O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) tem, oficialmente, uma nova presidente. A alegretense Ilva Maria Borba Goulart, 66 anos, recebeu, no dia 30 de junho, o aval do Conselho Diretor do MTG para assumir o cargo, após o falecimento de Manoelito Carlos Savaris.
Antes, Ilva era a vice-presidente de Administração e Finanças da entidade. Durante 13 gestões, ela foi coordenadora da 4ª Região Tradicionalista e também fez parte do Conselho Diretor. Em parceria com Sonia Abreu, Lilian Argentina Braga Marques e Maria Izabel Trindade de Moura, foi coautora do livro Indumentária Gaúcha do MTG. Ela fundou e foi patroa do Grupo Nativista Ibirapuitã, além de posteira cultural do CTG Aconchego de Caranchos e da 4ªRT.
Ilva conversou com GZH para compartilhar um pouco da sua história no movimento e também os planos para a gestão.
Quem é a Ilva e como se envolveu no tradicionalismo?
Ilva Goulart – Sou do interior de Alegrete, nasci em Passo Novo, que é um distrito. Comecei minha vida no tradicionalismo no CTG Quero-Quero, no Passo Novo, com 12 anos. Eu entrei no movimento tradicionalista pela parte artística e cultural, que foi sempre o que me chamou atenção. Embora meu pai fosse produtor rural do campo e eu, desde pequena, sempre andando a cavalo e em contato com as lidas campeiras. Dancei 35 anos, em todos os Enarts (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha), aliás, Fegarts (Festival Estadual Gaúcho de Arte e Tradição), em Farroupilha. Já comecei na Adulta (categoria), naquela época poucos iam para a Juvenil. Com 14 anos, já dançava no grupo adulto.
Como surgiu o Grupo Nativista Ibirapuitã?
Ilva – Quando eu e a maioria da gurizada fomos estudar no Alegrete, que é a 30 quilômetros do Passo Novo, não tínhamos onde dançar. Não conhecíamos os CTGs. Então, fundei o Grupo Nativista Ibirapuitã, só para dançar. Ouvíamos muito, e não é muito diferente hoje, que artística fica em segundo plano das entidades. Eram montados grupos de dança para fundar a entidade, mas depois iam lidar com a campeira, com rodeios, com laço, com as outras coisas. A artística ficava de lado. Isso me deixava muito intrigada. O estatuto do Grupo Ibirapuitã é estritamente cultural e artístico. Fui patroa lá bem guria. Mas não queria ser patroa, queria dançar. Depois colocamos uma patronagem de fora. Fui parar de dançar no CTG Aconchego dos Caranchos, onde fui posteira cultural.
Outro marco da sua trajetória é a coautoria do livro Indumentária Gaúcha do MTG. Como foi o desenvolvimento?
Ilva – Sou formada e tenho pós-graduação em História. Fui chamada pelo Manoelito para trabalhar a parte da indumentária. Mas falei que não tinha condições de avaliar as indumentárias, aí ele trouxe Sonia Abreu e Lilian Argentina Braga Marques, duas folcloristas renomadas, que me ensinaram e aprendi com elas a fazer pesquisas. Fui coautora do livro e agora estou em um sobre o charqueador. Sou muito apaixonada pelas roupas, aquelas que tu não mostra. Eu sabia que existia a roupa do estancieiro e sabia que tinha que existir a roupa do charqueador, diferente. Por que não era mostrada? Fui até os locais fazer a pesquisa.
Quando ingressou na diretoria do MTG?
Ilva – A minha caminhada no MTG foi bem pedregosa e eu tenho tristezas. Eu estava há 13 anos na coordenadoria da 4ª RT, e o Manoelito me pediu para entregar a coordenação para ser vice da Elenir (na chapa de 2020). Depois, o Manoelito monta a chapa, chama os mesmos vices e vencemos (para o biênio de 2021/2022 e, consecutivamente, de 2023/2024).
Como pretendes deixar tua marca?
Ilva – A minha meta é deixar o movimento organizado e saneado. Vamos cumprir com isso e entregar o movimento para quem chegar, aqui, conseguir seguir administrando na maior tranquilidade. E meu maior sonho é entregar o movimento para uma chapa.
Além da frente tradicionalista, tu és presidente de uma escola de samba?
Ilva – Sou presidente da Escola de Samba Unidos dos Canudos de Alegrete, que é a maior da cidade. A única que tem sede própria. Nossa bateria tem 120 componentes e temos um projeto com a gurizadinha do bairro, que eu me emociono vendo os gurizinhos aprendendo a tocar cuíca. Levo minha escola para a Avenida e já ganhamos inúmeros carnavais. Esse ano ficamos em terceiro lugar. Pela parte cultural acho legal (a atuação no tradicionalismo e no Carnaval). Temos conselheiros, integrantes e grupos de dança com grande influência de afrodescendentes, alemães, italianos. Temos que juntar o povo que formou o Rio Grande e precisamos caminhar juntos.