Iniciativa pioneira no país, o Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS foi tema de debate em seminário que reuniu representantes das principais instituições gaúchas na tarde de quinta-feira (18). O painel, ocorrido na sede da RBS TV, marcou os 30 meses do grupo ao discutir o papel vigilante do jornalismo diante de casos de desvios e corrupção.
Em seus dois anos e meio de atuação, o GDI fortaleceu o jornalismo investigativo na empresa. Ao todo, produziu 76 novas investigações e gerou mais de uma centena de resultados práticos. O balanço inclui 65 denúncias abertas no Ministério Público, quatro processos judiciais, cinco operações policiais e oito prisões ocorridas a partir de reportagens publicadas em GaúchaZH, Zero Hora e Diário Gaúcho e veiculadas na Rádio Gaúcha e RBS TV.
— A RBS existe para produzir jornalismo e entretenimento que conectem os gaúchos e contribuam para uma vida melhor. O GDI é uma das demonstrações mais nítidas disso — disse o CEO do Grupo RBS, Claudio Toigo.
Formado por 12 jornalistas, o grupo multimídia já se debruçou sobre assuntos que vão desde a venda de alimentos impróprios para consumo até o caminho de celulares furtados. Em uma das mais recentes reportagens, mencionada pela coordenadora do GDI, Dione Kuhn, denunciou um golpe aplicado em aposentados, resultando no ressarcimento do dinheiro cobrado ilegalmente das vítimas.
— Queremos cada vez mais investigações que apresentem soluções, caminhos e bons exemplos, porque somente denunciar não basta — afirmou Dione.
O papel do jornalismo investigativo e a sua importância para fortalecer a sociedade pautou a maior parte do seminário. Pelo seu compromisso com a verdade, o GDI consolidou-se como um parceiro das instituições que têm como princípio o combate à violência e às injustiças. Secretário de Segurança Pública, o governador em exercício, Ranolfo Vieira Júnior, lembrou que, sem uma imprensa livre, não há democracia:
— O GDI me parece um símbolo desse princípio basilar. Presta um serviço à sociedade gaúcha, enquanto também alimenta o poder público, as polícias e o sistema de justiça criminal como um todo.
Por ser movido pelo interesse público, o grupo de repórteres busca o impacto social e a transparência em sua atividade. Por isso, em muitos casos, há a colaboração com órgãos públicos que detêm o princípio constitucional de investigar. Chefe da Polícia Civil, a delegada Nadine Anflor recordou, no painel, que reportagens do GDI costumam se tornar apurações na instituição, e vice-versa.
— O jornalismo investigativo tem a responsabilidade de levar à sociedade informações investigadas, cada vez mais qualificadas e transparentes — afirmou a delegada.
— Para que cada um cumpra o seu papel, é importante que a imprensa e o investigador compreendam os seus limites e que cada um possa cumprir o seu papel: o investigador dê as informações que tem o dever de dar à sociedade, e o repórter as traduza para dar esclarecimentos à sociedade — completou o procurador-geral do Ministério Público do Estado, Fabiano Dallazen.
Para Cezar Miola, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, o trabalho dos repórteres investigativos é ainda mais relevante porque, diferente dos agentes "oficiais", eles não têm as garantias e mecanismos legais para apurar. Assim mesmo, conseguem lançar à luz denúncias que contribuem para que as pessoas tomem decisões.
— Isso dá uma dimensão ainda maior à importância desse trabalho — destacou Miola.
Juntos, os repórteres do GDI somam 395 prêmios. Antes da criação do grupo, em dezembro de 2016, os experientes jornalistas já faziam investigações, que estão na essência do jornalismo do Grupo RBS. Porém, no grupo, receberam blindagem para se debruçar de modo exclusivo a denúncias, sendo também um antídoto contra a desinformação em um momento em que se discute o papel da imprensa.
— Esses esforços individuais, brilhantes, passaram a ter um norte que organiza e potencializa a massa crítica. Me parece a essência do jornalismo: notícias completas, denúncia, investigação e crítica; quem, quando, como, onde e por quê. Isso é jornalismo, o resto, propaganda — afirmou Túlio Martins, presidente do Conselho de Comunicação Social do Tribunal de Justiça gaúcho.
Durante as quase duas horas de painel, a crise enfrentada pelo modelo jornalístico também foi lembrada. Andiara Petterle, vice-presidente de Produto e Operações do Grupo RBS, provocou os mais de 60 convidados a refletirem sobre o modelo de financiamento da atividade:
— Temos a necessidade de servir a sociedade, buscar a transparência e promover a democracia, mas sabemos que a ponta de sustentabilidade desse negócio está absolutamente ameaçada. Para a gente, é um orgulho enorme poder continuar investindo nessa atividade.
