Com mais de 50 anos de carreira e consagrada nos festivais do Rio Grande do Sul, a cantora Maria Luiza Benitez é uma das precursoras do Movimento Nativista. Formada em Direito e em História, também é compositora, atriz, mestre de cerimônias, radialista e apresentadora de televisão.
Maria Luiza, ou melhor, Malu, como gosta de ser chamada, está com 71 anos. Na sua trajetória, já recebeu o troféu Mulher Farroupilha e a medalha do Mérito Farroupilha. Em março deste ano, foi eleita patrona dos Festejos Farroupilhas, sendo a quinta mulher a ser representante.
Em entrevista à GZH, a artista fala sobre esse reconhecimento, mais espaços para as mulheres, o passado e planos para o futuro. Confira:
Quais são suas origens nas tradições gaúchas?
A minha família é muito tradicionalista e tem uma relação com a cultura latino-americana. A minha mãe e o meu avô eram uruguaios e, do lado do meu pai, meu outro avô e outro bisavô eram argentinos. Então, essa coisa do folclore está dentro de mim. Desde os quatro anos de idade, vestida de prenda, cantava em programas de auditório de folclore em Bagé, aqueles mesmos que a Mary Terezinha participava. Fui crescendo nesse ambiente.
Sou uma guria criada em campanha, passeava em uma carrocinha pequenininha e brincava de ninar e trocar fralda com cachorros. Foi assim que me criei. Musicalmente, fui inspirada pelos irmãos e também quando escutei Adeus Mariana, de Pedro Raymundo. Depois, veio o Teixeirinha, quando eu tinha sete anos. Quando passei a tocar violão, com uns 16 anos, cantava em CTG. Me lembro que tinha um vestido de renda, meia canela, copiei da Inezita Barroso. Era muito fã dela, me vestia igual. Foi a primeira vez que ouvi uma mulher cantando música gaúcha.
Me sinto honrada de estar nesse meio, de ter conquistado e de sempre ir atrás.
MARIA LUIZA BENITEZ
Patrona dos Festejos Farroupilhas
Como foi ter sido escolhida como patrona dos Festejos Farroupilhas?
É um dos maiores prêmios que recebi. Para mim, é uma honra muito grande ser patrona e ter sido eleita por unanimidade para conduzir a Semana Farroupilha e representar o nosso Rio Grande do Sul. Isso ao lado de outras mulheres que já foram escolhidas, como Liliana Cardoso, a primeira patrona negra. Apesar desse reconhecimento, os cachês das mulheres ainda não são os mesmos que os dos homens. Sou uma das vozes que levanta isso desde o início, tenho realizado reuniões para chamar a atenção pelo nosso espaço.
E como está essa busca por uma melhor visibilidade para as mulheres?
Ao ser anunciada como patrona dos Festejos Farroupilhas, nos meus discursos, tanto no Palácio Piratini como no acendimento da Chama Crioula, chamei a atenção para os insensibilizados da Revolução Farroupilha, as mulheres e os indígenas. Também fiz referência às duas mulheres presidentes do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), a primeira, Gilda Galeazzi, e a atual, a Ilva Goulart. Então, graças a Deus, estão abrindo as portas para nós. É uma luta contínua, mas ainda é preciso mais mulheres participativas e com voz ativa. Foi dessa forma que conquistei o meu espaço, a ferro e fogo. Eu tive orgulho de escutar do próprio Jayme Caetano Braun: “Tu és a única mulher que pode cantar minhas músicas”. Tenho uma satisfação muito grande de alguns companheiros músicos terem feito homenagem fazendo música para mim, como o Algacir Costa, pai do Yamandu Costa, que fez uma melodia. Então, me sinto honrada de estar nesse meio, de ter conquistado e de sempre ir atrás.
Na sua visão, como está o cenário atual da música tradicionalista gaúcha?
Podíamos estar melhor se ficássemos mais unidos. Se tivéssemos a união que nem a dos sertanejos, poderíamos ganhar o mundo. Acredito que faltam produtores que tenham olhos para os tesouros que existem no Rio Grande do Sul.
E quais são seus próximos planos na música?
Vou focar no meu novo trabalho, um EP que se chamará Pacha Mama. Acredito que no mês de novembro poderei me dedicar mais. Já estou com os músicos engatilhados, um deles é o João Carlos Godoy, violonista que trabalha comigo. Nesse disco, terá uma música do Antonio Tarragó Ros, tão linda, feita no festival da Barranca, em São Borja. É apaixonante, me põe às lágrimas. Ao terminar o disco, farei shows no Rio Grande do Sul e em outros Estados.