Em uma iniciativa incomum para empresas de comunicação brasileiras, a RBS está lançando o Grupo de Investigação(GDI), integrado por jornalistas de jornal, rádio e TV que vão trabalhar na apuração de denúncias que impactam a vida do cidadão. O GDI, que surge em momento de debate mundial sobre o papel do jornalismo, está sustentado na crença de que a investigação jornalística é essencial para a democracia e para a transformação da sociedade.
– O jornalismo investigativo é fundamental para a sociedade, especialmente em uma era em que as desinformações circulam em larga escala pelas redes sociais. O Grupo RBS tem tradição de décadas em reportagem investigativa e, agora, com a criação do GDI, reafirma em mais um grande passo seu propósito de informar para transformar positivamente a sociedade – diz o vice-presidente Editorial do Grupo RBS, Marcelo Rech.
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A equipe é formada por nove repórteres e um editor, todos com experiência em investigação, mas cada um com habilidade em diferentes áreas, como infiltração jornalística, crimes do colarinho branco, desvios no serviço público, temas das áreas policial e política e bancos de dados.
– Poucas redações no mundo investem em um grupo de repórteres focado em investigações. Reportagens desse tipo exigem tempo: algumas levam meses para serem concluídas. Em compensação, são o tipo de jornalismo que tem mais poder de transformar, na sociedade, aquilo que está errado. Ao criar este time, as redações estão dando contribuição ainda maior à comunidade onde atuam – afirma a diretora de Redação de Zero Hora e jornais RS, Marta Gleich.
Matéria de lançamento traz alerta aos gaúchos
Na redação integrada de Zero Hora e Diário Gaúcho, os repórteres vão trabalhar em uma área reservada, modelo inspirado na equipe Spotlight, do jornal americano Boston Globe. Os demais integrantes vão produzir seus materiais nas redações da Rádio Gaúcha e RBS TV.
– Um grupo de investigação traz resultados diretos, lançando luz em realidade que normalmente poderia permanecer clandestina e motivar mudanças. Mas também é foco de desenvolvimento de técnicas de apuração que vão influenciar todas as nossas atividades. Importante também ressaltar que para manter este núcleo há um investimento em toda a cadeia de produção, em tecnologia, captação, edição capacitada e suporte jurídico – explica Cezar Freitas, diretor de Jornalismo da RBS TV.
A primeira reportagem produzida pelo grupo trata de uma grave questão ligada à agricultura e à saúde dos gaúchos e será publicada a partir de segunda-feira. O material foi produzido já com apuração conjunta e integrada entre jornal, rádio e TV.
Para o gerente de Jornalismo da Rádio Gaúcha, Cyro Martins Filho, a iniciativa vai qualificar o trabalho que hoje os veículos da RBS já fazem:
– Um grupo especial, dedicado a pautas especiais, certamente trará resultados especiais: é uma forma de centrar os esforços nesses resultados, que já temos hoje, mas de certa forma dispersa.
Para especialistas em comunicação, iniciativa fortalece imprensa nacional
A criação de equipe dedicada a reportagens aprofundadas, cuja apuração demanda mais tempo e recursos, reforça a estratégia do Grupo RBS de investir em jornalismo investigativo. A iniciativa, que tem modelos similares no mundo, é comemorada por especialistas e estudiosos da área da comunicação.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) avalia que o trabalho possa inspirar outras redações.
– A notícia da criação de um grupo de investigação jornalística só pode ser comemorada por aqueles que acreditam no poder da informação apurada com esmero e em nome do interesse público. A Abraji deseja vida longa à iniciativa, tão importante para o amadurecimento da imprensa e, por consequência, da democracia.
Torcemos para que o trabalho do grupo seja bem sucedido e inspire jornalistas e veículos por todo país – ressaltou Thiago Herdy, presidente da entidade.
Ação valoriza produção própria e aproxima público
Professor de jornalismo e pesquisador da Universidade de Brasília, Solano Nascimento avalia que a proposta pode contribuir para retomada da investigação jornalística que, segundo monitoramento feito por ele, está em queda desde o começo dos anos 2000. Nascimento cita a cobertura da Operação Lava-Jato como exemplo da falta de produção própria dos meios de comunicação:
– A Lava-Jato aprofundou dependência da denúncia no jornalismo da ação de agentes públicos. Se vê quase a substituição da investigação jornalística pela divulgação da ação desses agentes. Precisamos ter as duas frentes. A iniciativa (da RBS) surpreende positivamente.
