Por Nadja Hartmann, jornalista
Faltando menos de um mês para o início do período das convenções partidárias que, a partir de 20 de julho, irão definir as candidaturas, espera-se que os partidos estejam debruçados sobre os nomes que irão colocar à disposição, e não só em relação ao potencial eleitoral — já que o funil está mais estreito com a redução das nominatas —, mas principalmente quanto ao potencial de trabalho em prol do interesse público.
Por interesse público, entende-se muito mais do que prometer asfalto ou dar nome de rua…Chama a atenção que na mesma medida que cresce o número de candidatos nas eleições, reduz o número de eleitores que comparecem às urnas. Ou seja, mesmo com o aumento da “oferta” de nomes, nota-se um desinteresse dos eleitores em fazer uma escolha. Onde estaria o erro?
Reflexão
Para se ter uma ideia, enquanto na eleição de 2008, com o registro de 108 candidaturas, a abstenção foi de 13,04%, em 2020, com mais de 350 nomes colocados à disposição, a abstenção subiu para 25,46%. Isso equivale a quase 20 mil eleitores que abriram mão de escolher nomes para representá-lo na Câmara ou na prefeitura.
Verdade que a pandemia fez crescer o índice de abstenção em todo o país nas últimas eleições municipais, porém, em 2016, que registrou mais de 280 candidaturas, 16% dos eleitores deixaram de votar. São dados que merecem uma profunda reflexão das lideranças partidárias e, mais do que reflexão, atitudes efetivas no sentido de apresentar nomes — e projetos — que realmente incentivem os eleitores a deixarem as suas casas em 6 de outubro para ir até um local de votação. O índice crescente de abstenção é o retrato do fracasso do sistema político e é problema, sim, de cada partido…
Disputa histórica
Há quem diga que quanto mais acirrada uma eleição para a majoritária, mais os eleitores se sentem estimulados a participar. Se isso for verdade, a tendência é Passo Fundo ver cair naturalmente seus índices de abstenção nestas eleições, já que, salvo mudanças de última hora, teremos a eleição mais polarizada da história recente do município, com apenas três candidaturas.
A última eleição com menor número de candidatos a prefeito foi em 2008, com quatro nomes. Já em 2020, foram sete candidatos. Outro fator que pode mobilizar os eleitores é o repeteco de uma disputa que já se tornou histórica em Passo Fundo, entre Luciano Azevedo (representado por Pedro Almeida) e Airton Dipp.
Os dois se enfrentaram pessoalmente em 2004 e 2008, quando em ambas as vezes, Dipp levou a melhor. A situação se inverteu a partir de 2012, quando Dipp deixou de concorrer na majoritária e Luciano venceu pessoalmente duas eleições consecutivas e ainda em 2020, com Pedro Almeida. Em 6 de outubro, não será a foto de Luciano que estará estampada nas urnas, mas a ligação é inevitável…
Tira-teima
E esta não será a única “prova dos nove” desta eleição... As urnas também irão trazer a resposta se os mais de 30 mil votos de Márcio Patussi em 2020 pertencem a ele, Patussi, ou ao PDT. Aliás, a candidatura do ex-vereador, agora pelo PL, também irá servir para fazer o “tira-teima” da força bolsonarista na cidade, dois anos depois do ex-presidente ter feito 67 mil votos, o equivalente a 56,72% do total de eleitores passo-fundenses.
Raposões da política costumam repetir que cenários nacionais não influenciam na eleição municipal. Porém, tendo na disputa uma frente identificada fortemente com a direita e outra com a esquerda, em um país ainda refém da polarização, será que esse mantra da política continua a valer? Com a resposta: as urnas!
