O rastreamento do furto de um telefone celular na Rua Voluntários da Pátria, no centro de Porto Alegre, revelou situação surpreendente: o aparelho foi parar no Centro Administrativo do Estado, sede operacional do governo. Registrado em vídeo exibido pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (21), o furto foi praticado por uma funcionária terceirizada do Piratini e por um servidor do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) da prefeitura de Porto Alegre.
A descoberta foi possível porque a equipe da RBS TV montou uma "isca" em um celular. O especialista em tecnologia Ronaldo Prass instalou no aparelho um aplicativo espião que revela tudo o que acontece com o celular, capturando remotamente áudios e vídeos, além de registrar localização, chamadas recebidas, originadas e até a rede wifi na qual o telefone está conectado. Depois, o repórter Giovani Grizotti colocou o celular à mostra, no compartimento externo de uma mochila, e saiu a caminhar por ruas da capital gaúcha e São Paulo.
Câmeras escondidas na mochila e do alto de um prédio na Voluntários registravam tudo o que acontecia. Até que um casal se aproximou do repórter, no centro de Porto Alegre. Com capa amarela, o celular que poderia ser visualizado a metros de distância chamou a atenção da mulher, identificada como Nara Jaqueline Rodrigues. Em seguida, o homem que a acompanhava, Paulo Vilnei Abadie, furtou o celular. Para despistar, ele usou um jornal dobrado, impedindo que o momento do ataque fosse visto por quem passava pela rua. A tática é comum entre os batedores de carteira.
Nos momentos seguintes ao crime, o rastreamento do telefone mostrou que Paulo e Nara caminharam pelo Centro até uma parada de ônibus da Avenida João Pessoa. Depois, o aparelho foi desligado. Mas voltou a funcionar à noite, em um endereço da Zona Leste, próximo ao Presídio Central. Foi quando a dupla instalou um novo chip, fato imediatamente informado pelo aplicativo espião. Um vídeo gravado remotamente pela ferramenta revela que ambos desconfiaram que estavam sendo seguidos.
— Fiquei eu e o cara (repórter) vindo. E entrei na farmácia. Esperei ele passar. Eu tu não vai pegar, vou embora — disse Nara.
Paulo respondeu.
— Ele (o repórter) identificou a camisa, eu tirei — contou.
No dia seguinte, no final de novembro, o aplicativo espião registrou no mapa o caminho feito pelo telefone entre a casa de Nara e o local de trabalho dela. Entre 9h e 15h, o aparelho teve apenas pequenos movimentos. Ficou o tempo todo no Centro Administrativo do Estado.
Ainda pela ferramenta, o repórter soube que o celular estava conectado por uma rede de internet sem fio identificada como CEEE. Por dedução, concluiu que se tratava da rede do Conselho Estadual de Educação do Estado, que funciona no sexto andar do prédio.
Novo tipo de clonagem
Cada vez mais sofisticados e caros, ladrões têm apostado cada vez mais no furto e roubo de telefones celulares como fonte de lucro. A ponto de as autoridades policiais afirmarem que muitos assaltantes que antes atuavam nos mercados da droga e de carros roubados, por exemplo, migraram para este segmento.
É o que afirma o delegado Alencar Carraro, que comanda força-tarefa especializada no combate a assaltos a ônibus. Ele diz ter ouvido relatos, em conversas informais com criminosos presos, de que a "concorrência" em outros "mercados" seria maior.
— No roubo ao transporte coletivo, devido a grande quantidade de passageiros, e hoje praticamente todo mundo tem um telefone celular, isso fez com que seus lucros aumentassem muito. Então, abandonaram essas outras atividades criminosas — afirma Carraro.
O delegado diz que ladrões miram os telefones dos passageiros em 90% dos assaltos a ônibus e lotações que acontecem em Porto Alegre. Muitas vezes, usam armas de choque para intimidar as vítimas. Vídeos revelados pela polícia mostram os ladrões invadindo os coeltivos e fazendo verdadeiros arrastões, colocando os smartphones de passageiros em mochilas e deixando os veículos rapidamente.
A maioria dos aparelhos levados nesse tipo de ação, acredita a polícia, vai parar no mercado paralelo que funciona a céu aberto no centro de Porto Alegre, na região onde o casal de ladrões furtou o celular do repórter da RBS TV.
O aplicativo
O app usado nessa reportagem é pago e focado em empresas. Deve ser instalado por um especialista. Se você for alvo de roubo ou furto, procure a Delegacia de Polícia mais próxima ou a Brigada Militar. A Polícia Civil destaca que vítimas não devem perseguir ladrões.