Para Luciana Kraemer, ex-diretora da Abraji e professora de jornalismo investigativo da Unisinos, o projeto do Grupo de Investigação (GDI) tende a estimular colaboração da sociedade:
– O público está mais educado para fazer reflexão sobre a mídia, sabe identificar quando o jornalismo é feito com qualidade. A iniciativa qualifica a relação com o público. Está sendo firmado um contrato com o público ao dizer que esse grupo vai trabalhar focado no monitoramento do poder. É assim que vejo o jornalismo investigativo hoje. Seja o poder constituído ou os que não estão instituídos, mas que têm repercussão no dia a dia das pessoas.
COMO VAI FUNCIONAR
O SELO - Sempre que você vir esse selo nas reportagens, preste atenção: haverá uma denúncia importante que trata de assuntos com impacto direto na sua vida.
FALE CONOSCO - A proximidade com o público será característica marcante do GDI. Se você conhece um problema grave, mas que recebe pouca atenção, tem informações sobre crimes e irregularidades, tanto no setor público quanto no privado, não hesite em procurar o GDI. Envie denúncias e sugestões de pauta para o mail do Grupo de Investigação: gdi@gruporbs.com.br
NA INTERNET - Para centralizar os conteúdos produzidos pelo GDI, foi criada uma página dentro do site de ZH. Na capa você vai encontrar todas as reportagens publicadas pelo GDI, além do perfil dos 10 jornalistas que integram a equipe. No mesmo espaço, também haverá um acervo com outras matérias de impacto social feitas pelos repórteres antes da criação da equipe integrada. Acesse:
LANÇAMENTO - A primeira reportagem do Grupo de Investigação será publicada em série, a partir de segunda-feira, e trará alerta sobre um grave problema de segurança alimentar que afeta a vida dos gaúchos. A denúncia é resultado de três meses de exaustiva apuração jornalística. Saiba abaixo onde ler a reportagem que vai impactar a sua vida.
- Os dois jornais publicam a primeira reportagem em suas edições impressas de segunda-feira.
- Os assinantes do site da Zero Hora poderão acessar a reportagem a partir das 6h. No fim da tarde, a partir das 19h, serão antecipadas revelações do segundo dia da série.
- Repórteres do GDI que participaram da apuração vão estar no estúdio da Gaúcha para falar sobre o assunto no programa Atualidade, a partir das 8h10min. Os demais programas da rádio também irão repercutir a denúncia.
- O Jornal do Almoço, ao meio-dia de segunda-feira, leva ao ar reportagem com as primeiras revelações da série de lançamento do GDI. Às 19h10min, o RBS Notícias antecipa a segunda parte da denúncia.
INTEGRANTES DO GDI
EDITOR
Carlos Etchichury, 42 anos
Formado pela PUCRS, é editor-chefe do Diário Gaúcho. Em quase duas décadas como profissional do Grupo RBS, conquistou, como repórter de Zero Hora, mais de duas dezenas de prêmios, entre eles Esso (duas vezes), Embratel (três vezes), Direitos Humanos e Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Desde 2012, coordenou coberturas como a da tragédia da Boate Kiss e a crise na segurança.
REPÓRTERES
Adriana Irion, 44 anos
Formada em Jornalismo pela PUCRS, trabalha há 24 anos em Zero Hora. Repórter especial, atuou em diversas áreas, tendo como foco investigações nas editorias de Polícia e Política. Em 2012, foi uma das autoras da série Meninos Condenados, vencedora de cinco prêmios nacionais e internacionais, entre eles, o Prêmio Esso e o 2º Lugar do Prêmio Ipys.
Carlos Rollsing, 32 anos
Formado pela Unisinos, é repórter de ZH desde 2011. Iniciou na cobertura política e, depois, ampliou atuação para reportagens investigativas. Ganhou os prêmios principais da Petrobras e do MPT de Jornalismo.
Cid Martins, 45 anos
Formado pela UFRGS, atua desde 2001 na Rádio Gaúcha, nas áreas de investigação e polícia. Nesse período, fez curso de investigação jornalística na Alemanha. Em 20 anos de carreira, ganhou 105 prêmios, sendo o quinto profissional mais premiado do país e o primeiro entre os de rádio.
