do autor, os outros dois votos favoráveis foram do MDB, e chama atenção que as duas vereadoras eleitas no município, Elisabete Alban (PL) e Josiane Bedin (MDB), votaram contrárias à moção de repúdio.
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