Termômetro
O Encontro Regional do PDT, nesta sexta-feira (28), irá servir de palco para o lançamento oficial da pré-candidatura de Airton Dipp à prefeitura de Passo Fundo. Com a presença confirmada de lideranças estaduais do partido, a participação dos filiados e o prestígio de lideranças dos demais partidos que compõem a Frente de Centro-Esquerda será um termômetro para medir a força da campanha…
Democracia
Winston Churchill teria dito que a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais. É só mesmo a democracia que permite que, ao mesmo tempo que a Câmara de Vereadores de Passo Fundo marque importantes avanços em prol da valorização da mulher, com a instalação da Procuradoria Especial da Mulher na quinta-feira (27), também esteja prestes a aprovar uma moção de apoio ao chamado PL do Aborto, que representa um dos maiores retrocessos no combate à violência contra a mulher, imputando pena maior à gestante do que ao estuprador.
O contraditório e a contradição
A moção, de autoria do vereador Rodinei Candeia (Republicanos), já foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com quatro votos favoráveis — entre eles, de duas mulheres, as vereadoras Ada Munareto (PL) e Janaína Portella (MDB), além dos vereadores Rafael Colussi (União Brasil) e Evandro Meireles (PSDB). O único voto contrário foi da vereadora Regina Costa (PDT).
A democracia permite e até mesmo incentiva o contraditório, mas não a contradição. Fica difícil compreender um Legislativo que por um lado fortalece as políticas públicas de combate à violência contra a mulher — criando inclusive um órgão para isso — e, por outro lado, apoia que a mulher ou criança vítima de estupro seja punida com 20 anos de prisão se optar pela interrupção da gravidez…
A propósito I: apesar de já ter passado pelas comissões, o presidente do legislativo, Saul Spinelli (PSB) deve segurar a moção na gaveta. A ideia é deixar a poeira baixar para só depois submeter ao plenário. Na quinta (27), o Movimento de Mulheres Olga Benário, apoiado por outras entidades e movimentos sociais, realizou um Ato Público na Praça da Cuia, com palavras de ordem como “Nem presas, nem Mortas”, “Criança não é mãe” e “Aborto legal e seguro já”.
Na pauta
O projeto que está na fila para entrar na pauta de votação já na próxima segunda-feira (1) é o que trata do Aluguel Social, também conhecido como Auxílio-Moradia. Apesar da crítica de alguns vereadores sobre o valor do auxílio (R$ 609) e o critério de renda de até dois salários mínimos por família, na linha do “ruim com ele, pior sem ele”, a expectativa é que o projeto seja aprovado por unanimidade.
Perguntas
Falando em unanimidade, a resolução de pedido de urgência para a votação do projeto que propõe um plebiscito sobre a criação da guarda armada municipal em Passo Fundo foi aprovado por consenso e, de acordo com as manifestações na tribuna, assim também será quanto a aprovação do plebiscito.
A maioria dos vereadores fizeram questão de repetir que se trata apenas de uma consulta à população e que a decisão final caberá ao prefeito, que — se concordar — deverá implementar o programa. Ora, como a população vai decidir sem saber o custo de uma guarda armada? Ou que tipo de armas vai usar? Onde irá atuar? etc. Além disso, para que então consultar a população se a última palavra será do próximo prefeito?
Multas
Continuou repercutindo na última sessão da Câmara a aprovação do veto do prefeito Pedro Almeida ao artigo que propõe a cobrança de multa às empresas terceirizadas da prefeitura que atrasarem o salário dos funcionários. Inconformado, o vereador Altamir dos Santos (PDT) pediu que a população guardasse bem o nome dos 10 vereadores que concordaram com o veto. Porém, de acordo com o procurador do município, Adolfo de Freitas, as multas já são cobradas. Segundo ele, o município multa e “multa muito” as empresas que descumprem os contratos. Só de uma empresa recentemente, ele cita que foram cobrados mais de R$ 600 mil.
Solidariedade
Sobre o caso da morte do menino Gustavo que vem causando grande comoção na cidade, uma nota oficial da Secretaria da Saúde pode até tentar explicar o inexplicável, mas ainda é muito pouco diante da gravidade do caso. Não se trata de condenar precipitadamente os profissionais envolvidos, mas se tratando de um Hospital Municipal, a família merecia mais manifestações públicas de solidariedade do que apenas uma nota fria e protocolar. Às vezes, é preciso deixar de lado o esforço pela agenda positiva de governo e tratar de dores e perdas com sensibilidade…
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