Fábio Almeida, 34 anos
Formado pela Unisinos, entrou em 2002 na Rádio Gaúcha e, em 2009, passou a repórter investigativo da RBS TV. Está na lista dos jornalistas mais premiados do Brasil, com mais de 40 prêmios nacionais e os internacionais José Hamilton Ribeiro e Rey de España.
Giovani Grizotti, 43 anos
Formado pela PUCRS, acumula mais de 50 prêmios. Foi indicado quatro vezes ao prêmio de jornalismo investigativo americano, o IRE Awards. É repórter da RBS TV e faz reportagens especiais para o Fantástico, como a que revelou a Máfia das Próteses. Ganhou duas vezes o Esso de TV.
Humberto Trezzi, 54 anos
Jornalista formado pela PUCRS, soma mais de seis dezenas de prêmios nos 32 anos de carreira. Está há 28 anos em ZH, atuando sobretudo na cobertura de segurança e investigação. Ganhou dois prêmios Esso.
Jeniffer Gularte, 26 anos
Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), começou a carreira em 2010 no jornal Gazeta do Sul, da mesma cidade. Desde 2014, é repórter de Geral do Diário Gaúcho, e atua utilizando, principalmente, dados e informações obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Jonas Campos, 46 anos
Jornalista formado em 1994 pela Unisinos, em São Leopoldo. Repórter da RBS TV, desde 1996 faz reportagens especiais para o Jornal Nacional. Já trabalhou na Rádio Gaúcha, na TV Iguaçu (SBT) em Curitiba, depois da TV Liberal, em Belém, e na TV Centro América, em Cuiabá, (ambas afiliadas da Rede Globo). Ao longo carreira, recebeu diversos prêmios como ARI, Embratel e Esso.
José Luís Costa, 52 anos
Jornalista formado pela Unisinos, é repórter de Zero Hora desde 1998. Conquistou 11 prêmios com matérias investigativas, entre os quais o ARI, em 2009 e em 2012, além do Prêmio Esso Regional Sul, também em 2012, e o segundo lugar no Prêmio Latinoamericano de Periodismo de Investigação. Em 2013, venceu o Prêmio Esso com a reportagem "Os arquivos secretos do coronel do DOI-Codi". A reportagem que desvendou duas das maiores farsas montadas durante a ditadura.
Inspiração premiada
O Spotlight, do jornal Boston Globe, é a mais antiga equipe de jornalistas investigativos dos EUA. O grupo ficou internacionalmente conhecido em fevereiro, quando Spotlight – Segredos Revelados ganhou o Oscar de melhor filme.
A produção conta os bastidores de uma série de reportagens, publicada em 2002, que identificou 250 padres abusadores e uma rede de proteção aos sacerdotes ligados à Arquidiocese de Boston. O trabalho também venceu o prestigiado Prêmio Pulitzer.
Em outubro, ao participar do Festival Piauí GloboNews de Jornalismo, o americano Walter Robinson, ex-editor do Spotlight, disse em entrevista a Zero Hora:
– A democracia não funciona em lugar algum sem forte imprensa livre, que faça as perguntas certas. Particularmente, o que chamo de jornalismo de responsabilidade, reportagens que realmente fazem
um mergulho profundo e que respondem às perguntas que os políticos não irão responder. E que abordem histórias que as instituições que cobrimos querem manter em segredo. Isso tem um valor.
Outros Exemplos
A partir da experiência do Boston Globe, com o grupo Spotlight, outros jornais americanos reorganizaram seus processos nas redações com objetivo de alocar mais recursos para investigação.
- O The New York Times, dos Estados Unidos, conta com seis repórteres dedicados exclusivamente à investigação. Eles ficam integrados à editoria Metro, que cobre a cidade e a região metropolitana de Nova York.
- Milwaukee Journal Sentinel, da cidade de Milwaukee, Estado de Wisconsin, conta com grupo separado da redação, com 12 jornalistas. A unidade se chama Watchdog, palavra do inglês que significa "cão de guarda" e caracteriza o jornalismo investigativo.
- No Post and Courier, de Charleston, Carolina do Sul, quatro dos seus 72 jornalistas são dedicados a reportagens investigativas. O periódico venceu o Prêmio Pulitzer de Jornalismo em 2015 com apuração sobre violência doméstica.
- Na América Latina, grandes jornais como Clarín, da Argentina, e El Universal, do México, têm equipes próprias de investigação e de jornalismo de dados.