A secretária de Comunicação do governo do Estado, Tânia Moreira, disse que a vacina passa por iniciativas como o GDI:
— O GDI traz informações de interesse público à população. Informação apurada, ponto a ponto, como aprendemos na faculdade de jornalismo. Vivemos um momento de crise, e acho que o antídoto para frear o que vem acontecendo é fazer mais jornalismo.
Homenagem a policiais mortos
Antes do início do painel, o apresentador Elói Zorzetto prestou uma homenagem em nome do Grupo RBS aos policiais gaúchos mortos no cumprimento do seu dever. O seminário do GDI foi dedicado ao trabalho desses servidores que perderam as suas vidas lutando para proteger a sociedade. Em 2019, foram cinco casos.
— A morte desses profissionais não pode ser em vão. Deve reforçar as nossas convicções, o nosso propósito e as nossas ideias — disse Zorzetto.
Diante das imagens dos policiais no telão, a plateia os aplaudiu. Ao fim, a diretora de Jornalismo de Jornais e Rádios do Grupo RBS, Marta Gleich, lembrou que o tratamento de policiais mortos em atividade tem sido tema de discussão nas reuniões do comitê editorial da empresa:
— Ele deve ser tratado como um herói que estava trabalhando para a sociedade.
A solidariedade aos servidores se estendeu para as palavras da chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor, do comandante-geral da Brigada Militar, Mário Yukio Ikeda, e do superintendente da Polícia Federal do Estado, Alexandre Isbarrola.
— Esses policiais foram mortos cumprindo o seu dever com muita dedicação. Isso está no sangue do policial — afirmou Ikeda.
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Frases de destaque
A liberdade de imprensa é um princípio fundamental em qualquer sociedade que queira ser democrática. O GDI colabora duplamente, investigando o problema do cidadão e entregando na outra ponta, que são as instituições públicas.
O jornalismo investigativo feito de forma séria, principalmente por veículos de credibilidade, serve como uma fonte de informação muito relevante para que a sociedade saiba o que está acontecendo e faça o seu julgamento de uma forma tranquila, não baseada em notícias falsas.
Vivemos uma crise de confiança, porque qualquer um pode colocar qualquer informação na internet. O jornalismo investigativo, profissional, nunca foi tão importante à sociedade como hoje, devido a essa falta de credibilidade espalhada pelas fake news. O jornalismo profissional e a investigação vêm para combater isso.
O poder necessita de controle, não apenas pelas instâncias próprias de controle do poder, mas pela imprensa. Por ela, a sociedade tem condições de limitar o exercício do poder. Como um todo, o jornalismo é fundamental, mas especialmente o investigativo, que é a voz da sociedade no controle do poder.
O GDI é uma maneira de criarmos uma massa crítica para melhorar o jornalismo.
É importante darmos transparência às questões públicas e ao dinheiro público. Essa independência faz os pilares da democracia se consolidarem, e o Grupo RBS tem, através do GDI, um grupo diferenciado de jornalistas que atuam com serenidade perseguindo a verdade dos fatos.
A parceria entre o GDI e a Polícia Civil existe desde o início. Muitas investigações se iniciam das denúncias do GDI, outras se iniciam com o trabalho da polícia judiciária, mas acabam se consolidando através da divulgação. Estamos todos trabalhando em prol da sociedade.
O jornalismo investigativo se conecta com os órgãos de controle. Temos uma proximidade muito grande, embora em campos diferentes, porque ele ajuda a identificar eventuais irregularidades e fraudes, levando ao conhecimento dos órgãos de controle e contribuindo para que a sociedade possa exercer o controle social.
O jornalismo investigativo vai a fundo nas pautas, analisa com profundidade e realmente se informa. É uma forma de combatermos tantas mentiras que temos visto por aí. O combate às informações fraudulentas tem de ser de todo o cidadão, do governo, da sociedade, da imprensa. E o GDI cumpre esse papel.
É extremamente importante para mostrar à sociedade os problemas que ocorrem e que muitas vezes nós, que somos da área policial, não conseguimos resolver ou nem enxergar. Ele torna público os problemas que temos na sociedade para, a partir daí, darmos uma atenção especial.
As pessoas esperam conteúdo de qualidade com contraponto e provas. Foi assim que terminou a Guerra do Vietnã, foi assim que houve o caso Watergate e muitas coisas recentes na história do Brasil se basearam no jornalismo investigativo. Jornalismo é notícia, informação, denúncia e transmissão real da verdade para as pessoas.
O GDI é a grande novidade do jornalismo, não só no Rio Grande do Sul, mas no Brasil. Nessa época em que vivemos tantas transformações sociais e tecnológicas, há o anseio por novidades. Tenho acompanhado as investigações e as suas repercussões, todas em benefício da sociedade. É um trabalho altamente social, é prestação de serviço.
Temos trabalhado de forma integrada efetivamente na área de segurança pública. Acho que essa é uma das maiores mazelas que temos na sociedade.